Jairo Marques

Assim como você

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Jairo Marques
Descrição de chapéu pessoa com deficiência

O que a Madonna tem a ver com a invisibilidade da deficiência?

Historicamente, ficar em pé, como cobrou a cantora, remete ao bíblico, ao cívico, ao fálico e ao militar

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São Paulo

No meio da galera que se agitava, em pé, durante um show, nos EUA, um homem cadeirante se sacolejava, sentado, a sua maneira, e chamou a atenção da megaestrela pop Madonna. Irritada ao ver a dissintonia do rapaz diante de seu formigueiro de fãs, ela pede, em tom de bronca, para que ele se levante.

A diva percebeu logo o que chamou de atitude "politicamente incorreta", pediu desculpas pelo que foi considerado uma gafe e tocou o barco de sucessos. "Comigo, Los Angeles!".

Madonna calou-se sobre sua ignorância com um aspecto da diversidade, algo que ela defende com atitudes, propaganda e marketing pessoal em vários canais. Madonna torna cristalino mundo afora a invisibilidade de quem tem condições físicas, sensoriais e intelectuais diferentes.

A cantora, que tanto faz ao mundo pelas liberdades de gênero –em discurso recente que se propagou pelas internets falou sobre empoderamento feminino– cobrava de alguém o respeito simbolizado pelo ficar em pé.

Historicamente, erguer-se em rigidez vertical remete ao bíblico –levanta-te e anda—, ao respeito cívico–todos em pé para o hino nacional—, ao fálico –aqui fica a seu sabor imaginar— e ao militar –batendo continência. Estranho demais ver Madonna cobrando isso de alguém.

E esse debate não tem nada a ver com exigir uma postura politicamente correta a respeito das diferenças de ser, como a própria cantora levantou em sua fala de arrependimento.

Trata-se de externar que a caminhada pela pluralidade humana precisa ser realizada de mãos dadas entre os grupos sociais e, nesta jornada, a quem vá correndo e há os que usarão bengala, puxaram cães-guia e lançarão mão de outros apetrechos, trejeitos e necessidades durante a jornada.

Seria interessante que princípios básicos a respeito das dores, das demandas, dos jeitos e das belezas de ser fora das cartilhas do comum, do time que está ganhando, fossem comungados por todo o mundo que quer mais preto, mais índio, mais mulher, mais LGBTQIA+, mais velhos, mais pobres em todos os lugares.

Há anos martelo que as personalidades praticamente ignoram que exista gente com deficiência ativa em sociedade, que curte a vida, que vai ao cinema, a festivais e a rega-bofes.

Os problemas de acessibilidade em eventos se avolumam à medida que o povo quebrado e outros diferentões ganham dignidade –e dinheiro— e passam a sair de casa. Os artistas têm responsabilidades, sim, na mudança disso, cobrando produtores, casas de espetáculo e tudo mais.

Madonna achou estranho –outros também achariam— que alguém poderia estar sentado em seu show em vez de celebrar que sua arte atrai gente que nem liga de ser esmagado e ter pouquíssima visão de palco assistindo ao espetáculo em uma cadeira de rodas.

Na imensa revisão de valores que se passa a limpo por estes tempos, pode ser legal colocar na fila esse tal de "ficar em pé" e ter como prerrogativa de inclusão e diversidade que somos múltiplos em gênero, raça, idade, deficiência...

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