Desigualdades

Editada por Maria Brant, jornalista, mestre em direitos humanos pela LSE e doutora em relações internacionais pela USP, e por Renata Boulos, coordenadora-executiva da rede ABCD (Ação Brasileira de Combate às Desigualdades), a coluna examina as várias desigualdades que afetam o Brasil e as políticas que as fazem persistir

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Desigualdades
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Kelly Baptista

Combate à evasão escolar exige compromisso público

Políticas públicas devem aliar o uso da tecnologia a programas sociais

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Kelly Baptista

Diretora executiva da Fundação 1Bi, gestora pública, membro da Rede de Líderes Fundação Lemann e do conselho Despertar, CMOV e Cruzando Histórias

No mês passado, foram divulgados os dados do Censo Escolar da Educação Básica 2023 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2016-2023 (Pnad), realizada pelo IBGE.

Segundo a Pnad, mesmo com sinais de melhora em alguns indicadores, aproximadamente 8,8 milhões de jovens de 18 a 29 anos não completaram o ensino médio e não estão inscritos em nenhuma instituição de ensino básico (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio). Considerando todas as idades, o país tem mais de 68 milhões de pessoas sem formação básica.

Dados do Censo Escolar indicam que o ensino médio é o nível com maior índice de evasão. Entre 2020 e 2021, 7% dos estudantes do 1º ano do ensino médio deixaram a escola, e 4,1% foram reprovados. Além disso, entre 2022 e 2023, observou-se uma queda de 7% nas matrículas da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Jenifer Lopes Soares, 19, trabalha de dia em uma tecelaria e estuda à noite no sistema EJA - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Esses dados alertam para a necessidade urgente de políticas voltadas para a retenção de jovens e adolescentes nos anos finais. Um estudo do Instituto Ayrton Senna afirma que a reprovação é um dos principais motivos para o abandono dos estudos na educação básica, mas há outros fatores a serem observados, tais como a falta de transporte, vestuário, alimentação e material para estudos.

Entre os possíveis prejuízos decorrentes desta alta taxa de evasão estão desde o despreparo profissional —e consequente dificuldade para arrumar emprego— até problemas de saúde mental, complementa a pesquisa. Segundo o IBGE, o índice de desemprego entre jovens periféricos chegou a 23% em 2022.

Diante da persistência das desigualdades educacionais, organizações da sociedade civil vêm promovendo iniciativas para apoiar jovens nessa faixa etária a encontrar caminhos para se desenvolver, seja por meio da educação e oferecimento gratuito de tecnologias, seja pelo incentivo a processos educativos e construção de conhecimento comunitário em regiões periféricas urbanas e rurais do país.

O Programadores do Amanhã, por exemplo, uma iniciativa criada em 2019 por Cleber Guedes, tem o objetivo de apoiar jovens periféricos de todo o Brasil que desejem ingressar na área de tecnologia. Para impulsionar o crescimento profissional desses jovens, o projeto conta com processos de ensino de programação, aulas de inglês e acompanhamento psicológico. Além disso, o coletivo cria conexões entre seus alunos e o mercado de trabalho.

Ingrid Paulino, uma das alunas que completaram a formação no Programadores do Amanhã
Ingrid Paulino, uma das alunas que completaram a formação no Programadores do Amanhã - programadoresdoamanha.org

O programa já formou mais de 300 jovens em todo país, tendo gerado mais de R$ 1 milhão em renda. A idade média de conquista de emprego para os estudantes do programa é 18 anos, e sua remuneração média é de cerca de R$ 3.600, ou seja, mais de dois salários mínimos, o que representa uma elevação média de 245% na renda familiar dos alunos. Para 2024, a previsão é formar mais 300 jovens.

Em outra vertente, a Fundação 1 Bi, instituição social que nasceu em 2019 com o objetivo de utilizar o poder das ferramentas digitais para promover novas oportunidades aos jovens brasileiros, atua diretamente com jovens em situação de vulnerabilidade por meio do AprendiZAP.

Imagem do site da Fundação 1bi
Imagem do site da Fundação [1bi] - Fundação [1bi]

A iniciativa oferece ferramentas aos professores de escolas públicas para que encontrem novas estratégias para despertar a atenção dos estudantes, com mais de 10 mil conteúdos e atividades disponíveis de forma gratuita, auxílio na construção de planos de aulas de acordo com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), metodologias ativas que inserem o estudante no centro da aprendizagem e uso de inteligência artificial em sala de aula.

Mas, ainda que a tecnologia possa ser um caminho para reduzir desigualdades, não conseguiremos ter o impacto que desejamos com ações isoladas. Para alavancar o desenvolvimento dos estudantes e reduzir a evasão escolar, é preciso haver investimentos em políticas públicas que aliem o uso da tecnologia a programas sociais.

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