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Ademilson Zamboni e JP Amaral

Precisamos desplastificar a infância

Acúmulo de brinquedos com material de baixa qualidade é risco à saúde e à natureza

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Ademilson Zamboni

Oceanógrafo, é diretor-geral da Oceana

JP Amaral

Gerente de Natureza do Instituto Alana

É provável que muitas das 350 mil bonecas Barbie fabricadas no primeiro lote, em 1959, ainda estejam entre nós. Algumas permanecem em mãos de colecionadores, outras milhares devem estar flutuando no oceano ou soterradas em aterros e lixões.

Neste domingo (7), Dia Mundial da Saúde, vale ressaltar que a relação entre brinquedos de plástico e a infância pode ser tóxica em diversos aspectos. Uma única boneca pode conter cinco tipos diferentes de plásticos —além de aditivos químicos. Se pensarmos que 90% dos brinquedos são feitos com plásticos de baixa reciclabilidade e que contêm substâncias tóxicas, como os ftalatos e o bisfenol A, não é exagero imaginar que quartos infantis e brinquedotecas estão contaminados.

Esse dado alarmante é da pesquisa "Infância Plastificada - O impacto da publicidade infantil de brinquedos plásticos na saúde de crianças e no ambiente", encomendada pelo Instituto Alana. O estudo afirma que, entre 2018 e 2030, será produzida no Brasil 1 milhão de toneladas de brinquedos plásticos e revela que a indústria de brinquedos é a que mais investe em publicidade voltada ao consumo infantil.

O incentivo ao consumo desenfreado é alimentado pelo baixo custo de brinquedos plásticos que são, muitas vezes, a escolha mais acessível para famílias de baixa renda. Essa tríade de acessibilidade financeira, custo reduzido e cultura de descarte resulta em uma infância excessivamente dependente do plástico, com pouco incentivo para brinquedos artesanais ou de materiais mais sustentáveis, como a madeira.

Essa realidade também se traduz em uma quantidade exagerada de resíduos plásticos gerados que, após se fragmentarem, dão origem aos microplásticos. Essas partículas já estão na corrente sanguínea, no leite materno, na placenta e no coração humanos —fazendo com que a contaminação por plástico seja uma questão de saúde pública.

Diante desse contexto, a ONU Meio Ambiente lidera um processo de construção de um Tratado Global Contra a Poluição Plástica, juridicamente vinculante. A próxima reunião do Comitê de Negociação Intergovernamental será neste mês, no Canadá, e discutirá, dentre outras medidas, a redução da produção de plásticos desnecessários.

Aqui no Brasil ainda temos muito que avançar. Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei 2.524, que visa implementar uma economia circular para o plástico e reduzir a exorbitante oferta desse material. Por ano, o Brasil despeja mais de 325 milhões de quilos de plástico no mar, segundo o estudo "Um Oceano Livre de Plásticos", da Oceana.

Um total de 79 organizações da sociedade civil integram a campanha "Pare o Tsunami de Plástico", voltada a promover o diálogo com a sociedade e angariar apoio a esse projeto, considerado hoje o caminho mais promissor, justo e necessário para pensar num Brasil menos plastificado, inclusive para nossas crianças.

O convite para que governos e setor privado liderem essa transição já está posto à mesa. É urgente que a imaginação do futuro e as ações concretas andem em compasso no presente.

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