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Feministas voltam às ruas pela legalização do aborto na Argentina

Manifestações foram convocadas na capital e em mais de cem cidades

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Buenos Aires

Dez dias antes de o presidente Alberto Fernández apresentar um projeto de lei que regulariza o aborto na Argentina apenas pela vontade da mulher, até a 14ª semana de gestação, a praça diante do Congresso Nacional, em Buenos Aires, foi tomada pelos "lenços verdes" nesta quarta-feira (19).

Símbolo das feministas a favor da legislação, o lenço é inspirado nas Mães e Avós da Praça de Maio, que usavam em seus protestos um lenço branco na cabeça, com os nomes de seus filhos ou netos desaparecidos.

A proposta de mudança na legislação foi uma das promessas de campanha do presidente —e a razão pela qual vários movimentos feministas e de direitos humanos deram apoio à sua candidatura.

Ativistas levantam lenços verdes, símbolo do movimento pela legalização do aborto na Argentina - Agustin Marcarian/Reuters

O ato teve início às 17h em Buenos Aires e em mais de cem cidades argentinas. Como convidadas especiais, estiveram as chilenas que integram o coletivo Las Tesis, que inventou uma coreografia que viralizou na internet em que cantam contra "o patriarcado" e a violência contra a mulher.

Elas comandaram a execução da coreografia "O Estuprador É Você", com a ajuda de um telão que projetava a letra da música para que todos cantassem juntos.

Uma das integrantes, Sibila Sotomayor, disse à Folha que o grupo não esperava a repercussão que a coreografia teve.

"Nunca imaginamos que teria traduções para o turco, para o grego, para o inglês. Nós estamos felizes, mas falta muito. Por isso viemos apoiar as argentinas, que estão muito engajadas nesse tema do aborto."

Enquanto a tarde caía, mais grupos chegavam para encher a praça —havia homens, principalmente jovens, mas as mulheres eram a maioria. Muitas traziam inscrições nos braços, nos rostos e no peito, que pediam "aborto legal e gratuito" ou repetiam o slogan "será lei".

Por volta das 20h15, começou o "pañuelazo", quando a multidão agitou os lenços verdes gritando: "Vai ser lei, vai ser lei" e outros slogans da campanha pró-aborto. 

Havia mulheres de várias idades, mas preponderavam as mais jovens. Estavam presentes as fundadoras do grupo Ni Una Menos (nem uma a menos), formado em 2014, e intelectuais que apoiam a ideia, como a escritora Claudia Piñeiro.

Manifestantes se reúnem perto do Congresso Nacional, em Buenos Aires, para pedir legalização do aborto - Emmanuel Fernández/Clarin

"A ideia de fazer diante do Congresso é porque queremos dar visibilidade aos legisladores. Já perdemos aqui, uma vez, por muito pouco, mas a situação era diferente, o presidente então era Mauricio Macri, que não apoiava a lei. Alberto está com a nossa causa", diz Luz Arbeloa.

O projeto de lei que Fernández enviará ao Congresso será um pouco diferente daquele que chegou a ser aprovado pela Câmara de Deputados, mas foi vetado pelo Senado, por poucos votos, em 2018.

O presidente disse, no começo do mês, que a abordagem tentará evitar o "clima de Boca x River entre os contra e a favor e que seja acompanhada de uma discussão séria com foco na saúde pública".

"Nossa lei vai acabar com a penalização do aborto e dará toda a atenção ao aborto nos centros públicos de saúde, gratuitamente." 

O Executivo mandará também outro projeto ao Congresso, conhecido como "plano dos mil dias", que será votado separadamente.

A proposta prevê que a mulher que resolve abortar por razões econômicas (mas diz que gostaria de manter a gravidez) seja bancada e apoiada pelo Estado em todos os estágios da gestação e nos primeiros meses de vida do bebê.

A lei argentina hoje contempla o aborto em apenas dois casos: risco de morte da mãe e estupro. As penas para quem aborta de modo clandestino vão de um a quatro anos de cadeia.

Segundo organizações feministas, são realizados 400 mil abortos clandestinos no país a cada ano —e trata-se da principal causa de morte materna.

Os que são contra a lei também já estão se movimentando. Na semana passada, fizeram sua manifestação em Luján, cidade de peregrinação religiosa, portando os lenços celestes —símbolos da campanha antiaborto.

Uma marcha desse grupo para pedir que o governo não siga adiante com a ideia está programada para o dia 8 de março, com o lema "sim para as mulheres, sim para a vida".

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