Andanças na metrópole

As camadas de história encobertas em construções, ruínas e paisagens

Andanças na metrópole - Vicente Vilardaga
Vicente Vilardaga

Marsilac, o bairro mais remoto de São Paulo

Localidade no sul da capital fica a 53 km do centro e abriga aldeias indígenas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Marsilac é um lugar lendário. É uma imensa zona rural localizada dentro da metrópole, de onde, de alguns mirantes, se consegue ver o mar. É a prova de que natureza resiste na cidade. O bairro mais remoto de São Paulo fica a 53 km do centro e a 15 km do litoral. A partir dele se alcança, por trilhas, as praias da Baixada Santista. O lugar faz parte do Polo de Ecoturismo da capital, que reúne também Parelheiros e a Ilha do Bororé e sua área total corresponde a 1/8 do território de São Paulo.

Coberta por uma densa floresta de Mata Atlântica na qual se sobressaem espécies como araucárias, quaresmeiras, palmeiras juçara e palmeiras jerivás, Marsilac fez parte, até 1944, do município de São Vicente e hoje pertence ao distrito de Parelheiros. O acesso ao bairro se faz exclusivamente por via rodoviária. A opção de ônibus é a linha 6L01-10, que sai do Terminal Varginha e para no centro da vila.

Linha de trem em Marsilac
Ramal Mairinque-Santos da antiga Estrada de Ferro Sorocabana - Vicente Vilardaga

Nem sempre foi assim. A localidade surgiu às margens da estrada de ferro Sorocabana, no ramal Mairinque-Santos, inaugurado em 1937, que atualmente só funciona para o transporte de cargas e é administrado pela Rumo Logística. Mas até 1975 havia também transporte de passageiros servidos por três estações na região: Rio de Campos, Evangelista de Souza e Engenheiro Marsilac, que inicialmente se chamava Emburá.

O próprio nome do lugar acabou sendo uma homenagem ao engenheiro que dá nome à estação, chamado José Alfredo de Marsillac, que desenvolveu técnicas inovadoras de construção de estradas e túneis apesar de ter perdido quase toda visão com um estilhaço de granada que atingiu seus olhos na Revolução de 1932

Com clima subtropical úmido, Marsilac está dentro da Área de Proteção Ambiental Capivari-Monos e é o local que registra as menores temperaturas mínimas e máximas da capital. No inverno, sua temperatura média é de 9 graus Celsius, baixando com frequência para 5 graus Celsius. Em algumas ocasiões registra temperaturas abaixo de zero. No verão o clima é ameno e os termômetros raramente marcam 30 graus Celsius. A primavera e o verão são chuvosos, mas o inverno tem pouca precipitação.

Família guarani
Família guarani que vive nas imediações da vila de Marsilac - Vicente Vilardaga

A localidade tem cerca de 10 mil habitantes, grande parte deles morando na zona rural. Conta com uma população indígena guarani estimada em 2 mil pessoas, parte concentrada na aldeia Tekoa Yrexakã e o restante distribuído em outras seis aldeias: Kalipety, Guyrapaju, Kuaray Rexalã, Karumbe'y, Pai Matias e Venturaoikoa, que compõem a terra indígena Tenondé Porã (Futuro melhor). Há também pequenos grupos dispersos em torno da área urbanizada do bairro.

A Tekoa Yrexakã – tekoa significa espaço, lugar ancestral – está localizada a dois quilômetros da cachoeira de Marsilac, e só é possível acessá-la a pé. A aldeia oferece uma programação de ecoturismo que inclui realização de trilhas, palestra sobre a cultura guarani, degustação de comida tradicional, apresentação do coral da aldeia e participação em jogos guaranis, além de exposição e venda de artesanato.

Rua de Marsilac
Rua de Marsilac: lugarejo interiorano e sem infraestrutura turística - Vicente Vilardaga

Em torno da vila há várias cachoeiras, como a de Marsilac, situada no rio Capivari, a 5 Km do centrinho, a Cachoeira de Marsilac, a Cachoeira do Sagui, a Cachoeira do Jamil, na confluência do Rio Capivari com o Monos, e a Cachoeira São Manoel, que fica a 2,9 Km do bairro. Todas com águas cristalinas e algumas situadas em terrenos privados. Outro atrativo turístico local é o Borboletário de São Paulo, com 2 mil exemplares e onze espécies. Tem bons equipamentos para receber os visitantes e é o maior borboletário privado do Brasil.

Embora esteja repleta de atrações turísticas, a vila de Marsilac não conta com uma infraestrutura de acolhimento ao visitante, como bares e restaurantes, e nem com infraestrutura de esgoto e água tratada. Num dia normal, quem quiser comer um PF por ali precisará ir, invariavelmente, no Bar do Coxinha, o único que fica aberto no almoço. O centro do bairro é desprovido de qualquer comércio. Marsilac é um lugar primitivo e longe do mundo, um vilarejo acanhado que parece ter parado no tempo. Mas é lindo.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.