Separar Estado e religião, de novo
Assim como no século 18, carecemos de instituições agnósticas
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A confiança cria pontes, a desconfiança cava trincheiras. Como argumenta Kevin Vallier em "Trust in a Polarized Age", sociedades confiantes têm menos propensão à polarização política. A confiança social melhora a coordenação e cooperação entre grupos, reduzindo os custos de construir acordos e fazer reformas.
Vallier traz uma lição ao Brasil: aumentar a confiança institucional reduz a polarização. Por outro lado, tentar reduzi-la por meio de medidas iliberais, como censura e exceções ao Estado de Direito, mina ainda mais a confiança nas instituições.
A polarização atual é a mais recente manifestação de um antigo tribalismo, historicamente domado por inovações institucionais e tecnológicas. Podemos aprender com a história da religião. A Europa se livrou de guerras religiosas e conflitos sectários dos séculos 17 e 18 não pela força autoritária, mas por uma separação liberal entre Estado e religião.
A liberdade de crença e expressão protegeu minorias religiosas e cultivou um terreno comum de respeito e entendimento. O Estado agnóstico substituiu a imposição da sua verdade por uma cultura de persuasão, reforçando responsabilidade social e tolerância religiosa. A propriedade privada ofereceu estabilidade à esfera individual. Respeitar crenças alheias tornou-se não apenas ato de cortesia, mas princípio moral.
Como diz Cass Sunstein, "[liberais] consideram o tribalismo um obstáculo ao respeito mútuo (…). É melhor focar nos méritos das questões, não em uma ou outra identidade". Mais que debate de ideias, liberalismo é um processo de destribalização da sociedade.
Hoje enfrentamos novas "guerras religiosas" em formato político-partidário. Assim como no século 18, carecemos de instituições agnósticas. Tribunais, palácios e Parlamentos devem ter a humildade de buscar confiança social em vez de atuar como templos para certas crenças. Precisamos uma vez mais aprender a separar Estado e religião.
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