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Aniversário de pastor cortejado por Bolsonaro sempre foi pit-stop de políticos

Pastor José Wellington está à frente da maior das Assembleias de Deus

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Rio de Janeiro

“Aos gritos de ‘presidente, Jesus te ama’, pastores da Assembleia de Deus manifestaram ontem, durante congresso da igreja evangélica, apoio à campanha.”

Não há nada de novo nesta descrição. Ela pode parecer contemporânea para muitos, mas é de 1997 e abre uma reportagem da Folha sobre o aceno do pastor José Wellington Bezerra da Costa, que por anos presidiu a CGADB (Convenção das Assembleias de Deus do Brasil), ao então candidato à reeleição Fernando Henrique Cardoso (PSDB) —que, em 1985, perdeu uma eleição municipal a reboque da fama de ateu e que, no pleito de 1994, fez questão de declarar que “sempre acreditou em Deus”.

A novidade no encontro, na noite desta segunda (5), do presidente Jair Bolsonaro com o mesmo José Wellington está no peso eleitoral dos evangélicos. Hoje estima-se que 30% dos brasileiros professem essa fé, quase três vezes mais do que nos anos 1990. E que, em 2018, sete em cada dez eleitores que seguem a religião tenham apertado o número 17 de Bolsonaro nas urnas.

O pastor José Wellington Bezerra da Costa em seu aniversário de 2013 - Leticia Moreira-7.out.13/Folhapress

É antigo o beija-mão de políticos no aniversário de José Wellington, que completa 86 anos e que está à frente do Ministério Belém, o maior braço daquela que é a maior denominação evangélica do Brasil, a Assembleia de Deus. Vários governadores paulistas já bateram ponto no mesmo evento em anos passados, como Geraldo Alckmin (PSDB), José Serra (PSDB) e Cláudio Lembo (PSD).

Há uma representante da família na disputa pela Prefeitura de São Paulo: a deputada estadual Marta Costa (PSD-SP), filha do pastor e vice na chapa de Andrea Matarazzo (PSD).

Hoje é seu irmão Jose Wellington Júnior quem lidera a CGADB no lugar do pai. Ele foi na semana passada ao Palácio do Planalto, onde, ao lado de parlamentares assembleianos, tomou com o presidente um café da manhã salpicado de orações e conversas sobre temas centrais a evangélicos.

Um deles a própria CGADB destacou em suas redes sociais: o acordo para “parcerias com o governo federal, visando o crescimento das Assembleias de Deus em todo território nacional”.

Outro tópico que circulou à boca miúda foi a possibilidade de ver como vice de Bolsonaro em 2022 a chefe da pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que já bravateou ser uma “ministra terrivelmente cristã” no seio do “Estado laico”.

Em 2018, os grandes líderes evangélicos, dos Josés Wellingtons pai e filho ao bispo Edir Macedo, marcharam juntos pela primeira vez em torno de um único candidato: Bolsonaro. Até então, não se podia falar em unidade eleitoral no segmento.

Dentro da própria Assembleia, não há consenso. Nem a convenção-geral responde por todas as igrejas que se dizem assembleianas. Exemplo: rachou com ela a primeira delas, fundada em 1911, em Belém (PA), e hoje comandada pelo irmão de Silas Câmara (Republicanos-AM), presidente da bancada evangélica na Câmara dos Deputados.

Até Bolsonaro, costumava ir cada uma pra um lado. Em 2010, por exemplo, algumas Assembleias apoiaram a petista Dilma Rousseff, outras o tucano José Serra, e parte ficou com a então verde Marina Silva.

Falar em números tampouco é fácil, dado o déficit de estatísticas confiáveis sobre um segmento tão pulverizado quanto o evangélico. No Censo de 2010, 12,3 milhões de brasileiros declararam pertencer a alguma Assembleia. A CGADB fala em 3,5 milhões sob sua jurisdição, distribuídos por quase 300 mil igrejas.

Em 1997, no encontro com FHC, José Wellington contou como a Assembleia de Deus estava ajudando o governo federal a reduzir o número de sem-terra no país. “Cada irmão que entra [na igreja] é um sem-terra a menos, pois nós gostamos da terra, mas queremos mesmo é o céu", afirmou.

No mesmo ano, quando pululavam entre não-evangélicos trocadilhos pejorativos como “templo é dinheiro”, o pastor ironizou, em entrevista à revista Veja: “Onde tem Coca-Cola, Correios e Bradesco tem uma Assembleia de Deus”.

Corta para 2020, e a influência dos evangélicos na política nunca foi tão pujante. Bolsonaro sabe bem disso. Fica com a Assembleia de Deus.

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