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O que a Folha pensa COP26

Desmate pedalado

Com 13.235 km devastados na Amazônia, evapora-se o verniz verde exibido na COP26

Área desmatada no Mato Grosso - Florian Plaucheu - 7.ago.21/AFP

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Agora se entende melhor por que o governo Jair Bolsonaro evitou divulgar antes da COP26 o dado anual de desmatamento em 2021: o número continua a crescer de forma alarmante. Não combinaria com a imagem de país comportado ensaiada na recém-concluída cúpula do clima anunciar 13.235 km² de devastação na Amazônia Legal.

A estatística do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais é a pior desde 2006 e implica aumento de 22% sobre o apurado um ano antes, 10.851 km². Consolida-se a volta ao patamar de cinco dígitos, por força das políticas ambientais (ou ausência delas) capitaneadas por um hoje ex-ministro de péssima lembrança, Ricardo Salles.

As taxas atuais evocam as de períodos anteriores a políticas de controle do desmate, que lograram reduzir o corte da floresta a 4.600 km² em 2012. Depois de anos de cifras moderadas, verificou-se um salto de 29% de 2018 para 2019. A superfície devastada no ano mais recente corresponde a metade do território do estado de Alagoas.

Algo como 750 milhões de árvores foram ao chão em 12 meses, enquanto o governo se aliava à banda mais atrasada do agronegócio, manietava Ibama e ICMBio, paralisava demarcações de terras indígenas e quilombolas estipuladas na Constituição e arrancava nacos das unidades de conservação.

O próprio setor rural, e com ele o país, deverá sentir no bolso as consequências da ação política temerária. Um dia antes de desovar os números atrasados do desmatamento, o governo de Bolsonaro viu a Comissão Europeia propor o banimento de importações de soja e carne ligadas a desmatamento.

Aprovada a moção, o ônus da prova recairá sobre produtores e "traders": evidenciar que suas commodities não cresceram em terras oriundas de desmatamento, suas próprias ou de terceiros.

A pecuária, mais afeita ao negacionismo ambiental e climático, já enfrentava dificuldade com a recusa chinesa a receber carne brasileira, sob alegação de dois casos isolados de doença da vaca louca.

Agora são os EUA que ameaçam seguir a mesma trilha da pressão, usando qualquer pretexto disponível para pressionar Brasília. O lobby dos produtores americanos alega que o Brasil não se compromete a informar com a devida presteza eventuais problemas sanitários.

Bolsonaro e seu ministro Joaquim Leite talvez tenham achado que iriam engabelar chefes de Estado e de governo em Glasgow com a mesma facilidade com que inundam as redes sociais com notícias fraudulentas e delirantes. Estão aí os dados para desmoralizá-los.

editoriais@grupofolha.com.br

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