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Descrição de chapéu China

Jornalista chinês é suspenso de redes sociais após postagem vista como crítica à propriedade estatal

Hu Xijin, ex-editor do oficialista Global Times, teria sido afastado de plataformas por saudar uma suposta maior abertura de Pequim à iniciativa privada

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Pequim

Hu Xijin, mais conhecido —e controverso— jornalista da China, publicou sua última publicação em uma rede social no sábado (27). Ele hoje é colunista de vídeo no Global Times, veículo de imprensa ligado ao regime que editou até três anos atrás, mas se tornou sobretudo influenciador, mantendo perfis atualizados diariamente ou com ainda mais frequência no WeChat, Weibo e Douyin (este, o TikTok original), entre outras plataformas.

Internautas no país já vinham postando capturas de tela que confirmavam a suspensão antes de Sing Tao Jih Pao, tradicional diário em chinês de Hong Kong criado em 1938, ouvir Hu, nesta terça (30). "Eu, pessoalmente, não quero falar nada", disse ele. "Você só precisa ler as coisas na internet."

O jornalista e influenciador chinês Hu Xijing, em imagem reproduzida de plataforma em 2 de setembro de 2021 - Reprodução/WeChat

Segundo o jornal, o motivo para a punição foi uma postagem do dia 22 em que ele comentava a Terceira Plenária, reunião de cerca de 400 lideranças do Partido Comunista da China para definir as diretrizes econômicas nacionais.

O erro de Hu teria sido saudar a retirada da menção à propriedade estatal como um "esteio" do país no comunicado do encontro. Ele interpretou a omissão do trecho como um sinal de que o regime estaria mais aberto à iniciativa privada —seu texto dizia, segundo reproduções, que "a percepção, a atitude e a narrativa da sociedade chinesa sobre várias relações de propriedade darão um grande passo à frente".

A postagem foi apagada depois de uma sequência de questionamentos de outros internautas, inclusive por parte de perfis institucionais acadêmicos no WeChat, plataforma para textos mais sóbrios e extensos. Um deles denunciava Hu por "furtar vigas e mudar pilares, generalizando com parcialidade e confundindo o público".

A notícia da suspensão repercutiu em jornais da chamada Grande China, como o Lianhe Zaobao, de Singapura, até alcançar a imprensa de língua inglesa na Índia e chegar à americana Foreign Policy, que apontou censura.

Internautas chineses dizem que Hu vai ficar 30 dias fora das plataformas citadas, e que também não poderá postar no Toutiao, portal noticioso da Bytedance (dona do TikTok), e do Kuaishou, concorrente do Douyin em vídeos curtos. Muitos afirmam, porém, que como ele é jornalista há muitos anos, ele teria grande sensibilidade política e seria capaz de dar a volta por cima.

Até deixar a chefia do Global Times, posto que ocupou por 16 anos, Hu foi dos mais estridentes defensores de uma política externa de confronto com os Estados Unidos, o que incluiria maior armamento nuclear.

Mas ele também teria participado, quando jovem, dos protestos da praça Tiananmen, que depois reviu criticamente.

Opinando no Weibo, onde acumula 24,9 milhões de seguidores, o "velho Hu", como chama a si mesmo nas postagens, manteve a linguagem vibrante, mas passou a apresentar uma postura mais moderada ante o regime nos últimos tempos. Ele agora questiona o "esquerdismo" e até o "nacionalismo excessivo", em textos que soam arriscados.

Há pouco mais de um mês, ao escrever sobre uma mulher chinesa que morreu ao defender mãe e filha japonesas de um ataque com faca em Suzhou, ele cobrou mais reconhecimento para a "heroína popular". Mas acrescentou esperar que no futuro, "quando acontecerem incidentes sensíveis, a mídia participe da coleta e disseminação de informação desde o princípio".

A mídia, argumentou Hu, "é um recurso crucial e uma ligação-chave na governança, não devendo ser marginalizada em momentos essenciais". No caso, ela poderia ajudar a esclarecer o que aconteceu.

Também alertou contra aqueles que transformam "o nacionalismo numa commodity" para exploração online, com "extremismo ideológico". E acrescentou que, apesar das preocupações americanas com a China, "as relações sino-americanas são relativamente mais moderadas e flexíveis" que as dos EUA com a Rússia ou o Irã.

Para Hu, "os cidadãos chineses precisam entender essa situação" em toda a sua complexidade. Seu alvo são os "extremistas online", aqueles que cobram que a China forme "alianças com outros países para se opor ao Ocidente, o que não é nem o nosso caminho diplomático nem a vontade popular".

Outros profissionais da imprensa chineses, como Wang Zichen —que trabalhava na agência Xinhua e agora está no Centro para a China e Globalização, talvez o think tank mais independente de Pequim—, celebraram as palavras de Hu. "Ame-o ou odeie-o, Hu Xijin é uma figura que não pode ser evitada" na China, diz Wang.

Segundo o jornalista, agora não é só contra os nacionalistas exagerados que Hu se levanta. "Hu também tem se tornado o propositor mais ruidoso e também o mais capacitado e cuidadoso de mais espaço para a mídia chinesa", afirma.

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