Café na Prensa

Tudo sobre a bebida, do grão à xícara

Café na Prensa - David Lucena
David Lucena

Café do cerrado mineiro tenta fortalecer marca com jovens agricultores focados em qualidade

Região foi a primeira do Brasil a ser reconhecida com selo de indicação geográfica

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cerrado Mineiro

Cinco décadas após o início da cafeicultura no cerrado mineiro, novas gerações de agricultores tentam romper com práticas agrícolas tradicionais de olho no mercado de cafés especiais –que cresce em ritmo muito mais acelerado do que o tradicional– e na consequente valorização do produto.

Até poucos anos atrás, a cafeicultura era quase inteiramente voltada para o chamado café commodity –aquele de qualidade inferior. Recentemente, filhos de fazendeiros tradicionais da região começaram a atentar para o crescimento veloz do segmento gourmet e começaram a testar manejos com foco na qualidade.

A imagem mostra um grande campo coberto por café, secando ao sol. O céu está limpo e azul, e ao fundo há uma torre de transmissão e algumas árvores. O campo é delimitado por uma estrada de asfalto.
Cafeicultura no cerrado de MG aposta na gourmetização e já coleciona prêmios - David Lucena/Folhapress

Com isso, viram os cafés conquistarem prêmios e, consequentemente, atrairem maior visibilidade de compradores internacionais, o que faz com que consigam comercializar os produtos por valores muito acima da média.

É o caso de Gabriel Nunes, 34. Formado em agronomia pela Universidade Federal de Viçosa, ele é um dos responsáveis pelo salto de qualidade da fazenda da família, cujo foco é o mercado externo. Cerca de 80% da produção da fazenda é exportada e tem como destino principalmente países da Europa e Estados Unidos, Rússia, Austrália, Japão e Coreia do Sul.

Muitos dos lotes são vendidos diretamente para torrefações conceituadas de vários lugares do mundo. A renomada cafeteria Proud Mary, com unidades nos Estados Unidos e na Austrália, é uma delas. Especializada em cafés raros e premiados, a empresa inclusive visita a fazenda de Nunes para conhecer in loco os cafés que estão sendo cultivados.

Em 2017, a Nunes Coffee venceu a edição brasileira do Cup of Excellence, concurso de qualidade mais importante do setor, considerado o ‘Oscar’ dos cafés. Foi a primeira grande conquista da região. Desde então, a cafeicultura do cerrado conquistou outros prêmios e ganhou visibilidade no segmento gourmet.

A mudança de perfil não é algo acidental, mas um projeto coordenado. De olho na expansão da gourmetização, a Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro investe em um plano de valorização do terroir por meio de campanhas que envolvem até um selo de denominação de origem.

A região foi a primeira área produtora de café do Brasil cujo grão é reconhecido como uma indicação geográfica (IG).

As IGs consistem em um selo –que no Brasil é conferido pelo INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial)– que reconhece uma região célebre pela produção de determinado produto.

Ela pode ser uma indicação de procedência (IP), que apenas delimita a região que tenha se tornado conhecida como centro de produção, ou denominação de origem (DO), que designa um produto cujas qualidades se devam ao meio geográfico.


CERRADO MINEIRO EM NÚMEROS

  • 234 mil hectares
  • 6 milhões de sacas produzidas anualmente
  • 55 municípios
  • 4.500 produtores
  • 12,7% da produção brasileira
  • 25,4% da produção de Minas Gerais

Dados: Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro


Essa última, de obtenção mais difícil, é o que ocorre na Europa com o espumante da região de Champagne, na França, ou os queijos parmigiano reggiano, na Itália.

Desde 2013, o café do cerrado mineiro é protegido por um selo de denominação de origem.

Em julho, os cafeicultores da região lançaram uma campanha contra fraudes na declaração da origem. Isto porque há casos em que empresas informam na embalagem que o café é do cerrado mineiro, quando na verdade vende um blend com grãos de outras origens.

Segundo Juliano Tarabal, diretor executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, o selo, ao certificar que o produto veio daquela região, não apenas garante a qualidade –ou seja, que o café terá os atributos sensoriais típicos daquele terroir– como também protege o produtor, a cultura e as tradições locais.

A área contemplada pela denominação de origem engloba cerca de 4.500 produtores de 55 municípios, como Patrocínio, Araxá, Patos de Minas, Monte Carmelo, Campos Altos, Coromandel e Uberlândia, entre outros.

O jornalista viajou a convite da Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro.

Acompanhe o Café na Prensa no Instagram @davidmclucena e no X (ex-Twitter) @davidlucena

Qual assunto você gostaria de ver aqui no blog? Envie sugestões para david.lucena@folhapress.com.br

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.