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Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Invasão da Ucrânia obriga Rússia a desocupar mais uma região

Ataque, primeiro do tipo desde a Segunda Guerra, tenta desestabilizar o país, diz Putin

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São Paulo

Uma semana após sofrer a primeira invasão militar desde os tanques de Adolf Hitler cruzaram as fronteiras soviéticas em 1941, a Rússia ainda tem dificuldades para conter a ofensiva da Ucrânia contra uma pequena área no sul do país.

Nesta segunda (12), o governo de Belgorodo determinou a evacuação de ao menos 11 mil pessoas de parte daquela região, vizinha à ucraniana Sumi, de onde as forças de Kiev saíram para o ataque na terça passada (6).

Tanque T-64 ucraniano com proteção contra drones em estrada próxima da Rússia na região de Sumi - AFP

Antes, 76 mil moradores de Kursk, imediatamente a oeste de Belgorodo, haviam recebido a ordem para sair de suas casas. As regiões estão em estado de emergência, e duros combates seguem ocorrendo, admitiu o Ministério da Defesa.

Segundo o presidente Vladimir Putin disse nesta segunda, em uma reunião de seu Conselho de Segurança com governadores de regiões fronteiriças, o objetivo da ação é "desestabilizar a Rússia". "O inimigo receberá uma resposta à altura", afirmou, dizendo que as perdas ucranianas estão "aumentando dramaticamente".

O governador de Kursk, Alexei Smirnov, acusou sem apresentar provas os ucranianos de usar armas químicas na região. Ele afirmou que Kiev ocupou 28 vilas fronteiriças e avançou 12 km. Neste momento da reunião, Putin o interrompeu e disse para que reportasse apenas acerca de condições sociais e econômicas de Kursk, deixando detalhes da situação para os militares.

A invasão ocorre sob manto de extremo sigilo, e só foi admitida pelo presidente Volodimir Zelenski no sábado (10). Ele disse que seu objetivo é o de pressionar a Rússia, sem estabelecer um alvo preciso, e ao longo do fim de semana autoridades ucranianas falaram a diversos meios de comunicação de forma reservada a mesma coisa.

Segundo elas, o foco é humilhar Putin e desestabilizar seu governo, espelhando o motim de mercenários do Grupo Wagner contra a cúpula militar que foi debelado em dois dias em junho do ano passado.

Ninguém sabe quantos soldados estão envolvidos na ação, que é apoiada por tanques, blindados e, segundo avistamos esparsos registrados em redes sociais, até aviões de ataque. A Rússia falou em uma força de mil homens, mas as tais autoridades anônimas ucranianas dizem que são milhares.

Seja como for, se antes havia incursões através da fronteira, principalmente em Belgorodo, o que se vê agora é uma invasão de fato —algo que não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial em território russo.

Os combates parecem concentrados em torno de Sudja, cidade que serve como entroncamento final dos gasodutos russos rumo à Europa. Mesmo com a guerra e as sanções ocidentais, países do continente seguem comprando cerca de um quarto do que consumiam antes do produto, e Moscou paga pedágio a Kiev para o trânsito pelo território.

Isso dito, não há evidência de qual seria a vantagem tática para os ucranianos se tomassem a cidade: se quisessem interromper o fluxo de gás, bastaria destruir o duto em suas próprias terras. Assim, o componente psicológico da ação é o que se impõe.

A ofensiva veio num momento de grande fragilidade da Ucrânia, com avanços mais consistentes dos russos na ação para tentar capturar os cerca de 40% da província de Donetsk, 1 das 4 que Putin anexou ilegalmente em 2022, que ainda estão sob controle de Zelenski.

A situação por lá não melhorou desde a invasão, sugerindo que não faltam tropas para o Kremlin —algo que coloca, para observadores mais sóbrios em meio à euforia ocidental com mais um vexame russo, em perspectiva a sapiência da ação ucraniana.

Eles têm dúvidas acerca da lógica de jogar suas melhores forças para uma ação que, fora o evidente impacto midiático para provar sua eficácia em combate, pode não ter grande valor estratégico. As linhas de frente ucranianas já sofriam de anemia profunda, segundo relatos do próprio governo em Kiev.

Uma explicação lateral é desviar recursos militares de Moscou. Nesta segunda, o governo de Kharkiv (norte da Ucrânia) disse que os ataques com bombas planadoras caíram de 50 ou 60 por dia a cerca de 10 desde que a ação começo do outro lado da fronteira. Mas não há registros sobre a frente como um todo.

Seja como for, o estrago para a Rússia está feito. Não se sabe se Zelenski quer imitar o mercenário Ievguêni Prigojin e tentar marchar até Moscou, nem que seja de forma simbólica, mas o despreparo das forças russas ao permitir a invasão foi flagrante.

Segundo uma pessoa com interlocução no Kremlin disse à Folha nesta segunda, o clima no alto escalão russo é de perplexidade. A decisão de classificar a reação à invasão de operação de contraterrorismo também não parece agradar a muitos.

É uma punição ao chefe militar do Ministério da Defesa, o número 2 Valeri Gerasimov, mas tal determinação significa que as decisões são tomadas em tese pelo FSB, a principal agência sucessora da KGB soviética.

O FSB tem unidades altamente treinadas, as Spetchnaz, mas até aqui só se viu o envio de forças de reserva regulares e a repetição de um padrão fracassado na Ucrânia: o transporte de blindados e pessoal em grandes colunas por rodovias. Ao menos um desses comboios foi dizimado em um ataque com mísseis americanos ATACMS em Kursk.

De todo modo, a cadeia de comando neste momento é incerta, até pelas brumas de mistério que cercam a operação. De forma algo surpreendente, contudo, apesar de dizer quase diariamente que o avanço ucraniano foi contido, em nenhum momento a Defesa afirmou que ele foi empurrado de volta para o país vizinho.

FOGO EM USINA NUCLEAR É CONTIDO

Na Ucrânia em si, invadida em 2022 de forma maciça pelos russos, os combates continuam e um pequeno drama diversionista se ensaiou novamente em torno da usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, ocupada por Moscou no sul do país.

No domingo (11), uma coluna grossa de fumaça preta subiu de uma de suas torres de resfriamento, e imediatamente russos e ucranianos se acusaram por um ataque. Ocorre que tais estruturas não têm nenhum componente inflamável: são basicamente feitas de concreto e tubos de aço.

Segundo a agência russa Tass, o fogo foi controlado, mas a estatal de energia nuclear Rosatom diz que os danos à torre podem obrigar sua substituição. A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que tem uma equipe no local, disse por sua que não houve nenhum risco radioativo no incidente.

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