Siga a folha

Descrição de chapéu Eleições 2024

Comunidade de Marçal no Discord segue com vídeos após decisão da Justiça

Conteúdo sobre corrida eleitoral predomina em seção de troca de mensagens entre participantes

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

A comunidade do candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) no aplicativo de mensagens Discord continua fazendo vídeos sobre o influenciador mesmo depois de ordem da Justiça de suspensão de imediato de atividades ligadas a ele na plataforma e proibição de remuneração de pessoas que divulguem conteúdo do político.

O grupo participa de campeonato iniciado na segunda-feira (2) que prevê a premiação de pessoas que fizerem vídeos curtos (os chamados "cortes") de Renato Cariani, influenciador fitness que é réu em investigação relacionada ao tráfico de drogas.

Ainda assim, em seção da plataforma sobre cortes já publicados, é possível ver, mesmo depois de 16 de agosto, data que marcou o início da campanha eleitoral, publicações de promoção a Marçal, inclusive com hashtags relacionadas à disputa eleitoral.

Há também conteúdo feito sobre terceiros, mas com referência ao candidato à Prefeitura de São Paulo.

Segundo a Justiça Eleitoral, não é permitido fazer propaganda eleitoral paga, sendo vedada "a contratação de pessoas físicas ou jurídicas para que realizem publicações de cunho político-eleitoral em seus perfis, páginas, canais, ou assimilados".

A única forma de impulsionamento permitida é aquela oferecida pelas plataformas. E, mesmo neste caso, apenas partidos e candidatos podem contratar anúncios. Por isso, os campeonatos promovidos por Marçal no Discord incentivariam publicidade irregular.

O influencer e candidato a prefeito de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) - Folhapress

Em 16 de agosto, por exemplo, usuário identificado como "Ativacional Próspero" postou link de corte com a hashtag #prefeitomarçal. O endereço leva para página no YouTube com conteúdo no qual Marçal fala que Deus vai "prover" durante a campanha e associa participação na corrida eleitoral à vontade divina.

Grande parte das publicações na seção "cortes-publicados" faz referência à disputa eleitoral, seja com a publicação de links de apoio a Marçal ou com críticas a adversários como Guilherme Boulos (PSOL), também candidato à prefeitura.

Algumas delas trazem cortes de entrevistas recentes do candidato do PRTB, como a concedida ao podcast Flow na semana passada ou participação no Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira.

Um corte, publicado no LinkedIn na sexta-feira (30), registra no primeiro tempo de vídeo mensagem motivacional retirada de entrevista do influenciador fitness Guto Galamba a um podcast, mas tem ao longo da publicação inserção de conteúdo promocional da campanha de Marçal.

Ao longo do vídeo com Galamba, imagens de Marçal na campanha são inseridas. A trilha sonora é "O homem disparou", jingle usado desde 2020 em contexto eleitoral.

Mesmo quando o regulamento interno da comunidade previa premiação de cortes relacionados a outras pessoas que não Marçal, é possível encontrar vídeos que fazem menção ao candidato. De 30 de julho a 18 de agosto, por exemplo, um campeonato estipulava premiação em dinheiro para conteúdo relacionado a Marcos Paulo, sócio de Marçal na empresa PLX Digital.

Em alguns dos vídeos, há hashtags que citam diretamente Marçal, o que pode configurar uma maneira de tentar burlar as regras da campanha sem deixar de fazer publicidade indireta do candidato à prefeitura, afirma o advogado Fernando Neisser, que é professor de direito eleitoral da FGV-SP.

O link do vídeo leva para página no YouTube que, embora fale de Marcos Paulo, traz hashtag sobre Marçal.

Outro exemplo remete ao campeonato atualmente vigente, sobre Cariani. Entre as mensagens veiculadas, é possível encontrar conteúdo que veicula não só a imagem do influenciador fitness, mas também de Marçal.

Segundo Neisser, a Justiça Eleitoral tem adotado uma definição mais alargada do que é propaganda eleitoral, não considerando apenas pedidos diretos de voto, mas também uma série de comportamentos contumazes dos candidatos.

Além disso, tem entendido que o que é proibido no período de campanha também o é na pré-campanha, que, por jurisprudência, considera começar a partir de 1º de janeiro do ano eleitoral, afirma o especialista.

Conteúdo sobre Marçal publicado no Discord em agosto - Reprodução

Desde o início de 2024, a comunidade do Marçal no Discord —chamada "Cortes do Marçal", com mais de 150 mil membros— promoveu ao menos um campeonato cuja regra previa o uso da hashtag #prefeitomarçal nos cortes, em referência direta à candidatura. Além disso, os participantes deviam seguir todas as redes sociais do candidato nas plataformas TikTok, YouTube e Instagram.

A competição, que também citava o influenciador Cariani, ocorreu de 24 de junho a 7 de julho e consta em ação do PSB que motivou a suspensão das redes de Marçal pela Justiça. O influenciador foi anunciado como pré-candidato pelo PRTB em maio deste ano.

Também há, na plataforma, indício de pagamento no dia 5 de agosto referente à competição.

Aviso sobre pagamento em competição em comunidade no Discord - Reprodução

A ação do PSB, partido da candidata à Prefeitura de São Paulo Tabata Amaral, aponta que os campeonatos extrapolariam regra da Justiça Eleitoral de impulsionamento de conteúdo político-eleitoral e pede a condenação do influenciador por abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação, cuja penalização pode ser a cassação do registro de candidato.

Baseado no pedido do PSB, o juiz eleitoral Antonio Maria Patiño Zorz concedeu liminar suspendendo os perfis de Marçal no dia 24 de agosto. Permitiu, entretanto, a criação de outros perfis do candidato, dizendo estar apenas suspendendo "aqueles que buscaram a monetização dos 'cortes' por meio de terceiros interessados".

Depois da suspensão, Marçal tem argumentado que não pagava pessoas para fazerem os cortes, apesar de já ter dito o contrário em entrevistas dadas à imprensa.

Ele afirma que os chamados clipadores são remunerados pelas plataformas, em referência à prática de algumas delas de monetizar conteúdos que alcançam regras específicas, como número mínimo de visualizações.

Os regulamentos veiculados no Discord, entretanto, prometem premiações seguindo regras internas estabelecidas pela própria competição e não fazem referência ao dinheiro que os clipadores podem ganhar se também alcançarem as metas das plataformas.

O influenciador também já alegou não ter feito pagamentos na pré-campanha ou campanha.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas