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Regime arcaico de Cuba não se recupera da pandemia

Crise sanitária piorou indicadores da atividade, precária há décadas com o controle autoritário da produção pelo governo

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Cubanos catam lixo em rua de Havana, capital do país - Yamil Lage/AFP

Como outras ditaduras surgidas ao longo do século 20, a cubana reforça uma afirmação célebre do economista Milton Friedman. Para o vendedor do Prêmio Nobel em 1976, a ideia de que seria possível haver liberdade política sem liberdade econômica é puro delírio.

Isso porque indivíduos que realizam livres trocas comerciais dependem menos do governo, o que lhes permite exercer a cidadania de forma autônoma, limitando o risco de autoritarismo.

Além disso, incentiva-se o pluralismo e a diversidade por meio da competição, seja de serviços e produtos ou de ideias —base da liberdade de expressão.

Com o fim da União Soviética, Cuba passou por severa crise econômica nos anos 1990 e, desde lá, investe no turismo para mitigá-la. Após a renúncia de Fidel Castro, ensaiou-se uma distensão do controle econômico nem de longe suficiente para eliminar os problemas estruturais.

Ao minar o turismo, a pandemia de Covid-19 piorou ainda mais a situação. Reportagem da Folha esteve na ilha e constatou um cenário de penúria.

Há escassez geral de produtos básicos, de alimentos a remédios. A inflação está nas alturas e a cesta básica inclui só 250g de chícharo (similar ao grão de bico), 250 ml de óleo, um pacote de café e cerca de 2,5 kg de arroz.

Cubanos pedem comida e remédios aos turistas pelas ruas de Havana. A agropecuária carece de sementes, fertilizantes e equipamentos. Ate a produção de açúcar, pela qual o país é conhecido, desmorona. Em abril, foram geradas 300 mil toneladas do artigo, ante projeção de 412 mil. Na década de 1980, eram quase 8 milhões de toneladas por ano.

O PIB per capita despencou durante a crise sanitária e, até 2022, ainda não havia retornado a patamares anteriores a 2019.

Há racionamento de combustíveis e energia elétrica. Em março, uma série de blecautes levou centenas de cubanos às ruas.

Foram os maiores protestos desde 2021, quando uma onda deles varreu o país e acabou reprimida violentamente pelo regime, com a prisão de cerca de 300 pessoas. Naquele mesmo ano, estima-se que cerca de 2% dos 11 milhões de habitantes tenham emigrado para os Estados Unidos.

O embargo mantido pela Casa Branca é contraproducente, já que não moveu Cuba rumo à democracia e fornece um pretexto à ditadura. Mas ele não é a causa da crise material e humanitária.

É o autoritarismo brutal de um regime arcaico que oprime o país há mais de seis décadas e, não obstante, ainda conta com defensores na esquerda continental.

editoriais@grupofolha.com.br

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