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'Superpastor', Billy Graham pregou até na Coreia do Norte

Morto aos 99 anos, líder religioso exortou influência dos evangélicos na política

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O pastor evangélico Billy Graham discursa após evento na biblioteca em sua homenagem em Charlotte, na Carolina do Norte, em 2007
O pastor evangélico Billy Graham discursa após evento na biblioteca em sua homenagem em Charlotte, na Carolina do Norte, em 2007 - Robert Padgett - 31.mar.2007/Reuters
São Paulo

Se hoje têm a força que têm, líderes evangélicos do mundo todo —e aqui podemos incluir brasileiros como Edir Macedo e Silas  Malafaia— devem um bocado a Billy Graham.

Morto na quarta-feira (21), aos 99 anos, o pastor americano aconselhou mais de uma dezena de presidentes americanos, do republicano Richard Nixon ao democrata Barack Obama, pregou para mais de 200 milhões de pessoas em 185 países neste quase um século de vida e chegou aonde poucos chegaram. Na Coreia do Norte, por exemplo.

Em 1992, o televangelista já descrito como "papa do movimento evangélico" fez uma visita pioneira à ditadura comunista de Kim Il-sung, para discursar numa universidade estatal o jornal oficial norte-coreano chegou a dizer, no ano retrasado, que Graham teria chamado o avô do atual mandatário do país de "o Deus que comanda o mundo humano de hoje", declaração rechaçada pela família do pastor.

Transitar entre universos êmulos era uma constante na biografia do religioso nascido em 1918, num clã presbiteriano da Carolina do Norte. Foi amigo de Martin Luther King e, em 1953, removeu pessoalmente cordões que separavam brancos de negros numa cruzada no Tennessee.

A verve progressista por vezes esfarelava. Como em 1972, quando acusou judeus liberais de controlarem a mídia nos EUA e "serem aqueles por trás da pornografia", em conversa gravada com o então presidente Nixon e divulgada três décadas depois (depois se desculpou e disse que não lembrava de ter dito aquilo).

Também condenou o casamento gay ("declínio moral") e transgêneros, atacados em seu site por "desonrarem a bondade da criação de Deus".

Graham definia seus cultos como "cruzadas". Suas pregações, gostava de dizer, não eram "evangelismo de massa, mas evangelismo pessoal em larga escala". Em 2007, Bill Clinton o exaltou: "Quando ele ora com você no Salão Oval, na Casa Branca, você sente como se estivesse orando por você, não pelo presidente".

DIREITA E ESQUERDA

Na campanha presidencial de 1952, Graham exortou a influência religiosa na política: "Creio que podemos deter a balança do poder". Anos depois, o mea-culpa: evangélicos deveriam ficar no meio e pregar para todos, da direita à esquerda, e pediu perdão "por não ser fiel ao próprio conselho no passado".

George W. Bush, em especial, atribuía a ele sua conversão ao cristianismo.

De todos os presidentes, Nixon foi o mais próximo, amizade que perdurou após o escândalo de Watergate. Convidou-o para falar em um de seus cultos no estádio do time de beisebol New York Yankees e, na eleição de 1960, apoiou-o contra o católico JFK —registrado democrata, como Graham.

Donald Trump, um dos 800 convidados de seu aniversário de 95 anos, definiu-o como "um homem muito especial". Não teve seu apoio em 2016, embora Franklin Graham, um dos cinco filhos do pastor, tenha dito ao "Washington Post" que "Deus apareceu nesta eleição".

Viúvo desde 2007, Graham morava em uma casa nas montanhas, no interior de seu Estado natal. Comemorou seus 99 anos com seu bolo predileto: de limão, feito com banha de porco em vez de manteiga.

Enfrentava diversas doenças, como mal de Parkinson, câncer de próstata e hidrocefalia. Aposentou-se 13 anos atrás, quando disse: "Temo a morte? Não. Estou ansioso para ver Deus cara a cara".

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