Gol contra da Receita
Encontro do pai de Neymar com Bolsonaro faz supor que esteja em busca de atalho inadmissível
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O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), entrou em campo para dar uma assistência ao jogador Neymar Júnior em disputa sobre impostos. Recebeu em palácio o pai e empresário do jogador, Neymar da Silva Santos, e agendou-lhe uma audiência com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Participou da reunião na quarta-feira (17), ainda, o secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra. O encontro poderia ser considerado normal, mas não muito, se de fato tivesse tratado genericamente de “questões tributárias relativas a atividades esportivas”, como divulgou com malícia a assessoria de imprensa da pasta.
Mas a atividade esportiva em tela era a transferência de Neymar do Santos para o Barcelona, e a questão tributária, uma pendência de R$ 69 milhões que a Receita cobra do astro por alegada sonegação de impostos na transação.
Pouco importa se o pai do jogador tem razão ou não nos argumentos que apresentou à Receita. Decerto o empresário já os encaminhou pelas vias normais, disponíveis a todos os brasileiros. Recorrer às principais autoridades do país faz supor que esteja em busca de um atalho inadmissível.
Recorde-se, aliás, o estranho vídeo gravado pelo futebolista na companhia do surfista Gabriel Medina e divulgado durante viagem de Bolsonaro a Israel. O apoio declarado ao presidente na peça aparece agora como uma jogada para a torcida deslumbrada de Brasília.
O presidente da República, um ministro de Estado e o secretário da Receita Federal se prestaram a um espetáculo digno da segunda divisão ao dispensar tratamento tão especial a um devedor.
Na tentativa inicial de não dar publicidade ao real objetivo da visita, demonstraram ter consciência de que driblavam um princípio fundamental da administração pública: a impessoalidade.
Não se trata da primeira vez em que estrelas do futebol buscam converter em privilégio fiscal a fama conquistada nos gramados. Todos ainda se lembram do voo da muamba de 1994, quando os tetracampeões chegaram ao Brasil com 14 toneladas de carga sem recolher taxas alfandegárias.
Brasileiros comuns perdem horas de trabalho e suam a camisa para regularizar suas pendências com a Receita. Um jogador famoso e milionário, porém, consegue tratá-las diretamente nos tapetes do Planalto e da Esplanada —um verdadeiro gol contra o bem público.
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