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Rússia refugiados

A diferença no acolhimento de sírios e ucranianos

É difícil negar o fundo discriminatório dessa seletividade

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Flávia Mantovani

Repórter de Mundo e autora do blog Babel Paulistana

Nesta semana, enquanto acompanhava uma aula de português para ucranianos em uma igreja do interior paulista, fui tomada por uma sensação de déjà-vu. A cena era praticamente idêntica a outra que presenciei sete anos atrás, quando sírios recém-chegados aprendiam o idioma em uma mesquita de São Paulo.

Afora o endereço, o tom de pele e as roupas dos alunos, o restante se repetia: as carteiras escolares no prédio religioso, a turma com crianças e adultos de três gerações, o louvável esforço dos mais velhos para encontrar fôlego para recomeçar.

A semelhança entre os fluxos de refugiados sírios e ucranianos —a rigor, pessoas forçadas a migrar após terem suas rotinas atravessadas pela guerra— reforça minha incompreensão sobre por que são recebidos de formas tão diferentes, especialmente nos países da Europa.

É sabido, e esperado, que fatores como proximidade geográfica e cultural, perfil demográfico (se são mulheres e crianças ou homens solteiros) e afinidades geopolíticas influenciam na maior ou menor receptividade a certos grupos de migrantes.

Mas isso não parece suficiente para justificar o abismo entre o acolhimento a ucranianos em 2022 e a sírios e afegãos em 2015 (e até hoje). A mesma Europa que fechou as fronteiras, confinou refugiados em campos insalubres e impôs restrições extras à sua entrada no mesmo ano em que 5.000 se afogaram no Mediterrâneo (2016) acolhe os ucranianos de braços abertos —como merecem, aliás, aqueles que deixam uma vida inteira para trás fugindo de bombas.

Estudos sobre o êxodo sírio mostraram que dois dos argumentos usados para repelir imigrantes muçulmanos —preocupações com a segurança e a economia— não se sustentam, o que torna difícil negar o fundo discriminatório dessa seletividade.

Em 2015, ao justificar a acolhida a 1 milhão de sírios, a alemã Angela Merkel disse a famosa frase "Wir schaffen das" (nós podemos lidar com isso). A crise ucraniana mostrou que outros países europeus também podem. A questão é se eles querem.

Desde 8/4, quando desembarcaram no Brasil, os afegãos refugiados Mohammad Zahim Nasimi (31), sua esposa Khalida (28) e seus filhos Ahmad Zergai (10), Sofia (8) e Surab (6), dormem no Aeroporto Internacional de Guarulhos - Bruno Santos/Folhapress

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