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O que a Folha pensa dia do trabalho

Lula e os fósseis do sindicalismo

Ou as forças em torno do PT se atualizam nos temas do trabalho, ou correrão mais riscos de ser derrotadas nas eleições

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa em ato das centrais sindicais no Dia do Trabalho, em São Paulo (SP) - Zanone Fraissat - 1.mai.24/Folhapress

Mostrou-se um fiasco a comemoração do Dia do Trabalho patrocinada pelas centrais sindicais governistas na capital paulista, que contou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No ato em que afrontou a lei eleitoral e pediu votos para o pré-candidato a prefeito Guiherme Boulos (PSOL), o mandatário mal disfarçou seu incômodo com a meia dúzia de gatos pingados que se dispôs a compor a plateia no feriado ensolarado. Lula reclamou da falta de mobilização do governo para atrair mais público.

O desabafo, como num ato falho psicanalítico, revela o mecanismo por trás da ruína do sindicalismo brasileiro. Não cabe teoricamente a governos cooptar associações representativas dos trabalhadores quando elas são o resultado da livre organização da sociedade civil.

Mas no Brasil, desde o varguismo, a simbiose entre Estado e sindicatos tem sido uma regra duradoura.
A Constituição de 1988 estabeleceu monopólios setoriais e territoriais para a atuação de sindicatos. Nos primeiros mandatos, Lula estendeu o imposto sindical para as centrais. Em 2023, o Supremo Tribunal Federal facilitou o desconto de contribuições assistenciais na folha salarial dos trabalhadores.

Ao longo de décadas, o artifício serviu para enriquecer e proteger as oligarquias que se apoderaram dos cartórios de representação oficial dos trabalhadores, mas fracassou, por obsolescência, no objetivo de representar de fato as aspirações de milhões de brasileiros que atuam num mercado de trabalho que passa por intensas transformações desde o final do século 20.

O ato desta quarta-feira (1º) foi um resultado anedótico desse esvaziamento. A bisonha proposta do governo petista de regular o trabalho por aplicativos pelo molde varguista —repelida fortemente pela própria categoria que pretende proteger— atesta a permanência da dissonância cognitiva.

Pesquisas começam a indicar que a reforma trabalhista aprovada na gestão de Michel Temer (MDB), atacada pela retórica ultrapassada do esquerdismo, pode ter contribuído para a queda do desemprego no Brasil. O clamor pelo desembaraço das amarras da burocracia nas relações de trabalho tornou-se uma plataforma popular.

Também por explorar esse flanco dos anseios do eleitorado, a direita se apresenta como a única corrente no Brasil atual capaz de mobilizar multidões espontaneamente em suas manifestações. A esquerda perdeu as ruas, e isso deveria soar como alerta máximo nas hostes do lulismo.

Ou as forças políticas em torno do PT se atualizam, inclusive nos temas relacionados ao trabalho, ou correrão mais riscos de ser derrotadas nas próximas eleições.

editoriais@grupofolha.com.br

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