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Taiwan acusa China de barrar acordo com empresa alemã para compra de vacinas contra Covid

Ilha afirma que contrato para receber imunizantes da BioNtech/Pfizer está pronto, mas pressão de Pequim impede que negócio seja fechado

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São Paulo

A China agiu para impedir que Taiwan fechasse um acordo com a empresa alemã BioNTech para o fornecimento de vacinas contra a Covid-19, afirmaram nesta quinta-feira (27) autoridades taiwanesas.

Embora o governo do território disputado já tenha reclamado outras vezes do vizinho, é a primeira vez que ele acusa diretamente Pequim de ter bloqueado o fornecimento do imunizante.

“Taiwan estava próximo de fechar um acordo com a fábrica alemã, mas, devido à intervenção da China, ainda não podemos assinar o contrato”, afirmou a presidente Tsai Ing-wen durante uma reunião de seu partido, de acordo com o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

Morador de Taipé, capital de Taiwan, faz teste rápido para Covid-19 depois da alta de casos - Ann Wang - 25.mai.21/Reuters

O racha entre os dois lados, que remonta à guerra civil, tem se intensificado nos últimos meses em meio à pandemia de coronavírus —Pequim não reconhece a legitimidade do governo taiwanês e reivindica a ilha como seu território, o que, inclusive, teria levado a BioNTech a pedir que Taiwan não utilizasse a palavra “país” nos comunicados sobre a negociação por doses, disse o ministro da Saúde da ilha, Chen Shih-chun.

Segundo ele, os dois lados negociaram por dois meses a compra dos imunizantes, produzidos em parceria entre a empresa alemã e a americana Pfizer, e estavam próximos de um acordo no dia 8 de janeiro. “De repente, a BioNTech enviou uma carta na qual recomendava enfaticamente que mudássemos a expressão ‘nosso país’ na versão em chinês do comunicado”, afirmou Chen durante entrevista coletiva nesta quinta.

De acordo com a pasta, o pedido foi enviado apenas quatro horas antes do horário em que estava programado o anúncio oficial do acordo. O governo aceitou a mudança, substituindo o termo em questão por “Taiwan”, mas uma semana depois a BioNTech informou que a assinatura do contrato teria que ser adiada por mudanças no cronograma de fornecimento dos imunizantes.

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“Está muito claro para mim que o contrato estava fechado”, afirmou o ministro. “O problema é algo fora do contrato.” Diferentemente da presidente, porém, Chen não acusou diretamente a China pela ação.

A BioNTech afirmou que não se manifesta sobre negociações em andamento, e o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, também não quis responder às acusações das autoridades taiwanesas, mas afirmou que não há nenhum impedimento para a ilha receber vacinas chinesas.

O conglomerado chinês Fosun Pharma, com sede em Xangai, assinou no ano passado um acordo com a BioNTech pelo qual seria a fornecedora exclusiva dos imunizantes da empresa alemã na China, em Hong Kong, em Macau e em Taiwan. Nesse cenário, o Escritório de Assuntos de Taiwan do governo chinês afirmou apoiar uma iniciativa feita por duas entidades privadas chinesas para oferecer vacinas para a ilha.

Embora o nome das duas instituições não tenha sido revelado oficialmente, a especulação é que a oferta foi feita pela própria Fosun Pharma e por uma de suas subsidiárias. O governo de Taiwan confirmou ter recebido a proposta e que a recusou porque a China não está sendo transparente no caso e não revela se as vacinas que iriam para a ilha seriam da BioNTech ou de outro fornecedor.

Esse novo capítulo na troca de farpas entre Pequim e Taipé tem ganhado cada vez mais relevância porque a quantidade de casos e de mortes por coronavírus disparou na ilha nas últimas semanas. Em apenas um mês, o total de mortes acumuladas em Taiwan —que por muito tempo foi exemplo no combate à pandemia— quase quadruplicou, indo de 12 óbitos no fim de abril para 46 atualmente. No mesmo período, o total de casos acumulados pulou de 1.110 para 6.356.

Para piorar, a ilha vacinou até o momento apenas 1% de seus 23 milhões de habitantes —todos com doses da AstraZeneca/Oxford, recebidas por meio do consórcio Covax, iniciativa global promovida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para facilitar o acesso a imunizantes. Como Taiwan não é reconhecido pela maioria dos países e das entidades internacionais, tem encontrado dificuldade em obter vacinas.

Derrotados pelas forças comunistas em 1949 na guerra civil, os chamados nacionalistas chineses —que defendiam um modelo capitalista para todo o país— fugiram para a ilha de Taiwan, onde estabeleceram um governo próprio, o que criou a divisão que perdura até hoje. Nesse cenário, Pequim considera que a ilha é uma província rebelde, enquanto o governo de Taiwan se declara um país independente. Por isso, o governo chinês se recusa a ter relações diplomáticas com países ou entidades que reconhecem Taiwan.

Dada a importância da China no cenário internacional, a postura acaba por isolar a ilha, que não faz parte da OMS ou da ONU e é reconhecida apenas por uma dezena de países —Brasil, EUA, União Europeia, Rússia e Japão, por exemplo, não reconhecem Taiwan, embora muitos mantenham relações extraoficiais.

Nesta semana, o governo da ilha já tinha reclamado por não ter sido convidado para participar de uma reunião de cúpula da OMS para discutir a resposta à pandemia. Mesmo sem fazer oficialmente parte da entidade, Taiwan poderia ter sido convidado a participar como observador, mas isso não aconteceu.

“Como organismo profissional internacional de saúde, a OMS deve buscar a saúde e o bem-estar de toda a humanidade, e não ceder aos interesses de um determinado membro”, disse na terça (25) um comunicado conjunto dos ministérios de Saúde e de Relações Exteriores de Taiwan, em referência à China.

O governo da ilha também tem acusado o rival de usar as vacinas como arma diplomática. Em abril, por exemplo, Taiwan disse que Pequim ofereceu imunizantes contra a Covid-19 ao governo do Paraguai em troca do fim do apoio diplomático do país sul-americano à ilha. O Paraguai é um dos 15 países que ainda mantêm laços formais com Taiwan no mundo, apesar da pressão chinesa.

Na ocasião, o chanceler taiwanês, Joseph Wu, afirmou que o regime de Xi Jinping está "flexionando os músculos" com sua diplomacia de vacinas, especialmente na América do Sul e Central, onde estão alguns dos principais aliados remanescentes de Taiwan. Pequim negou todas as acusações.

Com Reuters

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