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Festa do Peão homenageia Tarcísio e confirma Barretos bastião bolsonarista em SP

Governador vira membro da associação que organiza a festa e exalta ex-presidente em estádio lotado

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Barretos

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi homenageado pela organização da Festa do Peão de Barretos em plena arena, numa agenda que contou com citações ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e confirmou o evento e os rodeios de forma geral como um bastião do bolsonarismo em São Paulo.

Cotado para disputar a eleição presidencial de 2026 no campo do inelegível Bolsonaro, Tarcísio recebeu na noite de sexta-feira (16) o título de Independente Honorário, dado pela associação Os Independentes, organizadora da principal festa sertaneja do país, no estádio de rodeios projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012) e que estava completamente lotado.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao centro, é homenageado pela organização da Festa do Peão de Barretos - @andremonteirofotografo

Bolsonaro esteve em todas as edições da festa em Barretos (a 423 km de São Paulo) desde 2017, quando ainda era deputado federal, e tem uma forte ligação com o evento —e com o mundo dos rodeios, evidentemente.

O governador e sua comitiva chegaram ao Parque do Peão, recinto que abriga a festa, por volta das 21h e, questionado por jornalistas, minimizou elogios que Bolsonaro fez a Pablo Marçal (PRTB) e reforçou seu apoio e o do ex-presidente ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição.

Depois de se reunir com dirigentes da associação a portas fechadas, foi para o estádio, onde foi saudado pelo locutor Cuiabano Lima, fiel seguidor de Bolsonaro, como o "maior governador da história".

"E a tua tecnicidade, a tua capacidade de realizar com uma equipe de secretariado totalmente técnico, qualificado, responsável, ativo, proativo, isso fez de você um homem que eu entendo, pela tua humildade, que você nem imaginava que Deus tinha preparado tanta coisa para sua vida."

"Eu tenho convicção disso, porque você sempre teve resiliência e humildade de dizer ‘eu estou aqui graças a Deus, e estou aqui com muita gratidão, sempre ao ex-presidente Jair Messias Bolsonaro’", disse Cuiabano em referência a Tarcísio.

Com a fala, boa parte do público presente ao estádio (com capacidade para 35 mil pessoas sentadas), começou a gritar "mito", especialmente no setor de camarotes, que chega a ter convites vendidos a mais de R$ 3.000, dependendo da data.

Os telões do palco mostravam a imagem da bandeira brasileira durante a fala. O presidente de Os Independentes, Hussein Gemha Júnior, disse que era um orgulho a associação ter em seu quadro social uma pessoa tão ilustre como o governador.

Em seu discurso, Tarcísio lembrou que a primeira vez que esteve em Barretos e entrou na arena foi com "o melhor presidente da República da história do Brasil, Jair Messias Bolsonaro." Novamente os gritos de "mito" foram ouvidos.

"Uma pessoa a quem eu devo muito, se estou aqui é porque ele acreditou no trabalho de um desconhecido naquela época. E o ‘mito’ vai estar aqui na sexta-feira que vem, dia 23. Porque o ‘mito’ tem uma conexão com Barretos. O presidente Bolsonaro ama todos vocês, ama essa cidade, ama o rodeio. O rodeio que é uma manifestação cultural, do nosso sertanejo", disse Tarcísio.

A escolha da data para a presença de Bolsonaro na festa não é aleatória. O dia 23 era uma das três datas que já estavam com os ingressos que permitem acesso ao estádio de rodeios esgotados semanas antes do início do evento. Ou seja, quando ele estiver no local, contará com as arquibancadas lotadas.

No ano passado, já como ex-presidente, Bolsonaro discursou na arena de rodeios e disse que, "enquanto vivo estiver", estará ao lado da população. O ex-presidente, que esteve na cidade para receber um título de cidadão honorário aprovado pela Câmara, ficou cerca de uma hora no local e, antes de falar, apareceu algumas vezes no telão, momentos em que foi ovacionado pelo público.

Declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, o ex-presidente já havia sido indiciado em março pela PF em outro inquérito, envolvendo a falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19.

Além do caso da venda das joias e da carteira de vacinação, Bolsonaro é alvo de outras investigações, que apuram os crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado democrático de Direito, incluindo os ataques de 8 de janeiro de 2023.

Parte dessas apurações está no âmbito do inquérito das milícias digitais relatado por Moraes e instaurado em 2021, que podem em tese resultar na condenação de Bolsonaro em diferentes frentes.

Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, Bolsonaro poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.

O mundo dos rodeios abraçou de vez o político depois de ele ter anunciado em 2019 em Barretos um decreto que flexibilizava a legislação sobre os rodeios em todo o país e, na prática, dificultava o sucesso de ações judiciais de entidades de proteção animal contra os rodeios.

Ele também instituiu o Dia Nacional do Rodeio, celebrado em 4 de outubro, data em que se comemora o Dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. A medida foi criticada por associações de proteção.

Em 2022, durante a tentativa de reeleição, foi apresentado no estádio como um misto de herói e salvador, andou a cavalo na arena e sua presença motivou o mesmo locutor a comandar um Pai-Nosso.

Outros ex-presidentes também anunciaram medidas favoráveis aos rodeios, mas nenhum conviveu, e convive, com o setor com tamanha proximidade.

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) sancionou lei em 2001 que transformou o peão de rodeio em atleta, com garantia de seguro de saúde e previdência social e, em 2002, assinou lei que regulamentou os rodeios e estabeleceu normas sanitárias para proteger os animais.

Nove anos depois, Dilma Rousseff (PT) sancionou lei que deu a Barretos o título de "capital nacional do rodeio". O projeto de lei tinha sido apresentado em 2009 pela então deputada federal Luciana Costa, que é da cidade, e aprovado pelo Congresso.

O atual presidente, Lula (PT), porém, é visto com ressalvas por dirigentes de rodeios não só de Barretos, mas do setor de maneira geral. Na cidade que abriga a maior festa do segmento, ele obteve 37,2% dos votos válidos no segundo turno, ante os 62,8% de Bolsonaro.

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