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Confusão epidêmica

Ainda é prematuro o otimismo da população com a marcha do novo coronavírus

Mulheres conversam sem máscara no Grajaú, zona sul de São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

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A taxa de contágio tem papel crucial em toda epidemia, como a de Covid-19: acima de 1, quando cada infectado transmite o patógeno a mais de uma pessoa, em média, a doença progride; abaixo disso, regride. Chega assim como boa nova a informação de que a taxa caiu abaixo de 1 pela primeira vez em quatro meses no Brasil.

A notícia auspiciosa não deveria dar ensejo a muito otimismo. O país continua falhando de modo alarmante no controle da pandemia, no patamar lamentável de mil mortes diárias em que estacionamos também há meses.

O cômputo da taxa de contágio partiu do Imperial College, de Londres. A instituição calcula que ela baixou para 0,98, próxima demais de 1 para suscitar alento; há, além disso, muita incerteza quanto aos modelos epidemiológicos e aos dados brutos que os alimentam.

Corre-se o risco de que a novidade seja tomada como mais um elemento a corroborar o temerário relaxamento que tem proliferado entre brasileiros. A mudança de percepção foi captada em pesquisa do Datafolha, que aponta neste mês o menor índice de isolamento já observado na crise.

Em abril, com óbitos na casa dos 2.000, 71% dos entrevistados diziam estar completamente isolados ou saindo de casa apenas quando inevitável. Na pesquisa do último dia 11, tal contingente reduziu-se a 51%, mesmo com mais de 100 mil mortes por Covid-19 e antes de sinais de desaceleração.

Em contradição com fatos e dados estatísticos, inverteu-se a opinião da maioria quanto ao estágio da epidemia. Há quatro meses, 65% avaliavam que ela piorava; em agosto, restam 43% de pessimistas, ante 46% que veem melhora.

A dissonância talvez se explique por certa acomodação diante do alongamento imprevisto do flagelo. Para se manterem otimistas e aderirem às restrições impostas pelo isolamento, no entanto, as pessoas precisam ter alguma clareza quanto à duração e aos resultados esperáveis de seus sacrifícios pessoais —e isso não houve.

Reina, no país, a confusão. Em raras partes se praticou distanciamento social digno do nome. A descoordenação nacional se repete agora, com o abrandamento do que nunca se fez de verdade.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, não só se demitiu da obrigação de liderar reação enérgica à epidemia como a sabotou de maneira deliberada, com palavras e atos. Empurrou responsabilidades para governadores e prefeitos, promoveu aglomerações sem máscaras, propagandeou falsas panaceias.

Abandonada à deriva das redes sociais pelo Palácio do Planalto, grande parte da população está sujeita à desinformação. Tais equívocos serão pagos com mais alguns milhares de mortes evitáveis.

editoriais@grupofolha.com.br

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