Descrição de chapéu Saiu no NP

Vampiro e playboy encerram série do "NP" sobre crimes do século

Episódio traz rapaz que bebia sangue e assassinatos no Castelinho da rua Apa

Crédito: Bruno Poletti - 11.dez.2016/Folhapress SAO PAULO, SP, 11.12.2016: - O antigo " Castelnho " localizado na rua Apa bairro da Santa Cecilia regiao central de Sao Paulo, apos receber a reforma de restauracao da fachada. (Foto: Bruno Poletti/Folhapress FSP-COTIDIANO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
Fachada do Castelinho da rua Apa restaurada
Alberto Nogueira
São Paulo

A seção "Saiu no NP" traz nesta sexta-feira (2) o último capítulo da série "Crimes do Século", que é uma coletânea dos melhores casos do especial homônimo lançado em 1993 pelo jornal "Notícias Populares".

O quarto e derradeiro episódio sobre os assassinatos que marcaram o século 20 conta a história do "vampiro" que matou e bebeu o sangue de várias crianças e do crime do "Castelinho da rua Apa", motivado pela ganância de um filho mimado.

7 - "ENTREVISTA COM O VAMPIRO... DE NITERÓI"

Crédito: Folhapress A história do Vampiro de Niterói foi tema de reportagem do "Notícias Populares" no dia 19 de setembro de 1993
A história do Vampiro de Niterói foi tema de reportagem do "Notícias Populares" no dia 19 de setembro de 1993

Bem diferente do filme "Entrevista com o Vampiro", de 1994, (direção de Neil Jordan e elenco formado por Brad Pitt, Tom Cruise, Kirsten Dunst, Antonio Banderas e Christian Slater), a história de Marcelo da Costa Andrade é tão macabra e doentia que dificilmente seria levada às telas de cinema.

A infância de Marcelo foi complicada. Morador da favela da Rocinha, no Rio, desde muito pequeno sofreu com os maus-tratos dos pais. Quando tinha cinco anos, os mesmos se divorciaram e nenhum deles quis ficar com o menino, que acabou indo morar com os avós paternos, em uma vila de pescadores no Estado do Ceará.

Nem a aparente tranquilidade do local amenizou a vida do garoto, pois lá continuou a sofrer com a violência doméstica, agora praticada por seus novos cuidadores.

O tempo passou, e o garoto voltou ao Rio, morou um tempo com pai e depois com a mãe (ambos se casaram com outras pessoas), mas ainda era tratado com violência e desprezo, a ponto de ser obrigado a comer lixo.

Aos dez anos, ele foi para a rua. Faminto, em busca de alimento, o menino caiu na lábia de um homem mais velho que havia lhe prometido comida. Ele acabou sendo estuprado. A desilusão e o desespero eram tão grandes que ele passou a se prostituir para ganhar dinheiro.

Após tudo isso, o rapaz ainda foi internado em um reformatório. Tempos depois, já mais velho, voltou a morar com a mãe, em Niterói, no Rio. Levava, enfim, uma vida normal. Mas, quando tudo parecia ir bem, uma frase de um pastor em um culto evangélico despertou o assassino que "dormia" dentro dele.

Uma parte do sermão dizia que "toda criança que morre vai para o céu". Foi o estopim para que a mente perturbada de Marcelo mostrasse todo o seu potencial assassino. Daí para a frente, até o dia de sua prisão, ele cometeu 14 assassinatos (as mortes e a prisão ocorreram em 1991).

O lunático, que bebeu o sangue de duas de suas vítimas para, de acordo com ele, "ficar bonito como elas", concedeu entrevista ao repórter Otávio Cabral, do "Notícias Populares", em setembro de 1993. Abaixo, confira trechos da conversa realizada no 76º DP de Niterói.

NP - Quantas crianças matou?

Marcelo da Costa Andrade - Treze

Por quê?

Eu mandava as crianças para o céu

Como assim?

Um pastor me disse que crianças pequenas morriam e iam para o céu. Então eu as mandava para lá.

Como pegava as crianças?

Eu as encontrava pedindo esmola e oferecia dinheiro para elas acenderem velas para o anjo da guarda. A gente ia para um lugar escuro e eu fazia sexo anal com elas. Depois, fazia o processo de mandar elas para o céu.

De quantos garotos bebeu o sangue?

Eu bebi o sangue de dois garotos. Um de cinco anos, que tinha um cabelo bonito, e outro de dez, que tinha as pernas bonitas. Nesse eu dei uma pedrada na cabeça e deixei o sangue cair em uma marmita para eu beber depois.

Como você foi preso?

Conheci dois irmãos em Niterói e chamei eles para acenderem velas pro anjo da guarda. Fomos até a praia. Quando chegamos, entramos em um tubo de esgoto. O mais velho quis fugir, mas eu o derrubei no chão e o estuprei. Também fiz o processo de mandar o mais novo pro céu. Não fiz o mesmo com o mais velho porque gostei muito dele. Eu chamei ele para morar comigo, ele aceitou e fomos até o meu trabalho. Chegando lá ele fugiu e chamou a polícia. Eu estava apaixonado por ele.

