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Rudá Ricci

Ideb 2023 mostra que não é só sobre dinheiro

Práticas pedagógicas obsoletas devem dar lugar a metodologias que valorizem o desenvolvimento do aluno

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Rudá Ricci

Cientista político, é presidente do Instituto Cultiva

O fracasso da educação no Brasil é um problema que vai além da simples falta de recursos financeiros.

Para compreender esse drama, é preciso enxergar a grave desconexão existente entre as duas etapas do ensino. Nos anos iniciais, ou fundamental 1, o ensino se baseia em métodos construtivistas, focados no comportamento emocional dos alunos. Mas, a partir do ensino fundamental 2, ocorre uma esquizofrenia nas políticas educacionais, que migram para uma formação técnica, pautada pela memorização dos conteúdos. Isso implica uma educação fragmentada, que não atende às necessidades do desenvolvimento integral dos alunos, resultando nos dados revelados na última quarta-feira (14) pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Calculado a cada dois anos, a partir da taxa de aprovação das escolas e das médias dos alunos em matemática e português, o Ideb, por si só, apresenta falhas no seu papel de indicador de qualidade para a educação no país. Ainda assim, essa régua nos mostra que, quanto mais o aluno se aproxima dos anos finais do ensino fundamental, pior é a sua nota. Nos anos iniciais do ensino fundamental, o Ideb nacional foi de 6, um aumento em relação aos 5,8 de 2021. Já nos anos finais, o índice ficou em 5, abaixo da meta de 5,5. Quando olhamos para o ensino médio, vemos um Ideb de 4,3 —muito aquém da meta de 5,2 para este primeiro ciclo do indicador (2007-2021).

Alunos assistem à aula na Emef Professora Sylvia Martin Pires, na zona sul de São Paulo - Rivaldo Gomes - 25.out.21/Folhapress

Esses números reforçam a crítica ao modelo de ensino brasileiro, que permanece preso a uma visão taylorista, que valoriza o controle e a padronização e impede o desenvolvimento pleno das habilidades cognitivas dos alunos. Ao forçar adolescentes a memorizar conteúdos sem contexto ou propósito, o sistema educacional falha em prepará-los para os desafios do mundo contemporâneo. Essa metodologia obsoleta, portanto, só contribui para a alta evasão escolar.

Mesmo as escolas particulares, que tradicionalmente apresentam melhores resultados que as públicas, enfrentaram dificuldades. Segundo o Ideb 2023, o desempenho das instituições privadas estagnou, sem ter sequer atingido as metas de aprendizado nas duas etapas da educação básica. O fato de a rede particular ainda manter resultados superiores se deve, em grande parte, à maior presença e participação dos pais na vida escolar dos alunos, algo que a rede pública não consegue replicar por conta das já conhecidas desigualdades socioeconômicas da população mais pobre.

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Se a crise na educação brasileira não se resolve apenas com injeção de recursos, então o que se há de fazer? A má notícia é que nada vai mudar enquanto o Brasil não adotar novas diretrizes pedagógicas, verdadeiramente eficazes. Práticas pedagógicas obsoletas devem dar lugar a metodologias que valorizem o desenvolvimento do aluno como um todo. Apenas assim será possível formar cidadãos críticos, criativos e emocionalmente equilibrados, capazes de enfrentar os desafios do século 21 com competência e humanidade. Isso, sim, é um indicador de qualidade.

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