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'Americanos entendem que Trump não é o pastor-chefe', afirma líder evangélico Franklin Graham

Filho de Billy Graham critica Biden e diz que maioria dos cristãos mantém voto no republicano, mesmo ele não sendo um 'garoto-propaganda do cristianismo'

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Derek Brower
Financial Times

Com um olho meio aberto diante de uma grande mesa de madeira, pergunto-me se este é o primeiro almoço com o Financial Times a começar com uma oração. É um lembrete de que estou na presença da realeza religiosa americana.

Franklin Graham, 72, é o evangelizador mais conhecido dos Estados Unidos. Seu falecido pai, Billy Graham, era o "pastor da América" —conselheiro de presidentes e pregador para milhões, famoso por cruzadas para salvar almas em lugares como Austrália, Reino Unido, China e na Rússia soviética.

Franklin Graham, presidente e CEO da Billy Graham Evangelistic Association, fala no 4º dia da Convenção Nacional Republicana, em Milwaukee, Wisconsin - Mike Segar - 18.jul.24/Reuters

Franklin Graham continuou essa missão e também dirige a Samaritan's Purse, uma instituição de caridade cristã que presta ajuda em zonas de guerra como Ucrânia e Gaza. Possui seus próprios pilotos e aviões, que ostentam o lema: "Ajudando em nome de Jesus".

No início deste mês, na última noite da Convenção Nacional Republicana, ele estava no palco para orar por Donald Trump. "Deus poupou sua vida", disse Graham, referindo-se à tentativa de assassinato cinco dias antes. Ele não endossou oficialmente Trump, mas sua admiração por ele é evidente.

Os evangélicos como grupo se tornaram uma base leal de apoio a Trump nos últimos oito anos e o ajudaram a chegar à Casa Branca em 2016. No cargo, o republicano retribuiu, nomeando juízes conservadores da Suprema Corte que em 2022 ajudaram a revogar Roe vs. Wade, a decisão de 1973 que protegia o direito ao aborto em nível federal. Os comícios de Trump hoje em dia começam com orações de líderes de igrejas locais.

A biografia de Graham retrata um homem que cresceu como o quarto de cinco filhos sob a sombra de um pai famoso e ausente devido a missões religiosas. Estudou em escolas e faculdades cristãs privadas e escolheu um evangelismo vigoroso.

Almoçamos na cantina da sede da Samaritan’s Purse, onde há uma foto do ex-vice-presidente de Trump e amigo de Graham, Mike Pence, segurando uma Bíblia.

Trump é extremamente popular entre os cristãos conservadores americanos, especialmente os evangélicos brancos, com mais de 80% deles dispostos a votar nele, segundo pesquisa do Pew. Esse grupo, que evita palavrões, promiscuidade e jogos de azar, parece abrir exceções para Trump.

"Trump —ele foi muito bem demonizado pela mídia", diz Graham, embora admita: "Ele é o garoto-propaganda do cristianismo? Não, ele não é. Ele fez muitas coisas terríveis em sua vida."

Graham argumenta que Trump geriu uma economia forte pré-Covid, com baixa inflação, e presidiu durante um período de paz relativa. Também atendeu aos cristãos, sendo o primeiro presidente a falar na Marcha pela Vida (contra o aborto) em 2020.

Trump também colocou "dezenas de verdadeiros cristãos" no poder, incluindo Pence, diz Graham. "Estou falando de nível de gabinete, nível ministerial, equipe. Acho que dois terços da equipe eram cristãos." Em contraste, segundo o pastor, Joe Biden se cercou de um "grupo muito radical". "Não consigo pensar em uma pessoa no governo Biden que apoiaria as visões que tenho como cristão."

Ele duvida da fé do atual presidente, um católico praticante? Graham questionou publicamente a fé cristã de Barack Obama em 2012, antes de se desculpar. O religioso não julgará a fé de Biden. Mas diz ter certeza de que o presidente está supervisionando um secularismo crescente que ameaça o cristianismo nos EUA.

