Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Descrição de chapéu Coronavírus

Pequim investe em diplomacia das vacinas enquanto imuniza chineses

China oferece ajuda durante a crise, e dividendos virão

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Nas últimas semanas, multiplicaram-se anúncios de envio de vacinas chinesas contra a Covid-19 para a África. Teriam sido 300 mil doses para o Egito, 200 mil para o Zimbábue, 100 mil para a República do Congo, 50 mil para Seychelles. Marrocos, Argélia e o próprio Egito já teriam recebido lotes.

Os números representam uma gota no oceano para as necessidades africanas. Mas o simbolismo não é pequeno. Na hora difícil, a China ofereceu ajuda. Os dividendos virão.

O primeiro-ministro do Moçambique, Carlos Agostinho do Rosario (esq.), e o embaixador da China no país africano, Wang Hejun, em frente a lote de vacinas contra a Covid-19 doado por Pequim
O primeiro-ministro do Moçambique, Carlos Agostinho do Rosario (esq.), e o embaixador da China no país africano, Wang Hejun, em frente a lote de vacinas contra a Covid-19 doado por Pequim - Ge Peiyao - 24.fev.21/Xinhua

Um editorial do China Daily diz que a China já forneceu vacinas para 53 países e exportou para outros 22.

Enquanto isso, o mundo desenvolvido está olhando para dentro, e o nacionalismo da vacina tem se tornado esporte cada vez mais popular. O Canadá, por exemplo, garantiu um volume de imunizantes cinco vezes superior à necessidade da sua população. Para os países pobres, o fim da fila.

De olho nos chineses e também nos russos, com sua Sputnik V, Emmanuel Macron propôs que EUA e Europa alocassem até 5% dos seus estoques de vacinas para países em desenvolvimento. Os EUA de Biden rapidamente rejeitaram a ideia.

O cálculo político nos países desenvolvidos tem favorecido a lógica do salve-se quem puder. Enquanto isso, ameaçando os esforços de vacinação também no mundo rico, novas variantes do Sars-CoV-2 insistem em nos lembrar o vírus não pode correr solto em lugar nenhum.

O cálculo na China a respeito da vacinação é outro —e pouco claro, deve-se dizer. Com uma rapidez fenomenal, o país construiu hospitais de campanha e desenvolveu ao menos três vacinas contra a Covid-19. No entanto, não parecer haver a mesma pressa para vacinar a população local.

A meta aqui era imunizar 50 milhões até meados de fevereiro. O número é alto, mas representa apenas 4% dos chineses. Na mesma época, o Reino Unido pretendia ter 22% da população vacinada.

As previsões oficiais indicam que a China produzirá doses suficientes para imunizar 70% da sua população até o fim do ano. No entanto, a prioridade não será essa. A China vai usar parte —que parte, não se sabe— para a vacinação de outros países.

Com a pandemia neste momento sob controle, a ansiedade pela vacina aqui é menor. Mas, claro, vacinar os chineses ajuda evitar que o problema ressurja.

Pequim investe na vacina como parte do discurso e da atuação diplomática do país. Ao mesmo tempo, acelera a produção de doses. E vacina os locais —mas não em ritmo chinês.

A avaliação de Pequim é que, nas circunstâncias atuais, investir em diplomacia da vacina agora vale a pena. Em paralelo —e não antes—, imuniza sua população.

A aposta no soft power das vacinas embute seus riscos. As vacinas prometidas precisam ser entregues —de preferência, sem atrasos. Os imunizantes precisam dar os resultados esperados, e o esforço de RP precisa ser comedido. A China será vista com desconfiança se vender a preços altos demais. E se fizer doações em volumes que pareçam pequenos demais.

Evidentemente, a diplomacia da vacina chinesa causa incômodo entre os países ricos. No entanto, de mãos vazias, eles não conterão a influência da China na África, ou no mundo desenvolvido em geral. Pior, o discurso anti-China soa hipócrita vindo de quem pratica nacionalismo da vacina.

À medida em que a cobertura vacinal nos EUA e na Europa atinja bons níveis, é provável que passem a prestar mais atenção no resto do mundo. Chegarão atrasados e encontrarão, especialmente na África, países mais simpáticos à China.

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