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Em documentário, MBL apresenta suas origens e pega leve em mea culpa

Movimento Brasil Livre lança documentário 'Não Vai Ter Golpe' para narrar sua visão sobre impeachment de Dilma

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São Paulo

Em uma volta às origens, o Movimento Brasil Livre (MBL), que nasceu como uma produtora de vídeos e foi um dos responsáveis por inflar protestos verde-amarelos a partir de 2014, lança nesta segunda-feira (2) o documentário “Não Vai Ter Golpe” para narrar sua visão, de direita, sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
 
A pré-estreia em São Paulo, nesta segunda, será seguida de evento semelhante no Rio, na terça (3), e em Curitiba, na quarta (4). A partir de quinta (5), o filme fica disponível para o público nas plataformas Net Now, Vivo Play, Google Play e iTunes.
 
Alexandre Santos e Fred Rauh, fundadores do MBL, dirigem a peça, financiada com doações e recursos próprios.

Ao longo de 2 horas e 14 minutos, o filme se vale de um elenco de entrevistados (políticos, advogados, economistas e jornalistas de direita) e, numa costura bem feita, embora mais universitária que profissional, impõe a tese de que os movimentos de rua forçaram a classe política a aderir ao impeachment.
 
O papel de Eduardo Cunha (MDB-RJ), então presidente da Câmara hoje preso, e principalmente da Lava Jato enquanto atores políticos de ação estratégica a favor dos seus próprios interesses é diminuído.
 
O lançamento vem em um momento em que o grupo fala em sanar o debate público que ajudou a deteriorar. O MBL atiçou o antipetismo e apoiou a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). A atual avaliação do movimento de que é melhor manter distância do bolsonarismo provocou tal autocrítica.
 
Em entrevista à Folha em julho, o coordenador nacional do movimento, Renan Santos, admitiu culpa pela polarização do país e pela retórica agressiva.
 
Ao retratar a gênese do movimento, o documentário busca mostrar que o cerne do MBL 3.0, essa nova fase do grupo, sempre esteve ali. E que o rompimento com Bolsonaro não se trata de uma guinada —pelo contrário, é manter a coerência e fincar posição pelo Estado democrático de Direito.
 
Por exemplo, na primeira manifestação organizada pelo MBL, em 1 de novembro de 2014, logo após a reeleição de Dilma nas urnas, o movimento faz malabarismo para fugir do Revoltados Online, que pregava intervenção militar.
 
O grupo não queria ver seu protesto associado a uma defesa da ditadura. E o filme destaca, em diversos atos de rua, as falas de Renan a favor da imprensa livre e das instituições.
 
“No começo do processo veio gente falar, inclusive, que quem estava na rua defendia o golpe militar. Nós falamos não. O grande segredo é vencer nas instituições, pois tendo instituições fortes, nós construímos uma nação”, discursa o líder do MBL em manifestação de 2016.

A insistência, no documentário, de que as instituições foram resguardadas e de que o impeachment seguiu o devido processo legal é um contraponto, não só ao bolsonarismo, mas sobretudo à esquerda e sua tese do golpe.

A disputa de narrativa sobre a queda de Dilma fica clara na escolha do título do filme —um mote roubado do petismo.
 
O filme, no entanto, pega leve no mea culpa. Lá pelo fim, há um momento de avaliação do cenário atual (“país dividido e insensato” em que “o bom senso foi para o saco”) e de reconhecimento de certa responsabilidade.  
 
No entanto, o nome de Bolsonaro não é nem sequer mencionado. Muito embora ele tenha tentado aparecer, e isso o documentário não esconde, na histórica foto de uma reunião na Câmara entre MBL e Cunha.
 
Seu voto na sessão da Câmara que deu aval ao processo de impeachment, até então a pista principal de que a caixa de Pandora havia sido aberta, para usar uma metáfora do próprio MBL, não foi exibido. Bolsonaro defendeu naquele momento o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador de Dilma na ditadura militar. 

O documentário deixa transparecer, contudo, que as sementes do bolsonarismo estavam lá colocadas: pedidos dispersos de intervenção militar nas ruas, ataques à imprensa, a ideia de que as instituições estão corrompidas, de que os políticos não nos representam, ataques em redes sociais como estratégia, a máxima de que o povo é quem manda e Brasília precisa obedecê-lo. Tudo embalado em verde e amarelo. 
 
Mas isso é problema para o MBL de hoje, que se tornou alvo de bolsonaristas nas redes. O MBL de 2016 comemorava uma inegável vitória, e o documentário tem a serventia de revelar mais a fundo quem é esse grupo que mudou os rumos do país.
 
O MBL, segundo o MBL, são um bando de moleques que largou a faculdade, mas entendia tudo de memes, YouTube, redes sociais –e de política. O filme tem a linguagem informal e o tom de deboche que é marca registrada do movimento.
 
Ao contrário de outros movimentos, não focaram o combate a corrupção e nem negaram a política. Aqui provam que não eram um grupo que organizava manifestação, faziam ação política. Buscaram algo tangível, tinham estratégia, fizeram lobby no Congresso, contaram cada voto pelo impeachment.
 
O timing de lançamento do documentário torna necessária a comparação com “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, que se propõe a narrar o mesmo impeachment, mas pelo lado da esquerda.
 
As duas produções têm o mérito de se dispor a documentar um momento histórico do país e servem como um registro necessário e de qualidade, mas são gentis demais com seus respectivos pontos de vista.
 
Assumem essa característica, de certa forma, por meio da narração em primeira pessoa. Se Petra abre brecha para contar a história de sua família, o MBL apresenta cada um de seus membros eminentes.
 
Ambos expõem belas imagens, mas enquanto Petra prega para convertidos em tom lamurioso, o MBL o faz (e para isso recorre até a menção ao Foro de São Paulo) com mais entusiasmo e tons épicos. Eles venceram, afinal de contas. 

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