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Descrição de chapéu Argentina América Latina

Milei diz que hoje começa reconstrução da Argentina e chama quem quiser somar

Em primeiro discurso como presidente eleito, ultraliberal exaltou propriedade privada e falou em paz

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Buenos Aires

Rodeado de apoiadores atônitos, Javier Milei afirmou em seu primeiro discurso como presidente eleito que "hoje começa a reconstrução da Argentina". O ultraliberal exaltou a propriedade privada e fez um discurso de união, mas também disse que "há gente que vai resistir", em referência implícita a opositores e manifestantes kirchneristas.

"Quero dizer a todos os argentinos e a todos os dirigentes políticos que todos aqueles que quiserem se somar à nova Argentina serão bem-vindos. Não importa de onde venham, não importa o que disseram antes, que diferenças tenhamos. Tenho certeza de que é mais importante o que nos une do que o que nos separa", discursou ele em um salão do hotel Libertador, no centro de Buenos Aires.

Javier Milei durante pronunciamento após vitória nas eleições - Agustin Marcarian - 19.nov.23/Reuters

"Sabemos que há quem vai resistir, que há quem quer manter esse sistema de privilégio para alguns e que empobrece a maioria dos argentinos. Dentro da lei, tudo, fora da lei, nada. Vamos ser implacáveis com aqueles que queiram usar a força para defender seus privilégios", disse, após ser apresentado como novo presidente por sua irmã e chefe de campanha Karina.

Além dela, de membros de sua equipe e dos fiscais que trabalharam nas urnas, ele agradeceu ao ex-presidente Mauricio Macri e à ex-rival Patricia Bullrich pelo apoio no segundo turno: "Desinteressadamente, se comprometeram a defender a mudança que a Argentina precisa", citou.

Milei mencionou mais de uma vez a pobreza, a indigência e a inflação em seu discurso e falou em mudanças "drásticas". "A situação da Argentina é crítica. Não há espaço para gradualismos nem para a hesitação, não há lugar para meias medidas", declarou, afirmando que foi uma "noite histórica. Não por nós, mas porque terminou uma forma de fazer política e começa outra".

Ele repetiu praticamente as mesmas falas do lado de fora do prédio, onde uma multidão de apoiadores, muitos deles jovens, aguardavam o resultado desde o final da tarde. Ali, ele subiu ao palco acompanhado de três mulheres —além da irmã, estavam sua vice eleita, Victoria Villarruel, e sua namorada, a comediante Fátima Flórez.

Neste domingo (19), Milei rompeu a polarização argentina, consolidou sua nova força política e foi eleito presidente do país. Em um pleito histórico, o outsider de direita superou o ministro da Economia Sergio Massa, impondo ao peronismo sua quarta derrota em 40 anos de democracia.

Após uma ascensão meteórica na política, o economista e deputado conseguiu mais de 11 pontos de diferença em relação ao rival. Registrou 55,7% dos votos válidos contra 44,3% de Massa, com quase todas as urnas apuradas —a participação foi de 76%, a segunda mais baixa nas últimas quatro décadas.

À medida que os boatos de vitória se espalhavam, a avenida do hotel foi enchendo, até que o clima virou de final de campeonato. Emocionados, os grupos se abraçavam, pulavam e cantavam, jogando as cédulas de papel com o rosto do candidato para cima. Um homem vestido de Zorro trepava num poste, e outro vestido de leão subia numa placa.

"A todos que estão nos olhando de fora do país, quero dizer que a Argentina vai voltar a ocupar o lugar no mundo que nunca devia ter perdido", discursou Milei do lado de dentro, sob aplausos. "Por isso, quero dizer que nosso compromisso é com a democracia, com o comércio livre e com a paz", completou.

No Brasil, o governo do presidente Lula (PT) viu na vitória de Milei uma derrota para a América do Sul, temendo pelo futuro do Mercosul, bloco do qual o ultraliberal já disse querer se separar. Auxiliares do presidente brasileiro compararam a disputa à eleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2018 e ressaltaram ser a pior derrota da história do peronismo.

Milei vai ocupar a Casa Rosada pelos próximos quatro anos a partir de 10 de dezembro, quando o país completa 40 anos ininterruptos de democracia. O peronista Alberto Fernández, atual chefe de Massa, se despede do cargo reprovado por oito em cada dez argentinos e levando a fama de presidente ausente.

As outras três vezes em que a força política perdeu foram em 1983, 1999 e 2015. Nem a máquina peronista foi suficiente para conter o resultado do pleito deste domingo. O descontentamento da população com a situação atual do país superou o medo do extremismo do rival, explorado pela campanha de Massa com a ajuda de um equipe de publicitários brasileiros ligados ao PT.

"Obviamente os resultados não são os que esperávamos", disse Massa ao reconhecer a derrota. "Entrei em contato com Javier Milei para parabenizá-lo. A partir de amanhã a responsabilidade de prover certeza pertence a Milei." O bunker em que estavam o ministro e seus apoiadores foi esvaziado em menos de 40 minutos após o anúncio da derrota.

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