Ao longo de três semanas, a população em torno de Águas Lindas de Goiás, vizinha a oeste da capital federal, enfrentou compreensível desassossego, se não pânico, com a perseguição a Lázaro Barbosa, apontado como autor de uma chacina na cidade-satélite de Ceilândia (DF) no dia 9 de junho.
Naquele crime brutal, segundo a polícia, Barbosa matou Cláudio Vidal, dono da chácara, e dois filhos. Levou a mulher de Vidal como refém e depois, já em fuga, também a assassinou. Três dias depois teria disparado contra três homens, roubado armas e veículos e trocado tiros com fazendeiros.
Montou-se operação espetacular de busca ao criminoso —de longo histórico de mandados de prisão e fugas. Centenas de policiais vasculharam a área, por longos dias de insucesso, até que o emboscaram e abateram disparando 125 tiros, dos quais 38 acertaram Barbosa.
A saga despertou compreensível interesse do público —e o desenlace provavelmente resultou em alívio para os moradores das redondezas. Não há o que celebrar, porém, na exploração do caso por autoridades de todos os escalões.
Proliferaram em instantes cenas deprimentes de agentes públicos a comemorar o desfecho sangrento, de policiais ao governador e ao próprio presidente da República.
“CPF cancelado”, permitiu-se escrever Jair Bolsonaro em rede social. Reproduziu, com a falta habitual de decoro, um bordão vil cunhado em programas de TV que enaltecem a execução de meros suspeitos por agentes armados.
Fomenta-se, desde o ápice do poder civil, uma cultura de vingança em substituição à Justiça, de brutalidade policial em lugar do império da lei. Não existe pena de morte no Brasil, cabe relembrar.
Não se trata aqui de condescendência com criminosos —e o fato de um indivíduo obviamente perigoso ter estado foragido por tanto tempo decerto configura uma fragilidade do poder público. Entretanto as teses populistas para a segurança resultam, inevitavelmente, em más políticas de governo.
Num exemplo, Bolsonaro usou o caso para defender sua temerária ofensiva para facilitar o acesso da população a armas de fogo.
Barbosa portava mais de R$ 4.000 ao ser baleado; não se sabe se agiu a mando de terceiros e de quantas conexões dispunha. Sua morte no mínimo dificulta tal investigação, o que deveria ser lamentado.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.