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Ressaca chinesa

Crise da Evergrande, que preocupa o mundo, é sintoma do inchaço do setor no país

Complexo imobiliário da Evergrande em Guangzhou, na China - Noel Celis/AFP

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Nas últimas décadas o motor de crescimento chinês levou a economia do país à segunda posição no ranking global e ao status de maior nação comercial. Parte importante desse processo veio da construção civil, que atendeu a demanda oriunda da urbanização acelerada, mas também se tornou símbolo de excessos e riscos financeiros.

Cada vez mais, o que ocorre no setor financeiro do país provoca impactos além de suas fronteiras. Evidência disso é o abalo nos mercados globais em razão dos temores de contágio da provável falência da Evergrande, a maior incorporadora imobiliária do país.

Tornaram-se comuns comparações com a quebra do Lehman Brothers, estopim da fase mais aguda da crise financeira de 2008. A dívida da empresa de fato é gigantesca, na casa dos US$ 300 bilhões, a maior parte com credores locais, de bancos a pequenos fornecedores e mutuários que pagaram por apartamentos não entregues.

À diferença do caso americano, contudo, é provável que as ramificações financeiras sejam mais controladas desta vez, pois o governo central comanda os bancos, que podem rolar empréstimos.

O cenário não parece ser de crise bancária, mas de desmontagem da empresa e liquidação gradual de estoques e passivos. Com grandes vencimentos de dívidas nas próximas semanas e incertezas sobre como o governo lidará com o problema, a ansiedade dos mercados permanece alta.

Mesmo que haja solução ordenada, todavia, há o problema mais amplo, do qual a Evergrande é um sintoma. Algumas estimativas apontam que a construção representa cerca de 20% do Produto Interno Bruto chinês, o dobro ou o triplo do que se observa em grande parte dos países.

Durante ao menos duas décadas o sistema cresceu com endividamento fácil e por interesses locais. Desde que o governo intensificou restrições em 2020, há mais dificuldades de financiamento.

Nos últimos meses se acelerou a queda de vendas e preços, e o risco agora é que tal dinâmica seja difícil de controlar. Num sistema com excesso de dívidas, pode ser mortal para as empresas um colapso no preço de seus estoques.

O problema se estende às famílias, com parte importante de sua riqueza materializada em imóveis.
Ainda que o gigante asiático, como parece provável, seja capaz de evitar uma crise financeira no sentido estrito, será difícil escapar de uma desaceleração do crescimento econômico, ao menos por algum tempo, o que traz implicações amplas para o restante do mundo.

editoriais@grupofolha.com.br

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