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Moises Rabinovici

Terra prometida, terra sem paz

Ação política de Israel e ocupação militar e civil tornam inviável um Estado palestino

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Moises Rabinovici

Jornalista, foi correspondente no Oriente Médio, nos Estados Unidos e na França

O Parlamento de Israel rejeitou a criação de um Estado palestino na quinta-feira (18). No dia seguinte, a Corte Internacional de Justiça, em Haia, julgou que a ocupação israelense nos territórios palestinos da Cisjordânia, do Golã e de parte de Jerusalém é ilegal e deve ser encerrada.

E nada aconteceu. Nem palestinos nem israelenses comemoraram ou protestaram. Faz 47 anos que a ocupação da Cisjordânia é considerada ilegal pela Assembleia e pelo Conselho de Segurança da ONU e pelos últimos seis presidentes dos EUA. Mas Israel sempre foi (e vai) em frente: criou 144 colônias nos territórios ocupados em 1967, na Guerra dos Seis Dias, e nelas vivem hoje 500 mil colonos —e mais 220 mil em Jerusalém Oriental. Ainda sobra espaço para um Estado palestino? Não.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, discursa durante sessão do Knesset em Jerusalém - Ronen Zvulun - 17.jul;24/Reuters - REUTERS

O primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, respondeu à Corte de Haia no domingo (21): "O povo de Israel não é um ocupante em sua própria terra e em sua capital eterna, Jerusalém". É a terra prometida por Deus a Abraão, a Judeia e Samaria bíblicas.

A terra prometida foi parcialmente ressuscitada em 1948, pela ONU. Prometida, mas não protegida e imune a ataques desde o primeiro dia de independência —Israel consolidou uma política de ocupação que considera essencial à sua segurança. E que, na prática, inviabiliza um Estado palestino.

A conquista do deserto do Sinai, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, de Gaza e do Golã, na guerra contra o Egito, Síria e Jordânia, era para ser provisória. Eu vivia ao lado de Gaza, como voluntário, no kibutz Reim, devastado no ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023. Arava o deserto à noite, com a escolta de um árabe druso armado, porque o farol aceso do trator poderia atrair atacantes palestinos. Era a época em que o Partido Trabalhista estava no poder, com Levi Eshkol. Foi ele quem criou a primeira colônia nos territórios conquistados, Kfar Etzion, ao sul da Cisjordânia, em setembro de 1967.

A base dos trabalhistas para a colonização foi o Plano Alon, de Yigal Alon, que chegou a ser primeiro-ministro interino. Ele previa a anexação de Jerusalém Oriental, de Gush Etzion e do Vale do Jordão, e funcionou até o governo de Yitzhak Rabin.

Muitas colônias nasceram como Nahal, ou postos militares, e depois foram entregues a civis. Isso porque, para uso militar, as terras podem ser confiscadas.

Com o primeiro-ministro Menachem Begin, em 1977, a colonização deu um salto. Os religiosos e nacionalistas o saudaram como aquele que resgataria toda a "terra prometida" — um novo "messias". Ele só devolveu o Sinai, em troca da paz com o Egito, e a colônia de Yamit, a "nascida do mar".

Acusado de criar "obstáculos à paz", com as colônias que brotavam por todos os territórios sob negociação, com status a definir, o premiê Begin nunca se intimidou. "Provisório", era a sua justificativa, sempre. Israel anexou Jerusalém Oriental e o Golã, da Síria, por leis aprovadas pelo Parlamento, e saiu em 2005 de Gaza, que agora está destruindo em represália ao massacre do Hamas, com mais de 1.500 israelenses e 38 mil palestinos mortos.

O governo atual de Netanyahu está sob pressão do acordo de coalizão feito em 1º de dezembro de 2022, com o partido de extrema direita e ultranacionalista Sionismo Religioso, para estender a soberania israelense sobre a Judeia e Samaria —ou a Cisjordânia, a "terra prometida" pelo presidente Joe Biden aos palestinos.

O ex-presidente Donald Trump transferiu a embaixada dos EUA de Tel-Aviv para Jerusalém e reconheceu a soberania de Israel sobre as colinas sírias do Golã. Lá, desde 2019, ele ganhou, em gratidão, uma comunidade batizada de Ramat Trump, ou Colina de Trump, numa altitude maior que o prédio Trump Tower, em Nova York. O ex-presidente pode ser eleito neste fim de ano, para alegria de Netanyahu, que tem um discurso previsto para as duas Casas do Congresso, em Washington, nesta quarta-feira (24).

Sem Biden e sem os democratas na Casa Branca, o projeto da Palestina pode desaparecer, no Oriente Médio sem paz.

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