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Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia

Putin contra-ataca no sul da Rússia; Kiev descarta ocupação

Boatos sobre a invasão de forças da Ucrânia levam angústia a moradores de Kursk

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São Paulo

Após uma semana sendo pressionado por uma surpreendente invasão de forças ucranianas no sul da Rússia, as forças de Vladimir Putin conseguiram coordenar nesta terça (13) um contra-ataque na região de Kursk.

Segundo o Ministério da Defesa russo, a ação foi bem-sucedida e travou avanços de Kiev em cinco pontos da área atacada. O presidente Volodimir Zelenski, por sua vez, divulgou que houve ganhos. Segundo a Folha ouviu de dois céticos analistas militares em Moscou, talvez a alegação do governo em Moscou seja mais próxima da realidade.

Soldados russos capturados na região ucraniana de Sumi são levados vendados em uma picape - AFP

Tropas de Zelenski romperam facilmente a fronteira da região ucraniana de Sumi em direção a Kursk na terça da semana passada (6), gerando o proverbial "barata-voa" entre as poucas forças defensivas russas estacionadas na área.

Moscou correu para enviar reforços de forma descoordenada, expondo colunas de caminhões com soldados e blindados a ataques ucranianos. Em uma ocasião, blogueiros militares ucranianos dizem terem sido usados mísseis americanos ATACMS, o que se for verdade adiciona insulto à injúria para o Kremlin.

O contra-ataque russo inclui o emprego de caças-bombardeiros Su-34 e muitos drones kamikaze Lancet. Vídeos mostram blindados e tanques ucranianos sendo alvejados.

Segundo os analistas ouvidos pela reportagem, apesar do aparente sucesso em parar o avanço, ele se aprofundou ao longo da noite de segunda (12) para esta terça. Aqui, os dados são nebulosos. Após dizer na véspera que havia amealhado 1.000 km2 de Kursk, Zelenski ouviu a avaliação nesta terça de que mais 40 km2estavam em suas mãos.

Militares ucranianos divulgaram à imprensa local que estão a 40 km de Kursk, a capital da região homônima, levando ansiedade a moradores da cidade. Um deles contou por aplicativo de mensagem que muitos de seus vizinhos já deixaram suas casas rumo a outras localidades ou a suas datchas, as famosas casas de campo dos russos.

Segundo ele, um médico estrangeiro que estudou na cidade e hoje trabalha em uma clínica particular, ainda não há falta de produtos nos mercados, mas o movimento está mais intenso. Ele mesmo comprou água, enlatados e papel higiênico. Sem família na Rússia, contudo, sua opção é ficar no apartamento e acompanhar as desencontradas notícias e muitos boatos em redes como o Telegram.

Um sinal do impacto da ação russa foi a decisão de Kiev de restringir os movimentos dos moradores da região fronteiriça em Sumi devido ao que chamou de "ataque de sabotadores russos". Em um vídeo, alguns desses militares são mostrados sendo transportados vendados numa picape. A isso somam-se bombardeios com aviões e mísseis, enquanto ambos os lados trocam enxames de drones de ataque.

A Rússia disse ter abatido 44 deles contra Kursk e Belgorodo, outra região afetada pela crise. Nelas, 191 mil pessoas receberam ordem de evacuação por parte das autoridades. Na mão contrária, Moscou lançou 38 drones, dos quais 30 foram derrubados segundo Kiev.

É uma emergência inédita na história russa desde que a Alemanha nazista lançou a maior invasão terrestre da história, contra a então União Soviética, em 1941. Dois anos depois, as forças de Adolf Hitler seriam derrotadas em batalhas decisivas, uma delas justamente em Kursk —o maior enfrentamento blindado já ocorrido.

Por óbvio, nada disso é comparável em escala ao que ocorre agora, mas eleva a dramaticidade dos acontecimentos, em especial para Putin, que ao longo de seus 25 anos no poder recorreu à história russa para justificar suas decisões. Dificilmente seus generais escaparão de retaliações quando e se a crise arrefecer.

Do lado ucraniano, o segredo em torno da operação só aumenta. Zelenski falou em 78 localidades tomadas. O governo de Kursk havia admitido a perda de controle de 28 vilarejos, em cerca de metade da área alegada pela Ucrânia.

Nesta terça, o Ministério das Relações Exteriores ucraniano negou que tenha pretensões territoriais, e apenas que busca desestabilizar a capacidade de ataque russa.

"Diferentemente da Rússia, a Ucrânia não precisa da propriedade de outras pessoa e não está interessada em tomar o território de Kursk. Mas queremos proteger as vidas de nosso povo", afirmou o porta-voz Heorhii Tikhii a jornalistas.

É uma admissão óbvia, dado que a Ucrânia não tem tal capacidade. Mesmo a área tomada até aqui, no cômputo, da guerra, é irrisória. Putin ocupa cerca de 20% de toda a Ucrânia e nesta mesma terça lançou um grande ataque contra um dos principais centros ferroviários da região de Donetsk, que procura conquistar.

Mas o impacto psicológico é enorme, e há a possibilidade de que Zelenski esteja contando com o avanço das conversas visando o estabelecimento de uma negociação de paz com o vizinho em uma posição de força relativa. O próprio Putin admitiu isso na segunda, desautorizando seu próprio discurso de que Kiev não quer negociar.

As tratativas existem, e a operação em Kursk, ponto de saída do gás russo para a Europa, introduz um novo elemento na mesa enquanto todos esperam o resultado da eleição americana —uma vitória de Donald Trump é vista como péssima para os ucranianos.

Se for isso mesmo, contudo, a aposta do ucraniano pode ser alta demais. Relatos de ambos os lados falam em duros combates com tropas de elite de Kiev, como paraquedistas e forças especiais.

Como os números russos são muito superiores, a tendência é de que aos poucos a matemática se imponha, tirando recursos importantes da defesa de outros setores da frente na própria Ucrânia.

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