Lula diz a Biden que Brasil trabalha pela normalização do processo político na Venezuela

Ligação durou cerca de meia hora; ainda nesta segunda, brasileiro disse não ver 'nada de anormal' em relação ao pleito

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Marianna Holanda Ricardo Della Colletta
Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta terça-feira (30), que o Brasil trabalha pela normalização do processo político na Venezuela, e destacou a importância da divulgação das atas das mesas eleitorais do país.

A conversa ocorreu por telefone, a pedido de Biden, no Palácio da Alvorada. Segundo a Secom, durou meia hora.

"Sobre Venezuela, Lula observou que tem mantido acompanhamento permanente do processo eleitoral por meio de seu assessor especial, Celso Amorim, enviado a Caracas. Informou que Amorim esteve com Nicolás Maduro e Edmundo González Urrutia e reiterou a posição do Brasil de seguir trabalhando pela normalização do processo político no país vizinho, que terá efeitos positivo para toda a região", disse a nota da Secom.

O presidente Lula (PT) durante discurso na Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília. - Sergio Lima/AFP

"Lula reiterou que é fundamental a publicação das atas eleitorais do pleito ocorrido no último domingo. Biden concordou com a importância das divulgações das atas", prosseguiu o texto.

A ligação foi acompanhada pelo chanceler Mauro Vieira. Amorim já havia chegado da Venezuela, mas não participou da conversa.

De acordo com a nota, Lula também convidou Biden para participar da reunião dos países democráticos contra extremismo, à margem da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, e cumprimentou o americano pela decisão "magnânima" de deixar a disputa eleitoral.

"Ao finalizar a ligação, o presidente brasileiro cumprimentou Biden pela "magnânima" decisão quanto ao processo eleitoral americano e desejou sucesso para a democracia do país nas eleições presidenciais em novembro", disse o texto.

A Casa Branca, por sua vez, disse que Biden agradeceu Lula por sua liderança quanto à disputa da Venezuela, e que os dois "compartilham a perspectiva de que o resultado da eleição venezuelana representa um momento crítica para a democracia na região, e se comprometeram em prosseguir com a cooperação conjunta neste tema".

A conversa ocorreu à tarde, e pela manhã Lula se manifestou publicamente, pela primeira vez, sobre a eleição venezuelana. A cautela da nota do governo brasileiro, que não reconheceu a vitória de Nicolás Maduro e pediu a divulgação das notas, teve tom diferente da fala de Lula.

A declaração foi feita em entrevista à TV Centro América, afiliada da TV Globo em Mato Grosso, na manhã desta terça. A entrevista foi gravada fora da agenda, e trechos foram divulgadas à tarde pela GloboNews.

O presidente disse não ver "nada de anormal" em relação à eleição da Venezuela, ocorrida no domingo e na qual foi declarada a reeleição do ditador Nicolás Maduro.

"O PT reconheceu, a nota do partido dos trabalhadores reconhece, elogia o povo venezuelano pelas eleições pacíficas que houveram. E ao mesmo tempo ele reconhece que o colégio eleitoral, o tribunal eleitoral já reconheceu o Maduro como vitorioso, mas a oposição ainda não. Então, tem um processo. Não tem nada de grave, não tem nada de assustador", disse.

"Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição, teve uma pessoa que disse que teve 51%, teve uma pessoa que disse que teve 40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não. Entra na Justiça e Justiça faz", completou.

Na noite de segunda (29), a executiva nacional do PT afirmou em nota que o processo eleitoral que elegeu Maduro foi uma "jornada pacífica, democrática e soberana". O partido cumprimentou o povo venezuelano pela eleição e declarou ter certeza que o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), que apontou a vitória de Maduro, "dará tratamento respeitoso para todos os recursos que receba, nos prazos e nos termos previstos na Constituição da República Bolivariana da Venezuela".

O CNE , órgão controlado pelo chavismo, declarou vencedor o ditador Nicolás Maduro. O resultado foi imediatamente contestado pela oposição, cujo candidato foi o diplomata Edmundo González, e por um grupo de países na região.Eclodiram protestos na Venezuela, que desde a segunda (29) deixaram seis pessoas mortas e mais de 740 detidas.

O governo Lula, aliado histórico do chavismo, ainda não felicitou Maduro. Em nota divulgada na segunda, o Itamaraty defendeu a publicação pelo CNE "dados desagregados por mesa de votação".Enviado por Lula para acompanhar o pleito, o assessor internacional da presidência, Celso Amorim, também defendeu a publicação das atas das mesas eleitorais. Ele disse, porém, que até o momento nem a oposição nem o governo comprovaram terem vencido o pleito.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, manifestou na segunda "grave preocupação" com a possibilidade de o resultado não refletir a vontade da população e pediu uma apuração "justa e transparente".No dia seguinte, uma porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca afirmou que há sinais claros de que o resultado eleitoral anunciado pelo CNE não reflete a vontade do povo venezuelano expressada na votação.

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