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Festa no céu

Abuso em viagem aérea, que levou a demissão hesitante de assessor, é recorrente

O ex-assessor Vicente Santini conversa com o presidente Jair Bolsonaro, em cerimônia no Planalto em outubro - Pedro Ladeira - 3.out.19/Folhapress

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Na extensa crônica dos escândalos nacionais, as recorrentes extravagâncias de autoridades no usufruto de viagens aéreas oficiais constituem, decerto, episódios menores. Nem por isso, contudo, deixam de ser sinais eloquentes da mentalidade patrimonialista arraigada entre ocupantes do poder.

Essa deplorável tradição se viu acrescida, recentemente, de alguns novos exemplos. No final de janeiro, após participar do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, o então secretário-executivo da Casa Civil Vicente Santini viajou à Índia, na ocasião visitada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Representando o titular da pasta, Onyx Lorenzoni, que se encontrava em férias, Santini não titubeou diante das regalias do cargo e solicitou um avião da Força Aérea Brasileira para levá-lo, ao lado de duas assessoras, ao país asiático.

Quem aparentemente não aprovou a mordomia foi Bolsonaro. Após o caso vir à tona, o chefe do Executivo foi a público anunciar a destituição do subordinado pelo gesto “inadmissível” e “completamente imoral”, em suas palavras.

No dia seguinte, porém, diante do apelo dos filhos do mandatário, Santini foi readmitido como assessor na mesma Casa Civil de onde havia sido defenestrado.

Comportando-se como uma biruta de aeroporto insuflada pelo vento das redes sociais, Bolsonaro logo recuou do recuo. Pressionado, o presidente em poucas horas dispensou Santini novamente.

Se o presidente se pautasse pela mesma régua para avaliar todos os seus subalternos, talvez tivesse de levar a cabo uma ampla reforma ministerial. Conforme mostrou levantamento da Folha, seis ministros se valeram dos serviços da FAB, em 2019, para viagens no exterior em circunstâncias muito similares às de Santini.

Bolsonaro, em sua proverbial indignação seletiva, encerrou o caso dizendo que havia conversado com a sua equipe e que, doravante, o uso dos aviões diminuiria. 

A festa nos céus não ficou restrita aos membros do Executivo, porém. No início da semana, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), fez rápida viagem a Macapá, seu reduto eleitoral, também a bordo de avião da Aeronáutica, levando a mulher, policiais legislativos e a assessora de imprensa.

Confrontadas, as autoridades escudam-se na lei, que teria sido observada em tais casos. Esquecem-se, entretanto, de que a legalidade formal apenas não basta no trato com a coisa pública. 

Abusos de privilégios desse tipo afrontam princípios da administração, como o da moralidade e o da economicidade, e compõem, acima de tudo, um retrato pouco honroso de descaso com o dinheiro do contribuinte.

editoriais@grupofolha.com.br

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