Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Sem vacinas nem relações diplomáticas com a China, Paraguai pondera sobre 'custo Taiwan'

Sucumbir aos interesses chineses pode ser visto antes como sinal de fraqueza do que de pragmatismo

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Pergunte quais os interesses da China na América Latina e Caribe (ALC), e a resposta de qualquer especialista incluirá comércio e investimentos. Com muita frequência, no entanto, desconsidera-se um assunto vital aos chineses: Taiwan.

A ALC concentra um número desproporcionalmente alto de países que mantêm relações diplomáticas com o que Pequim vê como uma província rebelde. Dos apenas 14 países que hoje reconhecem Taiwan, 9 estão na região. Panamá, República Dominicana e El Salvador estabeleceram laços com a República Popular da China entre 2017 e 2018, mudando de lado.

Pacientes com Covid-19 recebem oxigênio em jardim de hospital em San Lorenzo, no Paraguai, devido à superlotação
Pacientes com Covid-19 recebem oxigênio em jardim de hospital em San Lorenzo, no Paraguai, devido à superlotação - Daniel Duarte - 9.abr.21/AFP

O Paraguai será o próximo da lista? O país sofre duramente com a pandemia. Em março, houve protestos nas ruas e ameaça de impeachment do presidente. E —claro— a escassez de vacinas é brutal.

Sem relações diplomáticas com a China, o Paraguai tem pouquíssimas opções para assegurar acesso imediato a imunizantes. Das vacinas ministradas no Brasil até agora, cerca de 85% têm insumos da chinesa Coronavac. Não surpreende que a aliança do Paraguai com Taiwan esteja sendo questionada no país. O Senado rejeitou a mudança de orientação em abril do ano passado, mas a discussão sobre o “custo Taiwan” ressurgiu com a falta de vacinas.

A situação do Paraguai não é fácil. Sucumbir aos interesses chineses neste momento pode ser visto antes como sinal de fraqueza do que de pragmatismo. Se a China não quer parecer estar chantageando, o Paraguai tampouco quer dar a impressão de que pode ser chantageado. Ocorre que apenas a China parece em condições de oferecer o que hoje é literalmente vital aos paraguaios.

O secretário de Estado dos EUA achou por bem telefonar para o presidente paraguaio na semana passada. Disse que o Paraguai deveria “continuar a trabalhar com parceiros democráticos, incluindo Taiwan, para superar a pandemia global”, segundo relato do governo americano.

Mesmo querendo que o Paraguai siga fiel a Taiwan, Washington mantém relações com Pequim há mais de 40 anos. Os EUA seguem a política de “uma única China”, mas têm vínculo estreito com Taiwan. A contragosto, Pequim tolera a situação porque ela é parte essencial do arranjo que viabilizou o reconhecimento da China comunista por Washington em 1979.

Seria interessante saber se o presidente Mario Abdo Benítez perguntou ao secretário americano que dia as vacinas dos EUA aterrissam no aeroporto Silvio Pettirossi. A resposta só poderia ser: depois de todos os americanos terem sido vacinados. Mas os paraguaios estão morrendo hoje.

Enquanto isso, no começo de abril o presidente de El Salvador, do grupo dos recém-convertidos, comemorava a chegada de 150 mil doses de vacinas chinesas.

Abdo Benítez enfrenta um complicador adicional. Seu pai foi assessor direto do ex-presidente Alfredo Stroessner e, nessa condição, ajudou a costurar as relações entre Taiwan e Paraguai, estabelecidas em 1953. Foi, digamos, uma espécie de Henry Kissinger paraguaio —mas do outro lado estava Taiwan, e não a China de Mao.

Os vínculos com Taipé certamente rendem frutos ao Paraguai. A lealdade é valorizada, a cooperação é generosa. À medida que encolhe o clube de países que reconhecem Taiwan, os membros fiéis são especialmente apreciados.

Jogam a favor de Taipé o orgulho dos paraguaios, a amizade e a gratidão do país pelas décadas de relacionamento e a perspectiva de mais colaboração no futuro.

Apesar disso, a realidade e os interesses se impõem. Na América do Sul, apenas o Paraguai reconhece Taiwan. A pergunta não é se —mas quando— o país muda de lado. O desafio do Paraguai é construir uma solução honrosa, maximizar ganhos e administrar os insatisfeitos. ​​

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