Siga a folha

Descrição de chapéu
Eleições 2024 Eleições

Eleição em São Paulo vai sangrar, vai doer e é chave para 2026

Nenhum candidato é doce ou inspira afeto, compaixão; acham-se 'fortes, destemidos, invulneráveis': prometem mais do que entregarão

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

José Luiz Portella

Engenheiro civil, é doutor em história econômica pela USP, onde faz pós-doutorado em sociologia. Atua como pesquisador do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados) e é professor de pós-graduação

Cesse tudo o que a antiga musa canta, que um valor mais alto se alevanta: um mês para o dia da reflexão silenciosa, a véspera da eleição. Reta final, onde o magma escorrerá: agressões, injúrias, calúnias, chute na medalhinha.

Do Datafolha de 23 de agosto até este, os candidatos, nos bastidores, buscaram prioritariamente:

Boulos: captar de três a quatro pontos, na margem, para se consolidar na liderança da disputa e garantir a crença que está no segundo turno. Conforme o plano, os pontos emergiriam dos eleitores, que votaram em Lula e ainda não optaram por Boulos. Café com presidente em casa.

Marçal: marcar diferença com relação a Nunes acima da margem de erro. Convencer o eleitorado de direita que ele é o "cara" abençoado por Deus, Pátria e Família. O objetivo era desidratar Nunes, com diferença, de pelo menos quatro pontos.

Candidatos à Prefeitura de São Paulo: Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB) - Bruno Santos/Folhapress

Nunes: impedir entrar no retrovisor de Marçal, sustentando um empate, e se possível, chegar a qualquer número superior a Marçal. Um ponto valeria.

Tabata: sair do desesperador "um dígito", superar a barreira dos 12%. Tentativa do pensamento desiderativo: transformar-se na principal antagonista de Marçal. Ser a melhor opção para derrotar Boulos no segundo turno, sem "bolsonarizar".

Datena: nenhuma grande expectativa para esta eleição, arrumando um vilão para justificar "jogar a toalha". Quer lastro para ser senador. Demorou, demorou, entrou na eleição errada.

Marina Helena: sonho da noite de verão: Marçal impugnado, ele apoiá-la. Dificílimo.

Saiu o Datafolha desta quinta-feira.

Boulos 23%, Marçal 22%, Nunes 22%, Tabata 9%, Datena 7%, Marina 3%.

Boulos e Marçal fracassaram nos respectivos objetivos. Nunes conseguiu manter-se empatado com Marçal com avanço entre os mais carentes. As obras.

Tabata patinou, Marina feneceu.

Boulos intensificará a busca de votos na represa de Lula, onde ainda não pescou a contento. A campanha buscará os votos do centro. Eleitorado ainda desconfiado sobre o discurso de 2022: união e pacificação, "frente ampla", encanto perdido no mar da enrolação.

Marta também não fez diferença, até agora. Campanha estremece com notícias confirmando atitude leniente de Lula com a Venezuela, com denúncias de aparelhamento estatal pelo petismo, quando há as manifestações identitárias, como o hino em linguagem neutra. Repulsa do eleitor de centro. Vão tentar acertar. Difícil, porque creem suficientes a campanha singela "somos contra Bolsonaro e chega, vote em nós". Lula decepcionou muita gente.

Marçal e sua campanha, coordenada por "ex-dorietes", sabem que não ganharão no primeiro turno. Discurso é parte do show. Marçal pretende apertar o cerco sobre Bolsonaro e Tarcísio ameaçando ser candidato à Presidência. Papo-furado. Porém a espada da ameaça será brandida, não buscando adesão, contudo a que ambos "tirem o pé" da candidatura Nunes. Campanha sentiu que o teto está perto.

Nunes ganha vigor, por não afundar. Sente medo do abandono bolsonarista e teme a virilidade de campanha de Marçal. Pretende jogar-se na periferia com a reiteração das obras locais, colar em Tarcísio, porque sentiu que "Bolsonaro não é pai". "Vestiu o dominó errado, conheceram-no por quem não era (Bolsonaro-raiz)". Imagina uma nova face, descolada de Bolsonaro, grudada em Tarcísio.

Tabata insistirá em atacar Marçal. Tem dito que crê no investimento. Muita gente da campanha acredita que ela é a melhor candidata, mas "empacou". Não evolui. Ela tem mais 15 dias para fazê-lo, depois, inicia-se o "voto útil".

Candidatos vão ter que passar "por mares nunca de antes navegados, e ir além de Taprobana (Sri-Lanka)". Só Boulos experimentou. Não em eleição feroz como esta.

De Camões a Fernando Pessoa, "quem quer passar além do Bojador, tem que passar além da dor".

Hoje, quando a poesia, a elegância, o respeito se esvaíram, vai sangrar. Nenhum candidato é doce ou inspira afeto, compaixão, "todos são campeões em tudo" como no poema em linha reta. Acham-se "fortes, destemidos, invulneráveis". Prometem mais do que entregarão.

Vai sangrar. Vai doer.

Eleição em São Paulo é chave para 2026.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas