Desde a retomada da atividade econômica após o impacto devastador da pandemia, o crescimento do Produto Interno Bruto —medida da produção e da renda do país— tem superado as expectativas.
Assim se deu em 2021, quando a alta do PIB de 4,8% mais que reverteu a queda de 3,3% no ano anterior. Em 2022, a taxa chegou a 3%, e no ano seguinte, a muito semelhantes 2,9%, deixando para trás o quadro de quase estagnação do período anterior à crise sanitária. Agora, neste 2024, as previsões de desaceleração vão sendo recorrentemente revisadas.
Os números do segundo trimestre, divulgados nesta terça-feira (3) pelo IBGE, mostram expansão de 1,4% em relação aos três meses anteriores e de surpreendentes 3,3% ante o período correspondente do ano passado.
Mais que isso, houve avanços importantes em praticamente todos os setores da oferta de produtos e componentes da demanda —indústria, serviços, consumo das famílias e investimentos. Apenas a agropecuária, que teve desempenho excepcional em 2023, mostrou declínio.
Com isso, as projeções de mercado para o resultado final do ano, que até então rondavam os 2,5%, tendem a se aproximar mais uma vez da casa dos 3%. Nas atuais circunstâncias, trata-se de desempenho a ser celebrado e devidamente compreendido. Não se está diante, porém, de um atestado de boa política econômica.
Inexiste diagnóstico consensual sobre os motivos do crescimento acima do esperado, mas parece claro que a forte ampliação da despesa pública, em especial com benefícios sociais, tem estimulado o consumo e a atividade.
É possível também que reformas econômicas nos últimos anos, como a flexibilização da CLT e novos marcos regulatórios na infraestrutura, tenham elevado o potencial da economia brasileira. O peso dos gastos do governo, entretanto, indica que o ritmo do PIB tem impulso limitado.
O sintoma mais palpável é a inflação acima das metas da política monetária. Neste segundo semestre, as expectativas medianas para o IPCA de 2024 já subiram de 3,9% para 4,26%, distanciando-se dos 3% perseguidos pelo Banco Central. As taxas esperadas nos próximos quatro anos tampouco dão alguma tranquilidade ao BC.
Não por acaso, a divulgação dos números favoráveis do IBGE reforçou de imediato as apostas numa subida dos juros básicos, hoje de já escorchantes 10,5% ao ano.
Rompeu-se, assim, a previsão que vigorava até o início deste ano de que a Selic pudesse cair até o patamar de um dígito. Agora, a permanência dos juros já é tida como cenário otimista.
Além disso, a alta dos juros agrava o déficit das contas do Tesouro Nacional, criando desconfiança no mercado que leva à alta do dólar, retroalimentando as pressões inflacionárias. Trata-se de um círculo vicioso que só poderá ser rompido se e quando o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfim reconhecer a necessidade de conter gastos.
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