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Racha interno causará fim do regime de Maduro na Venezuela, diz diretor de jornal opositor

Após 75 anos, El Nacional encerra sua edição impressa por falta de papel

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Buenos Aires

O jornal mais tradicional da Venezuela, El Nacional, publicou sua última edição impressa no último dia 14, após circular por 75 anos. Crítico à ditadura de Nicolás Maduro, o diário “usava distintas estratégias para driblar pressões do regime, e conseguimos até onde foi possível”, disse o diretor da publicação, Miguel Henrique Otero, 71.

O jornal, agora, voltará sua atenção para a edição digital, “até que a situação política e econômica mude”. “Temos a esperança de voltar a publicar em papel”, afirmou Otero, que conversou com a Folha, por telefone, de Madri.

Otero se exilou, primeiro nos EUA e depois na Espanha, por conta de uma ação judicial. Em 2015, ele foi processado por Diosdado Cabello, vice-presidente do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), por ter reproduzido um artigo do diário espanhol ABC que relacionava o chavismo com o narcotráfico.

O venezuelano Miguel Henrique Otero na edição deste ano do Fórum da Liberdade, em Porto Alegre André Ávila-09.abr.2018/ RBS - André Ávila-09.abr.2018/RBS

Otero contou como foi a queda de braço com o regime nos últimos 15 anos: “Um dos pilares do sistema é a hegemonia comunicacional, como em Cuba, e que começou a ser aplicada primeiro à TV e às rádios, que dependem de concessões públicas. As mais críticas foram expropriadas, e hoje temos todas as emissoras alinhadas ao governo.”

Com os jornais, a estratégia foi diferente, por serem propriedade privada. Primeiro, afirma Otero, a indústria já enfrentava uma crise por conta da queda da atividade comercial, que nos últimos chegou a 40%, o que contribuiu muito para a queda em número de anunciantes. 

“Se não há mais atividade privada, não há anúncios”, resume o diretor do jornal.

O principal, porém, foi o enfrentamento com o regime de Maduro no que diz respeito à compra de dólares para adquirir papel-jornal, que a Venezuela não produz e, portanto, tem de importar.

Como a diferença entre o dólar oficial e o paralelo é imensa, o regime liberava a compra de dólares pelo valor paralelo apenas para as publicações alinhadas ao governo. Jornais de oposição, como o El Nacional, tinham de comprar pelo valor do dólar oficial, muito mais caro. Nesse processo, mais de 70 publicações locais do país desapareceram.

O Nacional, que já teve, por exemplo, um dos principais suplementos culturais de jornais latino-americanos, teve de cortar seções e eliminar cadernos. Chegou a circular com apenas 15 páginas.

Jornalistas na redação vazia do jornal El Nacional, que publicou sua última edição impressa na sexta-feira (14) - Manaure Quintero-14.dez.2018/Reuters

“Nós víamos que essa situação ia se agravar, e há anos estocávamos papel. Também recebemos ajuda de outros jornais latino-americanos, que doaram ou forneceram papel a preços mais acessíveis. Só que não podemos seguir assim. O estoque acabou, e não dá para fazer o jornal só com doações.”

Otero não vê uma saída para o país que passe pela atual oposição. “Está fragmentada, e seu pior erro foi achar que podia negociar com Maduro. A saída agora está em que o regime se fragmente por dentro”, diz. “E isso já está acontecendo.”

“As Forças Armadas já têm um setor rebelado. Há 250 oficiais de médio e alto escalão presos. Na Nicarágua não existe isso, nem em Cuba. É um problema imenso para Maduro se os militares forem abandonando o regime.”

O publisher também vê esperanças na mudança de governo nos países vizinhos, com Iván Duque na Colômbia, e Jair Bolsonaro no Brasil. “O panorama para Maduro se complica, pois são presidentes que terão atitude mais dura em relação a ele.”

Otero crê que também o resto da região está se preocupando muito com uma diáspora que apenas aumenta.

“Logo serão 5 milhões ou 6 milhões  de venezuelanos fora do país, desestabilizando a todos. Por isso creio que a pressão internacional vai passar a ter mais peso.”

Sobre o desânimo da população, que parece não ter mais energia para ir às ruas em massa como fez em 2017, durante a campanha contra a eleição da Assembleia Constituinte, Otero crê que seja natural por conta da imensa repressão que houve. 

“Mas toda hora há algum tipo de protesto, não creio que exista resignação. O caso é que agora estão faltando coisas básicas, e as manifestações são, então, pontuais. São por falta de água, por falta de gás. Não têm o volume das outras, é claro, mas são também debilitadoras para o regime”, diz.

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