"Este país deu grande liberdade às pessoas de fé", afirma. "E estamos perdendo um pouco de nossas liberdades religiosas. Acho que elas estão sob ataque de pessoas que não acreditam em Deus ou o odeiam. Eles não acreditam que Deus deveria ter qualquer influência na vida diária."

A suposição de que as liberdades religiosas estão sob ataque contrasta com minha experiência pessoal de frequentar igrejas e o poder dos cristãos conservadores nos EUA, exemplificado pela decisão da Suprema Corte de imunidade de Trump. Estados como Louisiana e Oklahoma aprovaram leis sob pressão de evangélicos, exigindo a exibição dos Dez Mandamentos e Bíblias nas salas de aula.

Mas os evangélicos têm motivos para se sentirem ansiosos. O número de americanos que frequentam missas toda semana agora está abaixo de 50% pela primeira vez, em comparação com 70% no início do século, de acordo com a Gallup. A apatia é mais notável entre os jovens.

Alguns evangélicos americanos abandonaram Trump. Em 2019, o editor da Christianity Today —a influente revista fundada por Billy Graham— pediu a remoção do republicano do cargo. O editor atual, Russell Moore, também é um crítico contundente.

Pergunto se Graham ficou chocado com a decisão de Trump de vender uma Bíblia, "God Bless the USA", por US$ 59,99 (cerca de R$ 340), com uma bandeira americana na capa e a Constituição dos EUA dentro. "Fico feliz que as pessoas leiam a Bíblia."

Críticos afirmam que evangélicos dos EUA buscam dominar o país legal e culturalmente, impondo um cristianismo nativista, patriarcal e conservador. Graham considera o termo "nacionalismo cristão" uma invenção midiática para dividir o país e expressa ceticismo sobre a "supremacia branca".

Os EUA, pergunto, deveriam ser um país cristão? "Não", ele diz categoricamente. "Eu não acho que uma cultura deva ter o poder de impor isso a todos os outros."

O pai de Graham, Billy, renegou a segregação enquanto ainda era dominante no sul do país e pregou ao lado de Martin Luther King Jr —embora sua história com o movimento pelos direitos civis seja complexa. Franklin Graham diz que o país "ainda está evoluindo" em relação à raça e superando seu passado conturbado.

O evangelista Billy Graham foi um dos religiosos mais influentes dos Estados Unidos - Shannon Stapleton - 24.jun.05/Reuters

É uma leitura otimista, dadas as manifestações que abalaram os EUA após o assassinato de George Floyd há quatro anos. Trump, que pesquisas mostram estar se tornando mais popular entre os negros, chegou ao poder promovendo a conspiração racista sobre o nascimento de Barack Obama. As relações raciais realmente melhoraram desde que Trump substituiu o primeiro presidente negro dos Estados Unidos?

"Acho que Obama prejudicou as relações raciais neste país", diz Graham. "Muitas pessoas brancas votaram nele para tentar limpar suas consciências culpadas, pensando, 'Bem, você sabe, agora marcamos um ponto com um presidente negro' e acho que isso fez as coisas regredirem."

A suspeita de Graham em relação aos democratas é outro lembrete de que, assim como os oponentes de Trump o consideram uma ameaça à democracia, muitos republicanos pensam o mesmo dos democratas.

Mais tarde, Graham me diria por e-mail que a condenação de Trump no julgamento do caso Stormy Daniels não mudou em nada sua visão do presidente mais "pró-cristão e pró-vida em minha vida".

Os americanos entendem que Trump não é o "pastor-chefe", disse Graham durante o almoço, e listou seus êxitos como presidente, desde a economia até sua disposição para conversar com os inimigos dos Estados Unidos. É assim que os evangélicos decidiriam votar também, ele sugeriu.

"Acho que muitos cristãos simplesmente deixam o cristianismo de lado."

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