Siga a folha

'Não tem nada de grave, nada de anormal', diz Lula sobre eleição contestada na Venezuela

Trata-se da primeira declaração do presidente desde pleito; mais tarde, ele falou com Joe Biden por telefone

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Brasília e Washington

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta terça-feira (30) não ver "nada de anormal" em relação à contestada reeleição de Nicolás Maduro na Venezuela.

Em entrevista a um canal afiliado à TV Globo na manhã desta terça, Lula descreveu a situação como "um processo" em curso. Mencionando uma nota publicada pelo seu partido na segunda (29), disse que o que estava ocorrendo era um conflito entre o tribunal eleitoral venezuelano e a oposição.

O presidente Lula participa de cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Folhapress

"Vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição, teve uma pessoa que disse que teve 51%, teve uma pessoa que disse que teve 40 e pouco. Um concorda, o outro não", afirmou, acrescentando que quem deveria arbitrar a decisão é a Justiça.

O governo brasileiro já tinha se pronunciado sobre o resultado das eleições na Venezuela, alvo de questionamentos de líderes regionais. Por meio de nota, ele havia pedido a divulgação das atas eleitorais e se absteve de parabenizar Maduro.

Esta foi, porém, a primeira declaração de Lula sobre o tema. A entrevista, concedida à TV Centro América, de Mato Grosso, foi gravada fora da agenda oficial, e trechos dela foram divulgados pelo canal GloboNews à tarde. A transcrição integral do comentário foi divulgada pela Secom à noite.

Lula afirmou que Celso Amorim, assessor especial para assuntos internacionais que acompanhou o pleito em Caracas, conversou com ambos Maduro e o candidato da oposição, Edmundo González. Segundo o petista, Amorim relatou que o ditador apresentaria a ata. "Só não disse quando, mas disse que vai apresentar", disse o presidente.

Lula ainda minimizou as contestações ao resultado feitas pela oposição e referendadas por outros países. Ele comparou o caso com a contestação que Aécio Neves fez às eleições de 2014 após ser derrotado. Na época, o seu partido, o PSDB, pediu uma auditoria dos votos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ao analisá-los, porém, não encontrou nenhum indício de irregularidade.

"Sempre que tem um resultado apertado as pessoas têm dúvidas. Aqui no Brasil você viu o que aconteceu. Mesmo quando o Aécio perdeu para a Dilma, que entrou com recurso para anular a eleição", disse Lula.

Ainda na entrevista, o presidente disse que, se a vitória de Maduro for confirmada pelas atas de votação, tanto o seu governo quanto o de outros países seriam obrigados a reconhecer o resultado.

Ele acrescentou que Brasil, Colômbia e Chile negociam a formulação de uma declaração conjunta. As chancelarias dos três países comandados por líderes de esquerda pediram a divulgação de dados individualizados. Até a noite desta terça, o documento conjunto não tinha sido publicado.

"O presidente Maduro sabe perfeitamente bem que, quanto mais transparência houver, mais chance ele terá de ter tranquilidade para governar a Venezuela", prosseguiu o petista.

"Eu, enquanto cidadão do planeta Terra, cidadão brasileiro, presidente, acho que é preciso acabar com a ingerência externa nos outros países", completou. "A Venezuela tem direito de construir o seu modelo de crescimento e de desenvolvimento sem que haja um bloqueio. Cada um constrói o seu processo democrático, cada um tem o seu processo eleitoral."

Também nesta terça, Lula participou de uma ligação telefônica com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para discutir a situação em Caracas.

Segundo a Casa Branca, durante a conversa os líderes se comprometeram a permanecer em coordenação em relação à Venezuela e concordaram com a necessidade de divulgação completa, imediata, transparente e detalhada dos dados da votação por seção eleitoral pelas autoridades venezuelanas.

Também "compartilharam suas perspectivas de que o resultado da eleição venezuelana representa um momento crítico para a democracia no hemisfério", disse Washington, acrescentando que Biden agradeceu a liderança de Lula.

Mais cedo, o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca havia divulgado uma nota reforçando a exigência da divulgação de "resultados eleitorais completos, transparentes e detalhados, incluindo por estação de votação" pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela.

"Isso é especialmente crítico, dado que há sinais claros de que os resultados eleitorais anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela não refletem a vontade do povo venezuelano, conforme foi expressa nas urnas em 28 de julho. Também estamos revisando outros dados eleitorais compartilhados por organizações da sociedade civil e os relatórios de observadores eleitorais internacionais", completou a porta-voz Adrienne Watson.

Falando sob condição de anonimato nesta segunda, membros do governo americano disseram a divulgação completa das atas é algo muito simples de ser feito e que a resistência do governo venezuelano de atender a esse pedido torna problemática a capacidade de a comunidade internacional avaliar o pleito.

Segundo eles, as informações obtidas pelo governo americano até agora indicam um resultado discrepante do anunciado pelo governo Maduro.

O país afirma estar usando métodos diplomáticos e se coordenando com aliados regionais, inclusive o Brasil, para garantir que o resultado das urnas na Venezuela seja respeitado. O próximo passo, diante do atual impasse, é discutir a situação em espaços internacionais como a OEA (Organização dos Estados Americanos) e o G7, disseram os oficiais americanos.

Apesar da preocupação em torno da situação na Venezuela, o governo dos EUA tem sido cauteloso com a possibilidade de novas sanções ao país. Por ora, não está sob consideração a revogação de licenças às sanções dadas a petrolíferas como a Chevron para operarem no país sul-americano.

Washington não descarta aplicar novas sanções, mas enfatiza que isso está sendo continuamente avaliado à luz dos interesses de política externa americanos mais amplos.

"É revelador que Maduro esteja rompendo relações diplomáticas com países latino-americanos que, assim como os EUA, simplesmente pediram transparência. Acho que demonstra a intolerância do regime à dissidência e a falta de compromisso com os princípios democráticos básicos que outros governos regionais não estão apenas compartilhando, mas defendendo", afirmou nesta terça (30) o porta-voz adjunto do Departamento de Estado, Vedant Patel.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas