Andanças na metrópole

As camadas de história encobertas em construções, ruínas e paisagens

Andanças na metrópole - Vicente Vilardaga
Vicente Vilardaga

A orquestra Magnífica se une à dança circular

Coletivo de artistas de várias profissões faz espetáculo vibrante e multiétnico

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São Paulo

O espaço era perfeito: o centro comunitário União Fraterna, na rua Guaicurus, na Lapa. Trata-se de um marco arquitetônico paulistano e um local histórico, com salão amplo para festas e bailes, que acaba de completar 90 anos de existência. É o que se chama de uma associação mutualista, na qual as pessoas se auxiliam reciprocamente com objetivos de segurança social e saúde. Foi fundada por famílias italianas.

Na última sexta-feira houve ali uma apresentação d'A Magnífica Orchestra de Músicas do Mundo, um dos projetos musicais mais interessantes de São Paulo, com um repertório multiétnico e um espírito de integração dos povos do planeta. Cheguei no União Fraterna sem saber exatamente o que iria encontrar. O espaço estava lotado, principalmente de mulheres de meia-idade, e parecia estar sendo preparado para uma festa. Fiquei impressionado com a beleza do interior do edifício, maravilhosamente preservado e com uma banda com cerca de 50 integrantes se formando no palco, todos vestindo roupas coloridas.

União Fraterna
Prédio histórico do União Fraterna, na Lapa: associação mutualista com 90 anos de existência

A orquestra Magnífica surgiu em 2018, há seis anos, quando o arranjador e compositor Gabriel Levy começou a ministrar um curso de músicas do mundo no Espaço Musical Ricardo Breim. No início eram oito pessoas, mas o número de alunos subiu para 43 em 2020. Atualmente há 80 alunos divididos em duas turmas. Regente da orquestra, Levy diz que os critérios para seleção do repertório são, primeiro, que a música tenha alguma singularidade cultural e conexão com as tradições e, segundo, que seja didática, sem alta complexidade e permita às pessoas comuns realizá-la.

Sentia-me ainda deslocado e sem saber como aconteceria o espetáculo. Tinha a informação de que haveria uma dança e fique preocupado com minha falta de habilidade. As dúvidas se dissiparam quando a orquestra começou a tocar. Com a orientação de Perel, rodas começaram a ser formadas no centro do salão e as pessoas deram as mãos. Imediatamente senti uma sensação de acolhimento e eliminei as ideias preconcebidas da minha cabeça. Conclui que estava num lugar de celebração.

Orquestra
A Magnífica Orchestra de Músicas do Mundo: repertório multiétnico e mais de 80 integrantes

O espetáculo de sexta no União Fraterna foi único e feito em parceria com um grupo comunitário chamado Aldeia Nueva Tierra, liderado pelo psicólogo e professor de dança Bruno Perel. A coreografia circular funciona como uma meditação em movimento e é hoje um fenômeno mundial. As pessoas se unem para ficar de mãos dadas e respirar juntas, numa experiência de sociabilidade e elevação espiritual.

Formada por músicos e cantores, quase sempre profissionais de outras áreas, a Magnífica busca seu repertório com gente de diferentes origens, imigrantes, refugiados, artistas estrangeiros que passam pelo Brasil e, às vezes, com brasileiros especialistas em alguma cultura do mundo. A orquestra funciona como um coletivo de artistas e recupera músicas ancestrais de diversos povos. Em alguns momentos se ouve uma música do Japão, em outros, da Índia. Mas há composições de lugares como Macedônia, Afeganistão, Portugal, Congo, Líbano e também do Brasil.

Dança
A dança circular é como uma meditação em movimento e remete à tradição de povos ancentrais

A dança faz parte das apresentações da Magnífica, não necessariamente a circular. "A gente sempre convoca a plateia para dançar e participar com o corpo", diz Levy. "A dança tem muito a ver com as culturas tradicionais." Segundo ele, o objetivo é colocar o espectador dentro da cena. O público, explica, entra numa comunidade de brincantes e não apenas assiste o espetáculo. "Não tem dentro e fora, está todo mundo dentro, não há palco e plateia, todo mundo é palco", afirma.

Na dança circular as pessoas ficavam de mãos dadas em torno de Perel, que dava explicações sobre os movimentos de pernas e braços que deveriam ser feitos. Embora não fossem tão complexos eu me confundia diversas vezes e procurava, pelo menos, manter o ritmo do baile. Não queria atrapalhar meus parceiros ou interromper o andamento da roda. Observava os passos de quem estava à minha frente e, de forma desajeitada, tentava copiá-los. Acho que fui bem. Não importa. Foi uma experiência instrutiva e divertida.

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