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Rodrigo Perez Oliveira

Professores universitários odiados à direita e à esquerda

'Baderneiros e comunistas para uns', 'racistas e transfóbicos' para outros; em meio a guerras culturais, docentes enfrentam ataques de ambos os lados

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Rodrigo Perez Oliveira

​Professor-adjunto da Universidade Federal da Bahia e visitante na Universidade Complutense de Madrid

São conhecidos os ataques da extrema direita contra os professores universitários. Podemos lembrar de Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação do governo Jair Bolsonaro, que difundiu diversas fake news sobre as universidades públicas. Também é possível citar a atuação do MBL, que tentou emplacar o projeto "Escola Sem Partido", que constrangia a atividade docente.

Menos conhecidos e, portanto, menos discutidos, são os ataques promovidos por movimentos sociais de esquerda. O enredo é quase sempre o mesmo: estudantes que se dizem integrantes desses movimentos acusam determinado professor de ter cometido crime contra alguma minoria. Julgam, condenam e executam com práticas de cancelamento, à revelia de qualquer processo administrativo. Sem direito à defesa, o condenado tem suas aulas invadidas e seu ambiente de trabalho deteriorado.

Ilustração de Ariel Severino - Folhapress

Destaco quatro casos recentes.

Jan Alyne Prado, minha colega na UFBA, foi atacada por uma aluna trans por ter incorrido no suposto crime de "misgendering", ao se referir à estudante no masculino. No dia seguinte, na presença do reitor, um grupo de estudantes organizou uma manifestação exigindo a demissão da professora. Em virtude dos problemas de saúde decorridos dos ataques, Jan Alyne está licenciada para tratamento médico.

Richard Miskolci, da Unifesp, foi vítima de ataques depois de publicar um livro em que criticava a forma como alguns movimentos de esquerda abordam as relações de gênero. Miskolci foi impedido de participar de atividades acadêmicas na área dos estudos de gênero.

Helcimara Telles, da UFMG, foi atacada por estudantes depois de se manifestar na internet contra uma reportagem do UOL sobre distribuição de absorventes. O texto definia as mulheres como "pessoas que menstruam", o que para Helcimara significa o apagamento da condição feminina. A manifestação provocou a ira de militantes do ativismo trans, que a denunciaram na ouvidoria da universidade pelo crime de transfobia, exigindo sua exoneração.

Alice Gouveia, professora do curso de cinema da UFPE, foi acusada de racismo por um grupo de estudantes depois de uma aula sobre técnicas de correção de cor. A professora precisou mudar de departamento para conseguir continuar trabalhando.


Limito-me a esses casos porque os acompanhei de perto, em contato direto com os professores envolvidos, todos com histórico funcional ilibado, sem registro de qualquer conduta inadequada.

Como a extrema direita é pouco presente no ambiente acadêmico, é mais fácil confrontar seus ataques, que vêm de fora da universidade e provocam coesão da comunidade universitária. Em relação aos ataques perpetrados pelos movimentos sociais de esquerda, a situação é mais desafiadora, pois os agressores agenciam a justa pauta da defesa dos direitos das minorias sociais para dar verniz de reparação histórica às suas ofensivas. As autoridades universitárias e representações sindicais não estão respondendo à altura.

"Baderneiros e comunistas" para uns. "Racistas e transfóbicos" para outros. Entre as guerras culturais de esquerda e de direita estão os professores universitários, odiados e atacados por ambos os lados. Algo precisa ser feito. O debate sobre respeito aos professores não pode ficar restrito ao ensino básico. Todos os professores merecem respeito.

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