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Wagner Menezes

Elevação do nível do mar e governança

Realidade impõe desafios ao Brasil, como a tomada de decisões políticas para a complexa adaptação

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Wagner Menezes

Professor da Faculdade de Direito da USP, foi consultor jurídico da ONU e realizou pesquisa e estágio junto ao Tribunal Internacional do Direito do Mar (Hamburgo, Alemanha)

A Organização das Nações Unidas emitiu um alerta alarmante sobre os impactos da rápida elevação do nível do Oceano Pacífico, classificando a situação como "catástrofe em escala mundial". Um relatório publicado em agosto último pela Organização Meteorológica Mundial revelou aumento de 15 centímetros no nível do oceano nas últimas três décadas. As principais causas incluem as emissões de CO2, que intensificam o aquecimento global, acelerando o derretimento das calotas polares e a expansão térmica dos oceanos.

A elevação do nível dos oceanos não é uma questão hipotética ou uma manchete exagerada. Trata-se de uma realidade que impõe desafios imediatos à humanidade, especialmente para países com extensa costa marítima, como o Brasil. Esse fenômeno global exige discussões urgentes e a implementação de regras de governança.

Simon Kofe, ministro da Justiça, Comunicação e Assuntos Internacionais de Tuvalu, faz um discurso dentro do mar que foi exibido na COP26; o país corre o risco de desaparecer por causa da crise climática - Reuters - via REUTERS

Regiões costeiras e ilhas vulneráveis enfrentam o risco iminente de submersão, perda de território e alterações nas linhas de base para a delimitação do mar territorial. Há impactos diretos nas comunidades locais, como a necessidade de deslocamento populacional, destruição de infraestrutura costeira e portuária e necessária adaptação das normas de navegação.

As autoridades governamentais devem iniciar um debate amplo com a sociedade sobre a atualização das normas que regulam o uso do mar. Os impactos sobre as instalações portuárias, a necessidade de alteração das rotas marítimas, o aumento de eventos climáticos extremos e a mudança nos perfis costeiros exigem revisão e adaptação das regulamentações atuais. Esse debate deve envolver especialistas, legisladores e representantes da comunidade marítima para a elaboração de um plano nacional para enfrentamento do fenômeno.

Portos e cidades costeiras devem se preparar, adotando estruturas resilientes capazes de enfrentar a elevação do nível do mar. A construção e adaptação de infraestruturas, como barreiras costeiras, sistemas de drenagem avançados e edificações elevadas servirão para mitigar os riscos de inundações e erosão. A implementação de planos de evacuação e estratégias de recuperação econômica são cruciais para minimizar os danos causados por desastres naturais.

Atividades econômicas costeiras, como turismo, lazer e serviços enfrentam um potencial risco, impactando negativamente as economias locais que dependem dessas atividades. A erosão costeira e as inundações ameaçam a infraestrutura turística, como hotéis, restaurantes e marinas. O replanejamento urbano e a adoção de estratégias de adaptação podem mitigar os prejuízos e preservar o setor turístico.

As comunidades tradicionais, que dependem diretamente dos recursos costeiros, serão profundamente afetadas pela elevação do nível do mar. A perda de terras, a salinização dos recursos hídricos e a destruição de habitats naturais ameaçam não apenas a subsistência dessas comunidades mas sua cultura e modo de vida. Essas populações estarão entre as mais vulneráveis, necessitando de políticas de adaptação e apoio social.

Podem ser desencadeadas disputas jurídicas, especialmente em contratos relacionados a imóveis costeiros, seguros e direitos de uso dos recursos marítimos.

Contratos como arrendamentos e concessões de terras costeiras podem se tornar inviáveis ou necessitar de renegociação devido à perda de áreas submersas ou de riscos associados.

As apólices de seguro precisarão ser revisadas para incluir novos riscos, o que pode aumentar os custos ou excluir certas coberturas.

A urgência da questão demanda que se iniciem imediatamente discussões e sejam tomadas decisões políticas sobre a adaptação da governança normativa dos espaços marítimos frente à nova realidade imposta pela elevação do nível do mar. Somente por meio de uma abordagem conjunta será possível mitigar os impactos dessa crise e garantir a resiliência das atividades costeiras dos países afetados. Mas é preciso agir.

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