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Descrição de chapéu Eleições na Venezuela

Órgão que anunciou vitória de Maduro tem histórico de manobras contra oposição

Chavismo nunca teve minoria no Conselho Nacional Eleitoral desde ascensão de Hugo Chávez, em 1999

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São Paulo

O CNE (Conselho Nacional Eleitoral), órgão que anunciou a contestada vitória do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, na eleição celebrada no último domingo (28), carrega um histórico de manobras para prejudicar a oposição nos últimos anos.

A origem da entidade remonta a dezembro de 1999, quando Hugo Chávez conseguiu aprovar, com um referendo realizado um ano após sua chegada ao poder, a Constituição que desenharia a estrutura institucional da era chavista até hoje em vigor no país.

Homem vota durante eleição presidencial venezuelana, em Caracas - AFP

A carta determinaria a criação de cinco Poderes na Venezuela, não três, como a maioria dos países. Assim, ao Executivo, Legislativo e Judiciário, comuns nos Estados atuais, somaram-se os Poderes Cidadão e Eleitoral —este último exercido pelo CNE, que fora criado em 1997 para substituir o Conselho Supremo Eleitoral.

A premissa que justificou essa e outras transformações naqueles primeiros anos de chavismo foi a implementação da democracia participativa no lugar da democracia representativa, um dos motes do líder de esquerda. Nestes 25 anos, porém, o órgão foi acusado de várias irregularidades pela oposição e grupos da sociedade civil.

De acordo com a Constituição, o CNE deve ser composto por cinco membros titulares para um cargo de sete anos que não sejam vinculados a organizações com fins políticos. Três pessoas seriam representantes da sociedade civil, uma, do Poder Cidadão, e outra das faculdades de ciências jurídicas e políticas do país, em nomeações que deveriam ser feitas pela Assembleia Nacional.

De 1999 a 2020, a composição do órgão foi realizada em completo acordo com a legislação do país apenas uma vez, de acordo com a imprensa local. Foi em 2006, não por acaso um ano após a oposição boicotar as eleições parlamentares justamente por falta de confiança no CNE, o que fez o regime conquistar ainda mais cadeiras no Legislativo.

A regra foi quebrada de diversas formas, mas, na maioria das vezes, o Tribunal Supremo de Justiça declarou inconstitucional a omissão legislativa em nomear os membros e tomou para si a tarefa, no que é visto como um extrapolamento de funções da corte.

A questão central é que o órgão nunca teve minoria chavista —desde que foi criado, pelo menos três nomes sempre são ligados ao regime.

Em 2021, sob intensa pressão internacional e à frente de um país fragilizado pela grave crise econômica que já se estendia por mais de dez anos, o regime cedeu e a oposição conseguiu, em uma eleição feita pela Assembleia, emplacar dois representantes no conselho. Foi a maior proporção que a oposição havia conseguido no órgão em quase duas décadas.

No mesmo ano, em mais um aceno à comunidade internacional para tentar encerrar sanções econômicas, a Venezuela permitiu pela primeira vez em 15 anos a presença de observadores eleitorais de fora do país, como a União Europeia. Embora tenha indicado "melhores condições" no pleito, o bloco relatou a persistência de desigualdades no acesso aos recursos estatais para campanha e na exposição midiática.

Em 2023, durante a preparação para as eleições deste domingo, o processo de escolha foi parecido e novamente manteve-se a presença de dois membros da oposição e três ligados ao chavismo. Em junho, porém, o arranjo desandou.

Dias após a PUD (Plataforma Unitária Democrática), principal aliança da oposição, solicitar assistência técnica ao órgão para fazer suas eleições primárias e escolher o candidato antichavista, o órgão manobrou para, aparentemente, tentar barrar o processo.

Os chavistas no órgão renunciaram a seus cargos, o que na prática impedia as atividades por falta de quórum. Na ocasião, o presidente do conselho, Pedro Calzadilla, disse que queria "facilitar a formação de um novo CNE" que representasse "o consenso e as aspirações dos setores democráticos do povo venezuelano".

Por fim, as primárias que, em outubro do ano passado, escolheram a líder opositora María Corina Machado para concorrer contra Maduro foram realizadas sem assistência técnica do conselho e enfrentaram uma série de problemas logísticos.

Uma semana depois, a Justiça venezuelana suspendeu os resultados devido a alegações de fraude vindas da ditadura, que até hoje não reconhece a votação. Inabilitada politicamente pelo regime, Machado não pôde concorrer e foi substituída por Edmundo González, declarado derrotado por Maduro no pleito.

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