Academia e ideologia
Renúncia da reitora de Harvard revela efeito da guerra cultural em universidades
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O ataque terrorista a Israel acirrou ainda mais a chamada guerra cultural que vem produzindo efeitos temerários nas universidade americanas. A recente renúncia da reitora da Universidade Harvard, Claudine Gay, tem como pano de fundo esse fenômeno.
A dura reação israelense, que fez centenas de vítimas civis, gerou uma onda de manifestações pró-Palestina em instituições de ensino superior dos EUA. Alunos publicaram textos nos quais imputavam ao "regime de apartheid" em Gaza a causa da ofensiva do Hamas.
A retórica que culpa a vítima e a confusão entre o apoio ao povo palestino e ao grupo terrorista gerou críticas que levaram à instauração de um comitê na Câmara dos EUA.
Durante depoimento de três reitoras, uma congressista republicana perguntou se defender o genocídio de judeus violaria o código de conduta das instituições. Nenhuma das ouvidas afirmou diretamente que "sim"; Claudine Gay disse que "depende do contexto".
A polêmica resultou na renúncia de Liz Magill, da Universidade da Pensilvânia. Já Harvard endossou a posição de Gay.
Nas últimas semanas, contudo, um escrutínio sobre seu trabalho acadêmico revelou trechos praticamente iguais aos de outros autores sem a devida citação, o que poderia ser considerado plágio.
Ademais, especialistas em educação superior apontam a incompatibilidade entre o posto então por ela ocupado e sua precária trajetória acadêmica —só 11 artigos publicados em revistas científicas ao longo de 26 anos de carreira.
A pressão levou à renúncia, que vem sendo usada como arma em uma disputa ideológica.
Argumenta-se que a ex-reitora foi perseguida por ser mulher e negra, e é uma pena que a própria Gay tenha se valido desse subterfúgio. Afinal, cientistas homens e brancos também sofrem consequências por falta de rigor em pesquisas —como o reitor da Universidade Stanford, que renunciou em julho do ano passado.
O episódio revela como o foco excessivo em questões políticas na universidade, à esquerda e à direita, gera distorções na sua missão de buscar a excelência acadêmica.
Por óbvio, o debate sobre problemas sociais não pode ser ignorado, mas deve ser travado com sensatez e respeito à liberdade. A renúncia de Gay suscita reflexão sobre os rumos do ensino superior —que, pelo visto, demanda equilíbrio entre ciência e política.
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