Siga a folha

Descrição de chapéu
O que a Folha pensa

Saúde loteada

Suspeitas escancaram repartição da pasta entre militares e interesses políticos

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o antecessor, general Eduardo Pazuello - Evaristo Sá - 16.mar.21/AFP

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Qualquer que seja o desfecho da apuração sobre as cada vez mais intrincadas suspeitas de corrupção na compra de vacinas, resta comprovado que o Ministério da Saúde esteve —e está— loteado da pior maneira possível.

Em plena crise sanitária global, áreas técnicas essenciais da pasta se encontravam nas mãos de militares despreparados ou cercadas por interesses políticos questionáveis, se é que as deficiências de qualificação e credibilidade não se misturam entre os grupos.

Acusado de cobrar propina para uma compra do imunizante AstraZeneca, Roberto Ferreira Dias foi exonerado do posto de diretor do Departamento de Logística logo após a revelação do caso pela Folha. A conduta do funcionário, como se demonstrou, já era objeto de questionamento na Esplanada.

Ferreira Dias estava no ministério desde o início do governo, por indicação partidária —o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM), diz que o ex-auxiliar apresentava excelente currículo.

Ele chegou a ser indicado para a diretoria da Anvisa em outubro de 2020, mas o Planalto voltou atrás depois de reportagem do jornal O Estado de S. Paulo sobre um contrato duvidoso que assinara.

Noticia-se agora, a partir de informações extraoficiais, que outro ex-ministro, o general Eduardo Pazuello, tentou demitir o servidor —o então presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), porém, teria atuado contra a medida.

A Saúde detém um dos maiores orçamentos do Executivo. Com a pandemia, teve gastos empenhados de R$ 175 bilhões em 2020. Ainda que grande parte do montante seja composta por repasses a estados e municípios, há dinheiro mais do que suficiente para atrair cobiças pouco ou nada republicanas.

O entra e sai de ministros e o aparelhamento militar da pasta decerto não contribuíram para uma gestão mais eficiente dos recursos. Quanto à probidade, a resposta do governo às suspeitas e acusações tem sido esparsa e atabalhoada.

Diz-se, por exemplo, que não foram encontradas irregularidades na compra da Covaxin, mas anuncia-se a suspensão do contrato.

Não se ignora que casos de loteamento e desmandos no setor vêm de longa data. Tampouco se imagina que um governo possa abrir mão de distribuir cargos a aliados —somente populistas como Jair Bolsonaro, aliás, bravateiam que prescindirão da barganha política.

O fisiologismo mais deletério, entretanto, se dá quando são frágeis os laços programáticos da coalizão e quando não há diretrizes claras para a gestão de áreas essenciais. Que isso tenha ocorrido na Saúde, durante a maior emergência sanitária em um século, dá a dimensão da tragédia produzida no Brasil.

editoriais@grupofolha.com.br

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas