[an error occurred while processing this directive]

Siga a folha

Descrição de chapéu

Versão persa de 'Bella Ciao' se torna símbolo da luta das mulheres no Irã

Canção antifascista italiana é adotada em protestos contra morte de Mahsa Amini

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Paloma Varón
Paris | RFI

No último dia 16, quando souberam da morte da jovem curda iraniana Mahsa Amini, após sua detenção pela polícia, duas irmãs iranianas publicaram um vídeo no Instagram com uma versão de "Bella Ciao" cantada em persa. A gravação viralizou. Desde então, esse centenário hino antifascista passou a ser entoado nas manifestações que há 11 dias abalam o Irã.

A versão iraniana de "Bella Ciao" foi primeiro postada por duas irmãs, Samin e Behin Bolouri, uma dupla iraniana de música pop, mas rapidamente se espalhou pelas redes sociais. Outras interpretações apareceram e têm sido cantadas nas manifestações, que já fizeram dezenas de mortos.

Publicado no último sábado (24) no YouTube, um segundo vídeo, visto milhões de vezes, mostra uma jovem anônima cantando a famosa música em iraniano. Acompanhada da hashtag #MahsaAmini, sua interpretação deixa claro o engajamento com a causa das mulheres de seu país. A voz feminina diz, em tradução livre: "Ó povo, uni-vos. Nós, que estamos de pé até amanhã, nosso direito não é fraco".

Manifestantes correm riscos de prisão e morte

A canção de resistência que viralizou em persa é dirigida a todos aqueles que se insurgem contra a opressão do governo ultraconservador iraniano, apesar dos riscos, e se manifestam nas ruas desde a morte suspeita de Mahsa Amini. Ela foi presa pela polícia da moralidade, que considerou que seu véu islâmico estava mal colocado sobre a cabeça.

A detenção aconteceu no dia 13 de setembro, quando ela caminhava na rua acompanhada de seu irmão. Eles estavam em Teerã para visitar familiares. Três dias depois, ela faleceu. De acordo com parentes, Mahsa Amini morreu em decorrência de agressões que sofreu durante a detenção.

Durante as manifestações, muitas iranianas retiraram o véu islâmico como forma de protesto. Elas saíram às ruas em Teerã e outras cidades do país, entre elas Mashhad (nordeste), Tabriz (noroeste), Rasht (norte), Isfahan (centro) e Shiraz (sul).

De uma origem desconhecida a símbolo da resistência

Segundo a rádio France Musique, embora a autoria de "Bella Ciao" seja desconhecida, a letra seria inspirada em um velho canto italiano composto no final do século 19, para expressar as duras condições de vida de camponeses que trabalhavam no cultivo de arroz no norte da Itália. "Bella Ciao" também foi cantada na década de 1940 por italianos que se opunham às forças fascistas do ditador Bento Mussolini (1922-1943).

Após a Segunda Guerra Mundial, a música foi escolhida pela imprensa socialista como símbolo da luta contra todos os fascismos, com destaque para o ano de 1947, quando jovens socialistas italianos a cantaram em Praga durante o Festival Mundial da Juventude Democrática. Esse canto, então, adquire popularidade mundial e se torna um símbolo de liberdade e luta contra todas as opressões.

No Brasil, foi usada pelo movimento "Ele, não", em 2018, com letra em português adaptada para expressar a repulsa das mulheres ao então candidato Jair Bolsonaro, hoje presidente.

Utilizado de forma leve e irônica na série "La Casa de Papel", "Bella Ciao" encarna agora uma nova ira —ou era. A ironia da história é esse hino da liberdade e da resistência ao fascismo ter viralizado no Irã no mesmo fim de semana em que a Itália dá a maioria parlamentar a um partido dito "pós-fascista", cujo principal rosto, Giorgia Meloni, nunca escondeu sua admiração pelo ditador Benito Mussolini.

Protesto contra a morte de Mahsa Amini em Nova York - Stephanie Keith -27.set.22/Reuters

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas