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Eleições nos EUA

Guerra do bacon pode decidir a eleição dos EUA

Trump e Kamala tentam apontar culpados pela inflação de alimentos, mas ambos propõem planos que podem piorar situação

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São Paulo

Afinal, quem é culpado pelo aumento no preço do bacon, que está pela hora da morte?

A resposta para essa questão pode decidir a eleição presidencial dos Estados Unidos. Nesta sexta-feira (16), a vice-presidente Kamala Harris, candidata democrata à Casa Branca, admitiu que a inflação é um problema. Sim, a carne moída aumentou 50% desde a pandemia, e o pão também, disse Kamala em comício em Raleigh, na Carolina do Norte, um dos estados cruciais para a votação de novembro.

A inflação é uma das maiores preocupações do eleitor americano e uma das vulnerabilidades da chapa democrata, ao lado do descontrole na imigração. Desde 2019, os preços dos alimentos aumentaram 26%, segundo o Roosevelt Institute.

Candidato republicano, o ex-presidente Donald Trump concede entrevista coletiva no Clube Nacional de Golfe Trump, em Nova Jersey. - Reuters

Mas Kamala tenta convencer seus apoiadores e o eleitor indeciso de que a culpa é dos empresários gananciosos —e prometeu acabar com a carestia com uma lei que vai proibir aumentos de preços abusivos. "Será a primeira lei federal proibindo manipulação de preços de alimentos e itens de primeira necessidade. Vamos determinar regras claras para que as grandes corporações não possam explorar de forma desleal os consumidores, com lucros excessivos", disse a campanha democrata.

Nada disso, diz o republicano Donald Trump, para quem a culpa pela inflação é da Bidenomics, a política econômica de Joe Biden, que será mantida por Kamala. Em Nova Jersey na quinta-feira (15), o republicano concedeu entrevista coletiva ladeado por duas mesas lotadas de víveres —caixas de cereal, laranjas, ketchup, biscoitos Oreo— e cartazes mostrando a alta dos preços.

"O bacon esta custando quatro ou cinco vezes mais do que custava uns anos atrás", disse Trump a Elon Musk em entrevista na segunda (12), recorrendo à sua proverbial hipérbole mentirosa —o preço subiu de US$ 5,83 em janeiro de 2021 para US$ 6,83 em junho este ano.

O republicano promete derrotar o "pesadelo da inflação" e diz que, se for eleito, vai "reduzir os preços rapidamente". Na quarta, ele disse que vai reduzir "preços de energia e eletricidade em pelo menos metade, em 12 a 18 meses". Ele não explicou como pretende fazer isso.

Na realidade, os planos econômicos dos dois candidatos podem exacerbar a inflação se forem implementados.

Controle de preços tem um longo histórico de fracassos em inúmeros países —inclusive no Brasil, com os famigerados fiscais do Sarney conferindo preços no supermercado. Quando começou a faltar carne após o congelamento de preços, o governo Sarney chegou a despachar a Polícia Federal para caçar bois no pasto.

Com controle de preços, há desincentivo para a oferta e começam a faltar produtos. Ao jornal The New York Times, Jason Furman, que foi o principal assessor econômico de Barack Obama, afirmou: "Vamos acabar com menos oferta, escassez e, em última instância, há o risco de preços mais altos para o consumidor" caso a política seja implementada.

Não só isso, como a ideia de controlar preços dá força para a principal linha de ataque de Trump contra Kamala, de que ela é excessivamente de esquerda, comunista.

A campanha republicana não perdeu tempo. Logo após a equipe de Kamala divulgar o plano, disparou emails e tuítes dizendo: "Camarada Kamala vira totalmente comunista", "seu programa de controle de preços parece mais de um regime de terceiro mundo do que dos Estados Unidos", "Nicolás Maduro ficaria orgulhoso da camarada Kamala".

E qual é a solução de Trump para a inflação?

Isso ele não diz. Mas uma de suas principais propostas econômicas pode piorar —e muito— o problema. Trump promete impor uma tarifa de 10% a 20% sobre todos os produtos importados pelos EUA, e 60% sobre aqueles que vêm da China. Inúmeros economistas preveem que isso resultará em preços mais altos para o consumidor.

O problema dos altos preços nos EUA é que eles não têm uma causa única e identificável.

Houve inúmeras disrupções no fornecimento de alimentos e combustíveis com a pandemia de Covid e a Guerra da Ucrânia, além de efeitos inflacionários dos programas de trilhões de estímulo de Biden e juros baixos determinados pelo Fed, que ajudaram a abreviar a recessão nos EUA.

E a inflação, diga-se de passagem, já está sendo debelada. Os preços de alimentos ao consumidor tiveram alta de apenas 1% em julho, em comparação a julho do ano passado —e têm mantido um nível baixo desde 2022.

Mas nuance não funciona bem no palanque, e é preciso culpar alguém. Toda vez que o eleitor for comprar bacon ou carne moída no supermercado, ele vai perceber que está mais caro. E não vai votar em quem ele pensa que é culpado ou que vai piorar a situação.

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