Falsas campanhas de pessoas com câncer e outras doenças desafiadoras pedindo ajuda nas redes sociais; uso de imagens de catástrofes para enganar e arrecadar dinheiro para criminosos; vaquinhas online mascarando causas nobres, de auxílio a quem muito necessita, mas com finalidade desviada, ludibriando doadores e prejudicando ainda mais quem passa por apuros de vida.
Os bandos inescrupulosos sempre estiveram à espreita da solidariedade, sempre orbitaram gente de boa-fé atrás de recursos que poderiam salvar, mas que são desviados. A atualidade, porém, colocou a questão em um nível que abandona o residual dos golpes de esquina e ganha proporções de milhões desviados, de gente surrupiada e realidades trituradas.
O compartilhamento de informações, imagens, depoimentos e detalhes a respeito das agruras de existir feito nas plataformas digitais criou um celeiro poderoso para que gente de má-fé tivesse argumentos, apelos e carga emocional suficientes para ludibriar milhares.
O requinte da Inteligência Artificial, que tem o poder de entregar a linguagem ao gosto do freguês, de dar argumentos rebuscados a quaisquer causas, turbinou o potencial de enganação. Isso sem falar da geração de imagens comoventes, compostas com montagens de fotografias dos falsários. É só clicar, doar e ser lesado.
Perguntei ao ChatGPT, uma das ferramentas de IA, se ele não tinha vergonha disso e como ele mesmo poderia contornar a situação. No que a ferramenta respondeu:
"Embora a IA possa ser utilizada para o mal, ela também tem um grande potencial para combater fraudes e proteger a solidariedade. Ao combinar esforços tecnológicos com a conscientização pública, é possível minimizar os riscos e garantir que a generosidade das pessoas seja direcionada para as causas certas."
A ferramenta também sugeriu que seja usada para a verificação de documentos e dados utilizados nas campanhas, para educar as pessoas por meio de materiais educativos que identifiquem falsas publicações, para monitorar redes sociais e sites de arrecadação em busca de padrões de fraudes e, também, ser aplicada para externar e exigir transparência de organizadores das campanhas. Achei que foi bem na resposta.
Acrescento: ter alguma proximidade com a causa ou pessoa a ser auxiliada, checar antecedentes de quem está pedindo ajuda, acompanhar o destino da doação e denunciar ao menor sinal de desacerto.
A vaca fria de tudo isso é que, no aperto, é legítimo e até esperado jogar boias ao mar, apelar ao outro para colaborar com alívio de dores profundas, com novas rotas para trajetórias tortuosas e até desesperadoras.
É totalmente humano pedir ajuda num deserto de esperanças, de fé e de apoios. É totalmente humano compartilhar o que se tem, fazer pelo outro, dirimir sofrimentos atendendo a um apelo que sacode a alma da gente, a nossa vontade de carregar junto.
No confronto entre o gosto vil de ser feito de trouxa, cair num golpe com a sofisticação de explorar o sabor do espírito nobre do ser solidário e a delicadeza que edifica, que projeta para dias melhores, de alívio, de novos sorrisos, a força da compaixão e da razão hão de sair vitoriosas.
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