 

A Justiça acabou por considerar Marcelo da Costa Andrade como inimputável. Ele foi transferido da delegacia onde estava para um manicômio, onde passaria o resto de seus dias.

8- O CRIME DO CASTELINHO DA RUA APA

Crédito: Folhapress No dia 22 de setembro, o "NP" contou a história do playboy Álvaro César dos Reis, do Castelinho da rua Apa
No dia 22 de setembro, o "NP" contou a história do playboy Álvaro César dos Reis, do Castelinho da rua Apa

O playboy Álvaro César dos Reis é o personagem principal deste último texto do especial "Crimes do Século". Ele foi o responsável por chocar a aristocracia paulistana em 1937.

Álvaro era um homem de 45 anos que só gostava de torrar a grana de seu finado pai com festas, mulheres e viagens. Não trabalhava e não se importava com isso.

Sua família, composta por seu irmão mais novo, Armando, 42, e sua mãe, Maria, morava em um pequeno castelo na rua Apa, 236, no bairro de Campos Elíseos, na região central de SP.

Diferentemente do irmão mais velho, Armando era muito trabalhador e vivia recriminando o jeito de ser do playboy. A mãe fazia o mesmo e vivia lembrando o filho do quanto o seu falecido marido era trabalhador.

Como Álvaro vivia pelo mundo gastando o dinheiro do pai, em uma de suas viagens a Paris ficou encantado com os salões de patinação no gelo e as mulheres que ali patinavam.

Ao voltar ao Brasil, ele colocou na cabeça a ideia de montar um ringue de patinação com o nome de "Palácio do Gelo". Chegou, inclusive, a escolher o terreno do Cine Broadway, na avenida São João, como o lugar perfeito para seu empreendimento.

Porém, sua mãe e seu irmão foram contra sua invenção. A partir daí, a vida deles virou um inferno, pois o "filhinho de papai" não admitia receber um "não" como resposta.

Ele tentou de todas as formas convencê-los. Chorou, gritou, deu chilique. Mas, mesmo assim, seus familiares não cederam.

Álvaro chegou até a pegar uma arma e colocar na própria cabeça, mas foi impedido pelo irmão. Revoltado, sumiu de casa por algum tempo.

O rapaz de jeito nenhum tirava da cabeça o seu projeto de trazer uma pista de patinação no gelo para São Paulo.

Em 12 de março de 1937, ele voltou para casa armado e ameaçou sua família. Seu irmão e sua mãe pensaram que era mais um blefe, outra de suas tramoias para conseguir o que queria. Novamente, ele não foi atendido.

Transtornado, Álvaro disse ao irmão que ele seria o primeiro a morrer. Foi então que disparou, mas a mãe dos rapazes entrou no meio e acabou alvejada com três tiros.

Apavorado, Armando tentou fugir. Acuado em um canto do escritório, lutou com Álvaro, mas acabou morto de forma impiedosa.

O caminho estava livre para o assassino dar sequência ao seu plano de construir o ringue de patinação. Só que o peso em sua consciência foi imediato e brutal. Com a mesma arma que matou a família, Álvaro se suicidou.

O Castelinho da rua Apa passou a ser disputado pelos demais parentes do trio de mortos, mas uma lei assinada pelo então presidente Getúlio Vargas impediu os sobrinhos da ex-proprietária de ter acesso a qualquer tipo de herança. Assim, o local passou a ser propriedade da União.

Por anos o ex-lar da família levou a fama de ser amaldiçoado. O local passou a ser habitado por caseiros e, depois de abandonado, foi ocupado por moradores de rua.

A ação de vândalos e do próprio tempo fizeram com que o lugar se transformasse em ruínas.

Em 1997, a ONG Clube de Mães do Brasil, que trabalha na profissionalização de ex-moradores de rua, ganhou da União o direito de usar o terreno.

No ano de 2004, o imóvel foi tombado pelo Conpresp, e, em 2011, foi aprovado projeto de restauração do prédio. No ano seguinte, decisão judicial era aguardada para que o restauro fosse bancado pela União, enquanto a ONG tentava verba privada para tal.

O Castelinho da rua Apa, sob administração do Clube de Mães do Brasil, foi inaugurado em abril de 2017 pelo governador Geraldo Alckmin e pelo prefeito João Doria.

 

Estes foram os últimos casos do especial sobre os crimes que abalaram o século 20. Você pode conferir os capítulos anteriores em:

Capítulo 1 - O Crime da Mala e O Massacre da Linda Atriz (Charles Manson);

Capítulo 2 - O Canibal Americano e O Ceifador;

Capítulo 3 - Pogo, O Palhaço Assassino e O Massacre no Restaurante Chinês.

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