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Folha adota formato de jornais europeus de prestígio

Jornal passa a usar padrão berliner, com mais conteúdo e mais fácil de manusear, neste domingo, dia 1º

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Lisboa e São Paulo

A partir deste domingo, 1º de setembro, a Folha circula com o padrão berliner, com mais conteúdo e mais fácil de manusear.

O berliner é o formato mais adotado entre os grandes jornais europeus, como os franceses Le Monde e Le Figaro, o Guardian britânico, os italianos Corriere della Sera e La Stampa, e os alemães Die Welt e Tagesspiegel. Em termos de tamanho, nasceu para ser um intermediário entre os formatos standard (grande, como é a Folha hoje em dia) e tabloide (pequeno).

A jornalista Priscila Camazano com uma edição da Folha no formato berliner, que será adotado a partir deste domingo, 1º de setembro - Zanone Fraissat/Folhapress

A adoção do berliner acontece acompanhada de uma reforma gráfica elaborada ao longo de sete meses, que prevê, entre outros objetivos, facilitar a leitura e ampliar a oferta de conteúdo.

A partir deste domingo, a média diária de páginas da Folha passará de 40 para 64. Assim, embora a área de cada nova página seja menor, a área total será maior, e o leitor terá à disposição ainda mais conteúdo todos os dias.

Entre as novidades, também está a volta de cadernos queridos do público. O Guia Folha, por exemplo, retomará o formato destacável, como caderno avulso, e circulará às sextas-feiras, junto com Comida.

Edição da Folha em formato berliner em meio a jornais europeus que adotam esse padrão - Folhapress

"O manuseio do berliner é melhor do que o do atual formato, o standard. Será muito mais prático, por exemplo, ler o jornal no metrô, no ônibus, na praia ou no parque", diz a designer Thea Severino, fundadora do Estúdio Thema ao lado de Marcio Freitas. Eles são os responsáveis pelo novo projeto gráfico.

"A Folha adere a uma tendência mundial ao adotar um formato menor, que leva a uma edição mais criteriosa", afirma Freitas.

O berliner, como o nome sugere, surgiu na Alemanha no início do século 20. Até então usava-se principalmente o formato standard, estabelecido no Reino Unido no século 18.

"Na época, os impostos sobre os jornais eram cobrados por página, e os ingleses adotaram formatos enormes para pagar menos", diz o brasileiro Eduardo Tessler, responsável por mais de 30 redesenhos de plataformas noticiosas em vários países. Ele é sócio e diretor da empresa Mídia Mundo.

O tabloide surgiu no final do século 19. A ideia era condensar as notícias num espaço menor, visando uma audiência mais popular. A marca "Tabloid", na época, batizava um produto farmacêutico —pílulas com várias substâncias concentradas. O nome foi associado a jornais que publicavam notícias em forma de "comprimidos" em contraposição à imprensa "séria", associada ao formato standard.

A principal característica do berliner, quando o formato surgiu, não era tanto o tamanho, mas o tipo de diagramação. Como as palavras em alemão são bem maiores que as em inglês, era necessária uma coluna mais larga. O berliner era um pouco maior que o tabloide e tinha três colunas por página em vez de cinco, possibilitando um maior conforto de leitura.

Surgiu assim um jornal quase tão portátil quanto um tabloide, mas com a ambição de ser tão "sério" quanto um standard.

Edição da Folha em versão berliner - Folhapress

No novo projeto da Folha, a colunagem também será um pouco mais larga, alteração que vai tornar a leitura de textos longos mais confortável.

Alguns berliners se tornaram referência em qualidade gráfica. Entre eles, estão o Expresso português –agraciado quatro vezes com o prêmio da Society for News Design (SND), o Oscar do design de jornais europeu– e o Guardian britânico. Ambos fizeram sua conversão de standard para berliner na mesma época –entre 2005 e 2006– e guardam uma semelhança: o logotipo em letras brancas sobre fundo azul.

Obra do designer Mark Porter, diretor de arte do diário londrino durante dez anos, o redesenho do Guardian quebrou a polarização standard versus tabloide que dominava a imprensa britânica. O uso da cor para diferenciar as seções foi copiado mundialmente. Em Portugal, o Expresso também quebrou um padrão, mas por razões diferentes.

"O Expresso era o único jornal de Portugal em tamanho grande, e isso era considerado parte de sua identidade", diz Marco Grieco, diretor de arte do semanário lisboeta. Ele nasceu no Brasil e pilota a área de design do jornal desde a reforma gráfica.

Depois de enfrentar uma resistência inicial dentro da própria empresa, o projeto foi considerado um sucesso, instaurando um novo padrão de uso da cor e de impressão de fotos.

De acordo com Grieco, a partir da reforma gráfica o Expresso foi consolidando, cada vez mais, sua característica de um jornal mais "arrevistado". "Não tratávamos do crime da esquina, mas se houvesse uma onda de crimes fazíamos uma reportagem aprofundada sobre o assunto", diz ele. "Com o berliner essa tendência se acentuou."

Outro destaque do formato, segundo ele, está no mercado publicitário. O design, junto com as reportagens aprofundadas, contribuiu para que o jornal firmasse sua reputação de produto "premium" no mercado português, atraindo anunciantes entre grandes empresas e marcas de luxo.

O Expresso circula às sextas-feiras. O jornal é vendido nas bancas dentro de uma sacola, que carrega os cadernos do jornal e uma revista com grandes reportagens. O próprio invólucro se tornou um espaço cobiçado no mercado publicitário. "Os leitores sentem orgulho de ser vistos na rua com a sacola do Expresso", diz Grieco.

Eric Dupond-Moretti, ministro da Justiça da França, lê o jornal Le Monde no Parlamento; tradicional diário usa o formato berliner - Reuters

"Cada vez mais o design dos jornais se adapta a um leitor acostumado a telas menores", diz Diego Areso, diretor de arte do El País, plataforma noticiosa líder de audiência em língua espanhola. O diário madrilenho, que tem 37 centímetros de altura –aproximando-se dos tabloides ingleses, que têm em torno de 30 centímetros— passou por uma reforma gráfica no início deste ano.

Para Areso, não se tratou de uma mudança apenas de forma –o jornal se tornou ainda menor do que era–, mas também de conteúdo. "Outra tendência é que cada vez mais os jornais se transformem em revistas diárias, pois há uma demanda crescente por textos mais bem cuidados e aprofundados", afirma. "Um formato portátil traz mais conforto para esse tipo de leitura."

Professora de design gráfico da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) e do IED (Istituto Europeo di Design), Didiana Prata faz avaliação semelhante à de Areso em relação às "telas menores".

"O formato berliner é mais portátil e vai ao encontro de uma miniaturização dos suportes. Estávamos habituados a ler no computador e agora lemos durante mais tempo no celular", diz ela, que comanda o estúdio Prata Design.

O berliner, segundo a designer, representa novos desafios para os editores. "É preciso cuidado para não fazer edições com informações muito picotadas, como acontece no online", afirma.

Nos últimos dez anos no Brasil, jornais como O Estado de S. Paulo, O Povo (CE) e Gazeta do Povo (PR) aderiram ao padrão berliner.

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