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Para diminuir resistências, Doria divide palco da pandemia com vice

Garcia assume 2 das 3 entrevistas coletivas semanais; tucano faz gestos e abandona paletó

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São Paulo

Em mais um passo de sua estratégia para reduzir resistências nacionais a seu nome, o governador João Doria (PSDB-SP) decidiu se expor menos nas ações de combate à pandemia.

Ele delegou a seu vice, Rodrigo Garcia (DEM), 2 das 3 entrevistas coletivas semanais que ocorrem no Palácio dos Bandeirantes para falar da crise sanitária.

Doria, com Rodrigo Garcia (de paletó) a seu lado, durante reunião na semana passada - Governo do Estado de São Paulo - 12.mar.2021

Doria seguirá nos encontros de quarta-feira, deixando os de segunda e sexta para Garcia. E aparecerá em caso de alguma notícia de relevo.

Na avaliação de aliados do tucano, que o aconselharam a seguir o movimento, o nome de Doria já está fixado no cenário nacional como o de um antagonista do negacionismo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no manejo da pandemia que matou quase 290 mil brasileiros.

O carro-chefe disso é a Coronavac, imunizante de origem chinesa que foi trazido para desenvolvimento em conjunto com o Instituto Butantan.

Pesquisas internas indicam essa associação, mas também apontam uma imagem considerada de difícil vendagem fora de São Paulo, “muito arrumadinho” nas palavras de um dirigente tucano.

Coincidência ou não, desde a semana passada ele deixou de lado os usuais paletós.

Sua entrevista coletiva na quarta-feira (17) foi em mangas de camisa, assim como visitas a locais como o Butantan, onde madrugou nesta sexta (19) para cumprimentar os trabalhadores da fábrica de vacina.

Não se espera uma volta ao malogrado uso de uniformes, ensaiado na sua passagem pela Prefeitura de São Paulo, mas aparentemente o visual mais informal veio para ficar.

Mas outras resistências mais sérias preocupam o tucano.

Desde que tomou a dianteira do programa de vacinação, obrigando Bolsonaro a segui-lo, o governador subiu o tom do embate com o Planalto.

Não é segredo que Doria quer disputar a Presidência em 2022, mas suas ações eram lidas como uma tentativa de impor seu nome ao chamado centro —que vai do centro à direita, usualmente.

O episódio em que aliados seus sugeriram que ele assumisse a presidência tucana, no mês passado, selou o azedume a contornar dentro do PSDB.

Seu rival interno Aécio Neves (MG) saiu das sombras em que estava desde o caso Joesley Batista, em 2017, e ambos protagonizaram uma altercação dura e pública.

Como tem corações a conquistar no seu partido, no DEM, MDB e PSD, o tucano se movimentou.

Além de buscar deixar o holofote exclusivo da crise em São Paulo, ele sinalizou publicamente que poderá concorrer à reeleição.

Isso decorreu da entrada em campo de Luiz Inácio Lula da Silva, o líder petista que teve seus direitos políticos por ora recuperados. Foi levantado entre tucanos o risco de uma polarização entre antipetistas e antibolsonaristas.

Tal configuração arrisca deixar o caminho intermediário travado. Doria segue querendo ser presidente, mas a possibilidade de tentar ficar na cadeira já não é um tabu. A briga com Bolsonaro seguirá principalmente nas redes sociais.

Outro ponto é a relação com os governadores. O tucano foi o organizador informal do fórum dos chefes estaduais, formado em 2018.

Em vários momentos da crise, Doria assumiu o protagonismo, o que gerou queixas de alguns de seus colegas.

Ao mesmo tempo, aproximou-se de nomes da esquerda que antes ele chamaria de comunistas, como Flávio Dino (PC do B-MA).

Agora, praticamente todas as comunicações do grupo no embate institucional com o Planalto são feitas por seu coordenador oficial, Wellington Dias (PT-PI), e por vezes por Renato Casagrande (PSB-ES).

Nesse arranjo, chama a atenção a posição de Rodrigo Garcia. O vice foi pego no meio da crise que rachou seu partido, e Doria o convidou para integrar o PSDB. Ele ainda não decidiu o que fazer.

No acerto dos dois em 2018, Garcia ficaria com o cargo de governador no ano que vem e Doria, candidato a presidente, podendo disputar a reeleição.

Alguma dúvida ficou sobre isso com a nova disposição de Doria em relação à candidatura federal, mas de todo modo interlocutores de Garcia e o entorno do governador dizem que ele precisa se expor mais.

Filiado à escola do ex-governador tucano Geraldo Alckmin de discrição política, Garcia vê com bons olhos a oportunidade de aparecer, mas há o lado negativo.

Na sua segunda entrevista, nesta sexta, ele teve de suspender a Operação Descida para o litoral, visando coibir visitas à região nesse pico da pandemia, algo potencialmente impopular.

Ser portador de más notícias não é exatamente o que os aliados de Garcia queriam. Mas é o que há para o momento.

Eles lamentam que a pandemia acabou com as inaugurações pelo interior —Garcia tem na cabeça todo o mapa de obras estaduais, como cerca de R$ 600 milhões em estradas vicinais em construção.

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