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O que a Folha pensa Venezuela

Brasil precisa subir o tom contra Maduro

Diplomacia de Lula deve se aliar às de outros países e condenar reeleição farsesca e a ordem de prisão de González

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Edmundo González, candidato de oposição ao ditador Nicolás Maduro na eleição venezuelana - Juan Barreto/AFP

Já passa da hora de o Brasil posicionar-se com a devida firmeza contra a ditadura de Nicolás Maduro. O diálogo bilateral se esvaziou, e mais uma atitude evasiva ante o recrudescimento do autoritarismo de Caracas emitirá atestado de cumplicidade.

Prisões ilegais de jornalistas, manifestantes da oposição e até crianças não permitem mais qualquer tentativa do governo federal de justificar o regime de terror na Venezuela.

Todas essas ações violentas já são notórias há anos, como atestam investigações do Tribunal Penal Internacional e da ONU. O recente pleito de araque foi apenas mais uma demonstração de abuso de poder e desrespeito a princípios democráticos.

Desrespeito também ao governo brasileiro, que em 2023 selou ao lado dos Estados Unidos o Acordo de Barbados, no qual Maduro se comprometeu a realizar eleições justas e transparentes.

Com a descabida ordem de prisão expedida na segunda (2) pelo Ministério Público do país contra Edmundo González, adversário vitorioso de Maduro nas urnas, perdeu sentido de vez a orientação diplomática de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A alegação de que González ignorou intimações da Justiça para depor sobre a acusação de fraude eleitoral feita pela oposição, atestada por organismos internacionais, só deixa claro que se trata de fato de perseguição política.

Pressionar o regime a divulgar as atas eleitorais, antes de pronunciar seu reconhecimento da vitória do caudilho, só garantiu tempo para o poder de polícia estatal avançar contra a oposição —e sugerir nova eleição foi uma ideia despropositada.

Declarado vitorioso pelo Conselho Nacional Eleitoral e o Tribunal Supremo de Justiça, instituições títeres da ditadura, Maduro afirmou que só entregaria o poder a um chavista.

Somente uma concertação internacional efetiva contra o regime pode pressioná-lo a se curvar à exigência popular de redemocratização. Ao Brasil cabe participar desse esforço, até agora refutado, e a adoção de providências dignas de um país que se coloca como defensor da democracia.

É necessário que o Itamaraty se posicione ao lado dos direitos humanos, como outros países da região já o fizeram. Devem-se condenar com clareza as eleições farsescas e a perseguição infame aos opositores do regime.

Se o Planalto insistir na reedição do teor brando das últimas notas diplomáticas, emitidas em conjunto com o governo esquerdista da Colômbia, será uma vexaminosa negativa à missão que tem a obrigação de assumir.

editoriais@grupofolha.com.br

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