Descrição de chapéu
O que a Folha pensa Rússia

As cartas de Putin

Apesar de reveses, russo mantém apoio doméstico e prepara nova fase da guerra

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O presidente da Rússia, Vladimir Putin - Evgeny Biyatov/Kremlin via Reuters

Vladimir Putin não logrou conquistar Kiev, e a Rússia sofre sanções draconianas impostas pelo Ocidente, que devem levar a economia a uma grave recessão. A um desavisado poderia surpreender que, a despeito das consequências da infame invasão da Ucrânia, o autocrata russo mantém forte apoio doméstico e a iniciativa no conflito.

Na frente militar, Putin fracassou no aparente desejo de vencer a guerra com a mera demonstração de força. O ataque com vários eixos divergentes mostrou-se um erro, dada a dispersão de esforços.
A Rússia, todavia, obteve sucesso no estabelecimento de um corredor ligando as áreas russófonas do leste, o Donbass, à Crimeia que o regime anexou em 2014.

Com isso, estão dadas as condições para outra fase da guerra, focada na região do Donbass e com reforços vindos da cercania de Kiev e de pontos da Rússia. Para liderá-los, um general conhecido pela brutalidade na guerra civil da Síria.

A nova disposição tática, que favorece manobras e apoio aéreo, e não o combate urbano até aqui, é mau sinal para a Ucrânia. Resta saber o que Putin fará se conseguir esmagar as forças adversárias: forçar o fim do conflito ou ir além.

Na frente doméstica, a situação do presidente é mais confortável. Pesquisa do instituto Levada mostra que sua popularidade saltou de 71% para o recorde de 83%.

Embora a economia sinta o impacto das sanções, o país tem resistido, principalmente, ao manter boa parte de sua exportação de energia, inclusive para a Europa que o fustiga. No primeiro mês da guerra, para cada € 1 de ajuda concedida pelo continente a Kiev, € 35 eram pagos a empresas russas, segundo a Comissão Europeia.

O rublo, até por manobras como a exigência de seu uso em transações externas, voltou ao nível pré-guerra. Há inflação, mas nada explosivo como em alguns vizinhos.

Nesta terça (12), Putin voltou a cantar uma vitória que inexiste. Sua posição será precária caso o esforço no Donbass falhe, o que prenuncia uma radicalização perigosa para todo o mundo, a começar pela sociedade russa.

A pressão das sanções, ora driblada, pode se tornar insuportável e obrigá-lo a negociar, o que só fará com algum trunfo militar. Ou vai dobrar a aposta no conflito com o Ocidente, o que ameaça ser pior.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.